Canto heróico sobre as façanh. dos portugueses na expedição de Tripoli

By Cardoso

The Project Gutenberg eBook of Canto heróico sobre as façanhas dos portugueses na expedição de Tripoli
    
This ebook is for the use of anyone anywhere in the United States and
most other parts of the world at no cost and with almost no restrictions
whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms
of the Project Gutenberg License included with this ebook or online
at www.gutenberg.org. If you are not located in the United States,
you will have to check the laws of the country where you are located
before using this eBook.

Title: Canto heróico sobre as façanhas dos portugueses na expedição de Tripoli

Author: José Francisco Cardoso

Translator: Manuel Maria Barbosa du Bocage

Release date: April 21, 2024 [eBook #73440]

Language: Portuguese

Original publication: Lisboa: Off. da Casa Litt. do Arco do Cego, 1800

Credits: Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).)


*** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK CANTO HERÓICO SOBRE AS FAÇANHAS DOS PORTUGUESES NA EXPEDIÇÃO DE TRIPOLI ***





                                 JOANNI

                  AUGUSTISSIMO, PIISSIMO, FELICISSIMO,
                         PORTUGALIÆ PRINCIPI,
                     TOTIUSQUE IMPERII GUBERNACULUM
                         AUSPICATIUS MODERANTI,
                               BRASILIÆ
                  MAXIMO DECORI, SPEI, AC FIRMAMENTO,
                               LITTERARUM
                            FAUTORI EXIMIO,
             DE REBUS A LUSIT. AD TRIPOLIM VIRILIT. GESTIS,
                                 CARMEN

            _In obsequii, summae reverentiae, gratique animi
                               Devotionem
                           Perquam submisse_

                                D. O. C.

                      JOSEPHUS FRANCISCUS CARDOSO.

                          _Soteropoli Bahiensi
                   Regius Latinae Linguae Professor,
                           Ibidemque natus._


                              ULYSSIPONE,
             TYPOGRAPHIA DOMUS LITTERARIÆ AD ARCUM CÆCI.


                             ANNO M. DCCC.
                   _Suae Regiae Celsitudinis Jussu._




                                   AO
                  SERENISSIMO, PIISSIMO, FELICISSIMO,
                            PRINCIPE REGENTE
                              DE PORTUGAL,
                                D. JOÃO,
               ORNAMENT. PRIM., ESPERANÇA, E ESTABILIDADE
                               DO BRASIL,
                                   E
                      PROTECTOR EXIMIO DAS LETRAS
                             CANTO HEROICO
                    SOBRE AS FAÇANH. DOS PORTUGUEZES
                        NA EXPEDIÇAÕ DE TRIPOLI.

           _Em testemunho de vassalagem, profundo acatamento,
              e gratidão, mui respeitosa, e humildemente_

                                D. O. C.
                                  POR
                        JOSÉ FRANCISCO CARDOSO,

            _Professor Regio de Grammatica Latina na Cidade
                      da Bahia, e della natural_;

                             TRADUZIDO POR
                   MANOEL MARIA DE BARBOSA DU BOCAGE.

                             [Illustração]

                                LISBOA,
             NA OFFIC. DA CASA LITTERARIA DO ARCO DO CEGO.


                             ANNO. M. DCCC.

                        _Por Ordem de S. A. R._




    _Tels ont été les Grands, dont l’immortelle gloire
    Se grave en lettres d’or au Temple de Mémoire._

            Le Roi de Prusse Épit. 1. à son Frère.




    _Forão taes esses Grandes,
    Cuja perenne Gloria
    Se grava