Suicida

By Camilo Castelo Branco

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Title: Suicida

Author: Camilo Castelo Branco

Release Date: January 17, 2008 [EBook #24339]

Language: Portuguese


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SUICIDA


  PORTO
  Typographia de A. J. da Silva Teixeira
  Cancella Velha, 63
  1880



Camillo Castello Branco


SUICIDA


    Cada suicida é um poema sublime de melancolia.

                                           Balzac.




  Livraria Internacional
  de
  Ernesto Chardron, Editor
  PORTO E BRAGA
  1880




ELISA LOEVE-WEIMAR


A senhora, que teve este nome, suicidou-se com um tiro, no Porto, no dia
30 do mez passado[1].

D'entre os meus escriptos de ha doze annos reproduzo um que a toda gente,
com certeza, esqueceu, tirante o coração d'aquella que hoje é morta.

Dizia assim:

A Formosa das Violetas

Julio Janin, no folhetim do _Jornal dos Debates_ de 30 de março do corrente
anno (1863), escreveu o seguinte: «No anno da graça de 1836, o mez de abril
correu aprazivel e delicioso; e no mez de maio resoaram canções que farte.
Ora, a ponto de expirar o mavioso abril e repontar o maio (apenas são
volvidos vinte e sete annos e tres revoluções!) as turbas afanadas e
curiosas acotovelavam-se no vestibulo do theatro da _Porte-Saint-Martim_. O
já então popular e glorificado author de HENRIQUE III, de ANTONY, de
RICARDO DE ARLINGTON, da TORRE DE NESLE e de ANGELO, n'aquella noite,
puzera em scena um mysterio em que figuravam anjos e demonios. Agrupados á
porta do theatro, muitos rapazes d'aquelle tempo cediam o passo á multidão
azafamada, divertiam-se a vêl-a enthusiasmada, e notavam os homens
conhecidos, os homens celebres, uns no começo, outros no termo da sua
carreira. Eis senão quando todos os olhos convergiram sobre um soberbissimo
trem, uma berlinda de Erhler, ajaezada á Brune, e tirada por uma parelha de
enormes urcos inglezes, sahidos das cavallariças de _madame la Dauphine_.
Um espadaúdo cocheiro, e um alentado hungaro de sete palmos de altura,
afóra o pennacho, todo broslado de galões de ouro, completavam a equipagem
que parou de súbito á porta do theatro. E, aberta logo pelo _keiduque_ a
portinhola, cahidos estrondosamente os degraus da berlinda, vimos apear um
elegante moço.

«Não tinha ainda trinta annos; vestia com requintado esmero; gravata branca
e luvas amarellas; estatura corpulenta e formosamente conformada;
cabelleira clamistrada; bocca um tanto grande, mas graciosa; olhar ardente,
e altiva compostura no aspecto. No braço do mancebo apoiava-se a leve mão
de uma senhora, juvenil como elle, anciosa de volitar por sobre o espaço
intermedio. Que linda ella estava com o seu vestido de primavera! Violetas
na mão, violetas como adorno no chapéo de palha, ondulante faxa a
tira-collo, calçada com extremada perfeição de botinas gaspeadas de
cinzento e escarlate. Formosa e esbelta a mais não ser! A impaciencia
tirava por ella; e o irmão caminhava a passo mesurado, com aquelles ares de
homem que em si escuta a fada benigna da suprema fortuna. Exornavam o peito
do cavalheiro as mais variegadas côres da pedraria dos ornatos e
condecorações. Era barão em França, marquez em Hespanha[2], e socio do club
dos fidalgos florentinos. Contava-se--e era verdade--que o somenos
utensilio dos seus aposentos era de ouro: o seu lavatorio era de ouro
armoreado, e dourada a sua camara. E, todavia, creiam-me, se quizerem: a
sensação que nos causou foi a da admiração sympathica; inveja, não. N'esta
França, attenta e alheada nos apparecimentos de cada dia, taes como, de
manhã, AS ORIENTAES, depois A CARNAGEM DE MISSOLONGHI de Eugenio de
Lacroix; ao meio dia, os discursos de Thiers; á noite, a opera de
Meyerbeer; no dia seguinte, um romance de Balzac, uma canção de Alfredo de
Musset,--entre nós, aquelle mancebo tinha, de pouco, revelado Hoffmann e os
seus contos. Escrevia elle rapido, pouco e bem. Sabia inglez como um
diplomata, e allemão como um philosopho. Pertencia n'aquelle tempo á
nascente redacção do _Jornal dos Debates_, e chamava-se LOEVE-WEIMAR».

Até aqui Julio Janin.

      *     *     *     *     *

Nos arrabaldes de Londres, em uma quinta de delicias, quantas póde imitar
da natureza a arte britannica, vivia, n'aquelle tempo, um portuguez que a
intolerancia politica expatriára em 1828. A fortuna commercial dava-lhe
desvelados amigos para o espirito, optimos convivas para a mesa e gentis
mulheres para o coração. O nosso patricio, encarreirado prosperamente no
trafico mercantil, assentou que lhe era dever acudir aos desterrados
pobres; e assim, quantos portuguezes se soccorriam de sua valia encontraram
franco e inexhaurivel aquelle coração de ouro, e o ouro das suas gavetas.
Os convivas habituaes da sua mesa eram um jurisconsulto dos mais celebrados
em Londres, e um portuguez de excellentes qualidades, nosso ministro
actualmente na côrte de Madrid[3].

Um dia, porém, os contubernaes sahiram do encantador abrigo do emigrado,
porque eram de mais em alegrias, cuja dôce poesia está no resguardo e
recolhimento de dous. O portuguez fôra o preferido d'aquella «formosa das
violetas» que Julio Janin relembra no seu folhetim. M.^elle Elisa
Loeve-Weimar, a irmã do nacionalisador de Hoffmann em França, do barão, do
marquez, do fidalgo florentino, casára com o nosso patricio, que era então
um rapaz alegre como a felicidade, descuidado do futuro como criança a
brincar entre flôres, todo expansibilidade em olhos e palavras do muito bem
querer que lhe exuberava do coração.

Coração e nome são ainda os mesmos n'aquelle homem, vinte e sete annos
depois. Porém, ha de reconhecer-se hoje o festejado e amado noivo da irmã
de Loeve-Weimar n'aquelles cabellos brancos e fronte avincada do jornalista
portuense? Aqui vol-o apresento agora: estendei a mão áquella mão liberal
que muitos infelizes beijaram. Abraçai José Joaquim Gonçalves Basto, e
sentireis pulsar o melhor e mais infeliz dos corações!

      *     *     *     *     *

_Infeliz!..._ Com tão prospera monção ao entrar em bonançoso mar? Amado por
aquella peregrina dama, cujo espirito cultivado em Paris e Londres competia
com a distincção da belleza?

Infeliz, sim, e porque não? A desgraça, quando colhe de sobresalto os seus
predilectos, quebra os elos da corrente que parecia forjada por esforço de
virtudes domesticas para os duradouros contentamentos do amor. Compraz-se
ella em abater e rasourar ao nivel das baixas condições os mais altos
espiritos.

Gonçalves Basto, decorridos dous annos de esposo e pai, foi vencido na
lucta com imprevistas calamidades commerciaes. Empobreceu. Sahiu de
Inglaterra, e repatriou-se com a sua familia. De repente, e o mais
logicamente que o puderam fazer, os amigos desampararam-o, desobrigando-se
da divida, esquecendo o credor. Permaneceu, com tudo, leal no infortunio um
que se mantivera desprendido na prosperidade: era José Vieira de Carvalho,
moço portuense abastado, instruido e bom. Deliberára Vieira fundar um
jornal de parceria com Antonio Bernardo Ferreira, e com o actual deputado e
integerrimo caracter, o snr. Joaquim Ribeiro de Faria Guimarães[4].
Fundaram a _Coalisão_, cuja redacção e responsabilidade aceitou Gonçalves
Basto. Os proprietarios, porém, a pouco e pouco se desligaram de
compromissos, declinando sobre o redactor o encargo de sustentar
intellectual e materialmente o jornal. Gonçalves Basto, extincta a
_Coalisão_, fundou o _Nacional_, faz hoje dezoito annos.

Entretanto, José Vieira, rico e celibatario, antevendo o proximo termo da
vida, annuncia que a sorte dos filhos de Gonçalves Basto está segura nos
seus haveres. Morre em Paris, e o testamento é roubado em beneficio de
parentes remotos.

Na contra-revolução de 1846, Gonçalves Basto, ao serviço da Junta do Porto,
foi nomeado commandante d'um batalhão de artistas. Reprime a indisciplina,
e dá no campo o exemplo da coragem um tanto insubordinada, porque
espingardeava os hespanhoes que transpunham as fronteiras do norte, quando
a Junta lhe ordenára que respeitasse a intervenção. E, n'este entretanto, a
familia do jornalista, esposa e tres filhos, bellissimas e adoraveis
crianças, viviam da gratificação mensal do commandante: _Dez mil
reis_.....................................

      *     *     *     *     *

José Joaquim Gonçalves Basto envelheceu cortado de lancinantes dôres;
porém, duas vezes tão sómente lhe vi o rosto lavado de lagrimas: foi ao
resvalarem-lhe dos braços á sepultura dous filhos. A pobreza cerra-o de
perto ha quinze annos; e elle como que tem minas de diamantes na mais
risonha philosophia que ainda vi! É sempre com um sorriso que vos elle diz:
«Não tenho nada». A desgraça tem d'estes sorrisos que são, a dentro do
peito, unhas de ferro.

E ella, a «formosa das violetas,» de 1836, a irmã do barão em França, do
fidalgo em Florença e do marquez em Hespanha? Elisa Loeve-Weimar vai,
algumas vezes, ao cemiterio da Foz, onde vicejam umas flôres plantadas por
sua mão sobre a sepultura de um dos seus filhos. Alli, de certo lhe
esquecem as pompas e as vaidades de sua brilhante mocidade. Aquelle cômoro
de terra separa esta mãi das gloriosas presumpçoes da irmã do fastuoso
litterato, da formosa que o principe dos folhetinistas francezes recordava
vinte e sete annos depois com as calorosas expressões d'uma saudade que
parece o reflexo do amor. Que tem que vêr no cemiterio da Foz aquella Nióbe
com a sua belleza preconisada em Paris? Ai! formosura! flôr d'um dia,
queimada pelo gear de uma noite! E tu, talento! flamma esplendente que mais
nos cerras a escuridão, quando nos não alumias a vereda por onde o
infortunio nos assalta! Ó santa de todas as dôres de mulher que é mãi! quem
saberá contar as cruzes do teu calvario? quaes almas, sequer, se inquietam,
pensando o que foste, o que és, e que paragem final te assignalou o
destino!

      *     *     *     *     *

Meu caro Basto, releva ao teu amigo de dezeseis annos o vir elle dizer dos
teus infortunios em face d'uma gente que os ha de lêr por ser isto em
folhetim e ageitado á guisa de romance. Quando entrei n'esta vida dolorosa
das letras, achei-me comtigo. Encontrei-te n'este tormento de Sisypho e ahi
te vejo ainda agora a rolar o penedo. Se ás vezes paras um instante na
ladeira, é para contemplares como a estupidez e a infamia trazem
avassallados os fiscaes da republica, e como elles galgam arreiados de
placas e fitas, em quanto tu vaes descendo á margem do rio da morte,
olhando em ti, e antevendo próximo o dia em que não terás um pão para
repartir com tua familia. Ha trinta annos que esperas e trabalhas por
affecto á patria e por forçada violencia de operario d'esta galé. Deves ter
desmaios de angustia quando em ti reparas e não vês homem que possa
dizer-te: «Soffri e lidei tanto como tu, e recebi dos governos do meu paiz
a retribuição de igual desprezo». Lucta, meu amigo; e, quando mais não
puderes, vinga-te morrendo como o soldado do padre Vieira, e vai saber nos
segredos da divina Providencia que mal devias fazer à patria e aos teus
concidadãos para que elles te beneficiassem».

      *     *     *     *     *

Algum tempo depois, José Joaquim Gonçalves Basto, quando o circulo de ferro
da penuria se apertava, encontrou a mão poderosa de um ministro que lh'o
partiu. A salvadora chamava-se a _Justiça_, e o ministro era o snr. Fontes
Pereira de Mello.

      *     *     *     *     *

Ora, como em 30 de setembro d'este anno se suicidasse, no Porto, com um
tiro, a minha «formosa das violetas», pareceu-me apropositada a ampliação e
complemento do meu folhetim de 1863.

Elisa Weimar nasceu em Paris em 1805. O barão Nemi Loeve-Weimar, seu pai,
era allemão, oriundo de israelitas. Exercera funcções importantes na côrte
de Luiz XVIII. Em 1814, quando o exercito prussiano infestou o territorio
francez, a familia Loeve-Weimar retirou para Hamburgo. O futuro
nacionalisador de Hoffmann seguiu alguns annos a carreira commercial;
depois, apostatou do judaismo, converteu-se á fé catholica, e regressou a
Paris, ao mesmo tempo que M.^elle Elisa foi completar em Londres a sua
educação litteraria.

Conhecedor dos idiomas e litteraturas do norte, o moço escriptor alistou-se
vantajosamente de par com os litteratos de mais voga. Entrou seguidamente
na redacção do _Album_, da _Revue encyclopedique_ e do _Figaro_. Muitos
livros allemães desconhecidos em França trasladou-os elle com estylo
seductor; e da litteratura d'além-Rheno publicou em 1826 um compendio.
Traduziu depois, com excellente exito, romances de Vander-Velde, CONTOS de
Zschokke, de que auferiu renome e dinheiro a granel. Na _Revista de Paris_,
cujo fundador foi, publicou novellas e artigos de esthetica. Em 1830
substituiu no _Tempo_ o celebrado Imbert na redacção dos folhetins
theatraes, e excedeu-o na graça mordente e na dicacidade engenhosa. A
pujança do critico era tal que um empresario e director da opera lhe deu
sociedade nos lucros do theatro, a fim de o amaciar e polir com o attrito
do ouro. «É inutil acrescentar, diz um biographo, que, no conceito do
folhetinista, o modo como era dirigida a scena lyrica não deixava nada a
desejar».

Volvido um anno, solicitou-o a _Revista dos dous mundos_ para escrever a
«chronica politica». N'esta ardua missão houve-se com rara fortuna e
dexteridade, flagellando os personagens mais graduados. Os ministros
galardoaram-lhe a satyra, enviando-o diplomaticamente á Russia com uma
missão temporaria e especial ao imperador Nicolau.

Esta enviatura acresceu ás despezas dos negocios estrangeiros 60:000
francos annuaes: era cara a mordaça. Regressando a Paris, foi nomeado
consul de França em Bagdad.

A revolução de 1848 esbulhou da brilhante posição o apostata da republica
mal rebuçada; quando porém Loeve-Weimar chegou demittido a Paris, já a
reacção vingou repôl-o na diplomacia, indemnisando-o da injustiça com o
consulado geral de Caracas (America do Sul). Chegado á capital da republica
de Venezuela, Loeve-Weimar, receando a febre amarella, pediu licença, e
veio a Paris requerer a transferencia para o consulado geral de Lima, que
lhe foi dado.

Preparava-se para a viagem quando a morte o arrebatou em Paris no dia 7 de
novembro de 1854.

Acrescenta o biographo em phrases pouco funerarias: «A morte é de crêr que
o apanhasse com as madeixas encaracoladas em papelotes; porquanto o seu
trajar, o apontado da sua pessoa, e mormente os esmeros que punha na sua
cabelleira loura, lhe haviam sido a constante preoccupação da vida. A tal
respeito, se conta que o primeiro dividendo que recebeu na empresa lyrica,
empregou-o na compra de um vestido completo de velludo escarlate lavrado
que lhe custou 25:000 francos. É o que faria, nem mais nem menos, uma
_lorette!_ Não custa, pois, a crêr que elle, sempre narcisando-se e sempre
_rapaz_, acabasse, já em annos outoniços, por esposar uma estrangeira rica.
Luiz Filippe fizera-o barão. Um dia, deu-lhe na veneta de abrir o seu
brazão de fresca data em um manto de arminho com a corôa de duque; fez-se,
pois, _enducalisar_, mediante dinheiro, pelo governo hespanhol. Afóra as
obras já referidas, deixou SCENAS CONTEMPORANEAS, publicadas com o
pseudonymo de _Comtesse de Chamilly_. O livreiro Ladvocat tambem imprimiu
em 1840, sob o titulo homerico de NÉPENTHÈS, uma selecta de seus artigos de
jornaes e revistas».

Um dos admiradores mais exaltados de Loeve-Weimar foi o insigne Philarète
Chasles, professor do Collegio de França, ha pouco mais d'um anno
fallecido, com reputação europêa. Nos seus ESTUDOS SOBRE A ALLEMANHA NO XIX
SECULO, publicados em 1861, recorda-se de Loeve-Weimar, no capitulo
intitulado _Os tres magos do norte_. Um dos tres magos era o nacionalisador
de Hoffmann.

São estas aproximadamente as palavras de Philarète Chasles: «... Vêde-me
este personagemzinho[5] franzino e louro, gracioso e fino, melodioso e
sardonico, taful, garrido, esbelto, refinadamente casquilho. Casou
romanticamente. Assim se casavam quasi todos os litteratos do nosso tempo.
É Loeve-Weimar, aquelle que escreveu o NÉPENTHÈS, e collaborou na _Revista
dos dous mundos_ com o doutor Véron, Charles Nodier e commigo. Acabou por
ser em Bassora ou Badgad não sei que sultão oriental bochechudo,
pantafaçudo, enojado, somnolento e amodorrado. Este pintalegrete, este
chasqueador, aliás amabilissimo, que foi o adail, o porta-bandeira do motim
litterario de 1815, não nascera para contemplações absortas nem aventuras
grandiosas. O salão do seculo XVIII era a mais frizante moldura da sua vida
e o theatro que mais lhe quadrava à indole. Procedia de Champfort, de
Champcenetz e de Cazzotte. Tinha o desempeno social, o conhecimento dos
homens, a flexibilidade, a solercia. Como _Congrève_, pavoneava-se de não
ser homem de letras. Arreda! Não que a tinta suja os dedos...

«Delatouche introduzira Hoffmann, e Loeve-Weimar nacionalisára-o francez.
Loeve arregaçou os punhos, adelgaçou-lhe as grosserias, recobriu as côres
dubias, encurtou as demasias, elidiu os destemperos, amenisou as asperezas
e recompoz, sob pretexto de versão, um novo Hoffmann, que deu brado em
Paris. Inventou-se então uma palavra para tamanho exito: o _fantastico_...
A França morreu de amores por Hoffmann falsificado por Loeve e apregoado
por Koraff...»

      *     *     *     *     *

Ahi está o que sei do irmão da suicida.

Esta senhora, quando eu a conheci em 1849, mostrava ainda uns traços
esmaecidos de belleza rara. Representava trinta e cinco annos, tinha
quarenta e quatro, e redigia uma folha em francez, cujo titulo me esqueceu.
Collaborava n'esse semanario ameno o consul de França Mr. _d'Estrées_, que
pereceu no naufragio do vapor _Porto_, em 1852. Eram tres os seus filhos,
lindos e louros como ella e como o pai. Gonçalves Basto havia sido um homem
gentilissimo. Dava ares de inglez, e nascera em Cabeceiras de Basto, onde
florece uma raça de homens celtas esculpturaes, e de mulheres fortes, raça
callaica, ás quaes sobejam as exigencias musculosas da estatuaria.

N'aquelle tempo, ouvi dizer que a paz domestica do proprietario e
collaborador do _Nacional_ não era invejavel. De feito, Gonçalves Basto
alimentava-se nos _restaurantes_, desculpando a irregularidade insalubre e
estouvanada d'este viver parisiense com a faina jornalistica.

Elisa era mãi extremosa. Quando lhe morreu o terceiro genito, a criança
mais angelical que ainda vi--uma menina de nove annos,--a mãi, n'um impeto
de desvario, fugiu para a Foz com os outros dous filhos, e alfaiou
elegantemente uma casinha contigua ao cemiterio, que então se andava
construindo. Uma das primeiras lapides que alli se assentaram cobriu o
cadaver d'um dos dous filhos. Este menino, se bem me recordo, era afilhado
de Lamartine.

Visitei com frequencia esta senhora n'esse anno de luto e desesperação. Era
solidamente instruida. Lia os livros portuguezes com rara intelligencia.
Achava os romances peninsulares fastidiosos como a CÔRTE NA ALDÊA de
Rodrigues Lobo. Dizia que nós apenas tinhamos um céo azul com uma bonita
lua, e na terra muitas flôres e ribeiros crystallinos que nos inspirassem;
mas que o romancista carece de sociedade viva, com as suas boas e ruins
paixões. E acrescentava que Portugal era geographicamente obrigado a ser um
alfobre de lyristas.

Mostrou-me o seu album de autographos. Os mais preciosos dera-lh'os o
irmão, que se carteára com parte dos seus contemporaneos illustrados.
Tinha-os de alto valor historico, escriptos por Maria Antoinette, por Luiz
XVI, por Chateaubriand, por M.^me de Staël, pelos estadistas das grandes
tradições. A sua livraria era pequena, e quasi toda ingleza. Não sabia o
allemão; tencionava porém estudal-o, quando serenasse a tempestade que
ainda rugia á volta da sua alma articulando-lhe os nomes dos filhos. Foi
ella quem me deu o ADOLPHO, romance de Benjamin Constant, e me disse:
«Leia-o em quanto lhe póde ser proveitoso». Li-o, e não aproveitei nada;
nem ella, que o lêra tres vezes, aproveitára muito. Os livros nada ensinam
na alçada do coração. A experiencia, sim; mas a lição vem tarde. Quem
ensina tudo é a velhice. Ainda bem, se nos salva dos espectaculos do riso,
e nos tira o pincel do bigode.

Henri de Weimar Basto, o filho primogenito, quando frequentava
distinctamente a escola polytechnica e auxiliava o pai traduzindo o
_Times_, morreu tisico aos dezoito annos de idade, nos arrabaldes de
Lisboa.

Fez-se então o crepusculo da noite infinita na razão de Elisa Basto; a
treva, todavia, condensou-se vagarosamente, porque a intelligencia reagiu
com as suas poderosas energias á paixão que a dementava.

Principiou a estudar o idioma germanico de tão phrenetico modo que ahi
mesmo denunciava o desconcerto do seu espirito. Gonçalves Basto raras vezes
a visitava. Depois da morte do ultimo filho, deslaçaram-se de todo os
frouxos vinculos que os ligavam. Encontravam-se n'aquelle filho os dous
amores dos corações divorciados; era de ambos aquelle sêr querido e
disputado á competencia de caricias. Morreu o incentivo, apagou-se a luz
que ainda lhes mostrava ao longe a saudade na penumbra do passado amor: a
pedra que o cobriu abafou tudo o mais!--acabaram alli com elle todas as
recordações e esperanças. D'ahi em diante, cada qual habitava sua casa;
ella na Foz, e elle na rua 29 de Julho.

Entretanto, Elisa pernoitava sobre os lexicons allemães, e decifrava a
traducção biblica de Luthero. D'este afanoso estudo tenho á vista a prova
no fragmento d'uma carta que me ella escreveu por esse tempo. Eu tinha
publicado um folhetim de má prosa ácerca dos PROVERBIOS E CANTARES. Dos
PROVERBIOS extrahira eu estes periodos dos capitulos XII, XIV e XV:


_A mulher diligente é a corôa de seu marido; e a que obra cousas dignas de
confusão far-lhe-ha apodrecer os ossos._

_A saude do coração é a vida da carne, a inveja é a podridão dos ossos._

_A luz dos olhos alegra a alma; a boa reputação engorda os ossos._


Isto, bom ou mau, está assim, em osso, nas versões biblicas portuguezas;
porém, a illustrada e talvez religiosa dama, acudindo pelo siso do poeta
hebreu, arguiu de muito paraphrastica e cavillosa a minha interpretação, e
corrigiu-a nos seguintes termos:


_...... La meilleure, la plus exacte, la plus élegante traduction de la
Bible c'est la traduction allemande de Martin Luther. Or voici, mot pour
mot, les versets que Mr. C. C. B. a cité:_

_La femme déligente est la couronne de son mari, la nonchalante est
l'ulcère de son corps[6]._

_Un bon c[oe]ur est la vie de la complexion_ (constitution du corps);
_l'envie est l'ulcère des os._

_Un c[oe]ur joyeux rend la vie agréable; mais une humeur sombre desséche le
corps._

_Une visage amicale rejouit le c[oe]ur, une bonne renommée engraisse le
corps._

_Le langage affectueux est du miel qui conforte l'âme et rafraichit le
corps._


Na verdade, o monge augustiniano, vertendo para _corpo_ o que os SETENTA
_ossificaram_ desgraçiadamente, expungiu dos versiculos a parte picaresca.
Bom foi isso.

      *     *     *     *     *

A demencia de Elisa Weimar manifestou-se n'um lance que, a não ter a
irresponsabilidade da loucura, seria o maximo desdouro--uma catastrophe
moral. Foi ella pessoalmente delatar á authoridade civil que seu marido e
outras pessoas conjuravam contra a dynastia e elaboravam tramas
sanguinolentos nos subterraneos da officina do _Nacional_. O magistrado,
como se a respiração da mentecapta o contagiasse provisoriamente, lançou
inculcas, adestrou espias, afuroou certas luras onde os conspiradores
poderiam alapardar-se. Afinal relaxou-se um pouco, confiando a sorte da
dynastia ás fatalidades indeclinaveis do destino.

D'outra vez, a deploravel senhora, quando o meu querido amigo José Cardoso
Vieira de Castro era já fallecido em Loanda, denunciou ao administrador do
bairro de Cedofeita que, em casa de seu marido, estava escondido Vieira de
Castro, fugitivo de Angola, onde, de accordo com as authoridades, dera
morto por si. Esta denuncia foi desprezada com bastante admiração minha.
Varias pessoas me disseram por esse tempo que Vieira de Castro passeava
vivissimo na America ingleza; não seria, pois, absurdo fazel-o viajar até
casa de Gonçalves Basto, na Ramada Alta.

N'esta visualidade de Elisa ha uma coincidencia memoravel. Na casa que ella
indicára como escondrijo do condemnado, hospedára-se Vieira de Castro com
sua senhora, quando chegaram a Portugal. Morava então alli seu irmão
Antonio. No anno seguinte, foi habital-a Gonçalves Basto, attrahido pela
belleza do sitio e prazeres da jardinagem em que se occupava todas as horas
vagas dos seus labores de escrivão de fazenda.

Aqui viveu tres alegres annos o fatigado lidador do jornalismo, cultivando
flôres, morangaes, parreiras, e fabricando elle mesmo, na qualidade de
lagareiro, o seu vinho, com que, no estio, deliciava os hospedes.

N'esta innocencia de patriarcha, o assalteou um dia a esposa, ao cabo de
nove annos de divorcio, intimando-lhe que sahisse d'aquella casa que era
d'ella. O fleugmatico marido enfardelou alguns objectos de primeira
necessidade e mudou-se, como quem foge. Tinha juizo. Aquella visão etherea
de J. Janin, olorosa de violetas, recendia agora á polvora e phosphoro dos
rewolvers, desde que o rapazio da Foz lhe pegou de apupar as abas amorphas
e infinitas de uns chapéos de palha mastreados de escumilhas variegadas.

Magôa-me verdadeiramente desfazer algum tanto na sentimentalidade com que,
em alguns periodicos, se lastimou a miseria de Elisa Weimar. Vi escripto
que a suicida experimentára as agonias da fome, da casa sem aconchego, do
desamparo dos indigentes. Não é exacto isto. Ha de haver quatorze annos que
ella foi a Paris instaurar um pleito sobre a herança de seu irmão. A acção
intentada terminou por conciliação, lucrando a irmã de Loeve-Weimar uma
pensão annual e vitalicia de 3:000 francos. Além d'isso, recebia 18$000
reis mensaes que lhe dava o marido. 750$000 reis bastariam ao decente
passadio de uma senhora com regular entendimento para governar-se; porém,
se os proprietarios dos predios que ella habitava recorriam ao expediente
das penhoras, é porque M.^me Elisa Weimar não pensava normalmente ácerca
dos senhorios; ou, no estado informe das suas idéas embaralhadas, não podia
conciliar as obrigações impostas pelo Codigo civil, no artigo 1608, que
reza: _O arrendatario é obrigado a satisfazer a renda, etc._

De mais a mais, esta senhora presumia-se muito rica e muito perseguida
pelos jesuitas--talvez reminiscencias delirantes da familia do general
Simon de E. Sue. Á volta do Porto, reputava propriedades suas, rusticas e
urbanas, as campinas mais ferteis e os _chalets_ mais imbrincados. Afóra
isto, dava-se como directa senhora e emphyteuta de terrenos na Foz e outros
pontos convidativos a edificação. De modo que, se lia no _Primeiro de
Janeiro_ ou _Commercio do Porto_ o annuncio d'uma propriedade á venda, no
dia seguinte contra-annunciava que a propriedade era sua, ainda mesmo que a
não tivesse arrolado no tombo imaginario dos seus haveres litigiosos. Aqui
ha mezes, um padre que se dizia procurador do meu amigo Custodio Teixeira
Pinto Basto, replicando a um desses contra-annuncios, allegou, na imprensa,
que a snr.ª D. Elisa Loewe-Weimar estava enganada; pois que os predios,
quintas e chãos que ella reputava seus, eram indisputavelmente do seu
constituinte o snr. Pinto Basto. Em resultado d'este desmentido, _assignado
por um padre_, me escreveu M.^me Elisa confirmando-me na guerra que os
jesuitas lhe moviam, confederados em espolial-a porque era protestante e
estrangeira desprotegida das authoridades portuguezas. Em virtude do que me
rogava que sahisse em sua defeza e lhe communicasse os alvitres a seguir
mediante cartas que, a uma hora determinada, eu devia introduzir pela
fresta d'uma das suas janellas ao rez do chão, visto que a sua
correspondencia lhe era subtrahida no correio pela Companhia de Jesus.

Ás vezes, parava na rua, e detinha-se a examinar a frontaria d'um predio. A
final, recordava-se que era um dos seus, entrava no pateo, sacudia
rijamente a campainha, e fazia saber ao morador que estava alli a senhoria
para vêr se eram precisas obras na sua casa. Era inoffensiva; mas não
deixava de ser incommoda esta maneira de doudice.

Ha quatro annos ainda, vestia-se singularmente. Quando a saia era azul com
requifes encarnados, o corpete era branco, e verde o filó do chapéo.
Gostava muito do vestido de velludo preto e botinas brancas. Os transeuntes
paravam descaridosamente a rir, e ella passava, triste e solemne como o
symbolo da desgraça n'um baile de carnaval. N'estes dous annos derradeiros,
trajava menos que modesta, pobremente, um capotilho côr de castanha,
apresilhado na cintura, e um chapéo campestre de palha côr de bronze. Não
erguia os olhos, nem correspondia aos cortejos, quando algum raro
encontradiço com memoria e coração reconhecia, n'aquella mulher encanecida
e trôpega, a esbelta e irrequieta franceza de ha trinta annos, e
machinalmente se descobria como se faz a um esquife coberto de crepe e
assignalado por uma cruz amarella.

      *     *     *     *     *

José Joaquim Gonçalves Basto, no fim do anno passado, alegrou a minha mesa
com a sua jovialidade, com as suas épicas faculdades digestivas. Estava
comnosco Placido de Freitas Costa, um galhardo espirito com todas as graças
petulantes dos rapazes de 1850. Não tem ainda trinta annos, e protesta
contra o marasmo dos homens da sua geração--uma gente que tem o coração em
modôrra e a alma anhelante no dominio de quatro inscripções.

Não havia ahi distinguir entre os dous na competencia de festivas
rapazices. Alta noite, sahiram de braço dado, percorreram os theatros e
passearam as ruas até ao romper da aurora. Gonçalves Basto perfizera
setenta annos n'esse mez. Ao outro dia, Placido de Freitas dava um jantar
ao decano da imprensa portuense no _Hotel do Louvre_. Os commensaes eram
todos rapazes e alguns estrangeiros. Gonçalves Basto brindava-os nas suas
linguas, e as risadas estrondeavam quando elle salgava os discursos com as
facecias que se usam lá fóra nos lautos banquetes britannicos em que o
corpo, mais debil que o espirito, resvala para debaixo da mesa, e todo
homem se fica então parecendo com Horacio ou Numentano a resonar no
triclinio.

Dous mezes depois, estando eu enfermo, disseram-me que José Joaquim
Gonçalves Basto adoecera, pela primeira vez na sua vida. Ao outro dia,
mandei saber como passára a noite. Tinha morrido ás cinco horas da manhã.

      *     *     *     *     *

A viuva, participando-me que seu marido era defunto, relatava o caso tão
glacialmente como se historiasse o trespasse do seu quinto avô. Todavia,
tinha magoados toques o seu estylo quando o arguia de haver deixado
hypothecadas fraudulentamente as propriedades em beneficio de varias
mancebas.

A falta do marido, que para ella representava quatro libras mensaes,
verdadeiramente não authorisa a hypothese da pobreza. Os numerosos e
extensos annuncios que publicava, em resalva das suas propriedades, eram
pagos. Visitava as livrarias e comprava livros. Tinha uma casa decentemente
trastejada, e servia-se com criados a quem pagava talvez, não os
confundindo com os senhorios.

Quando o proprietario da casa lhe enviou mandado de despejo e sequestro no
dia ultimo de setembro, Elisa Weimar fez trancar as avenidas. N'esse
momento, a sua alma aterrada pelo estrondo dos esbirros que arrombavam as
portas, estremeceu, e... acordou. Eis o momento da lucidez! Ao cabo de seis
annos de demencia, relampagueou-lhe na razão o fulgor d'um corisco; e
então, vendo-se desgraçada e ridicula, matou-se.

      *     *     *     *     *

Adeus, minha «formosa das violetas»! O teu Julio Janin, o teu cantor,
quantos te amaram e admiraram são já mortos, desde Henri Heine até
Philarète Chasles. Como devias ter morrido antes da velhice, a tua alma
sempre juvenil desamparou-te; e emquanto ella gemia nos cyprestaes do
_Père-la-Chaise_ a cada sahimento dos teus amigos da mocidade, o teu corpo
inerte e estupido immergia no pesadêlo das sonhadas riquezas! Ias ser
baldeada aos apódos das turbas, e levada pela policia á caverna das doudas,
quando a tua alma regressou nas suas azas de luz, radiou por sobre a área
negra da tua suprema desgraça, e ahi te alumiou o suave reclinatorio da
sepultura. Era a hora bemdita ou maldita da morte. Abraçaste-a. Descansas.
Em uma das tuas cartas me escreveste ha vinte annos, estas palavras de
Balzac: _Cada suicida é um poema sublime de melancolia..._ Adeus! quando eu
souber onde a caridade te sepultou, irei levar-te um ramo de violetas.


FIM


[1] Setembro de 1875.

[2] Outro biographo, peor informado, diz _duque_.

[3] O snr. visconde de Soveral.

[4] Fallecido no dia 2 d'abril de 1879.

[5] Julio Janin pintou-nol-o _corpulento_. Modos de vêr; mas M.^me Elisa
Loeve-Weimar disse-me que seu irmão era de baixa estatura.

[6] Traslada a versão de Luthero correspondente a cada verso.





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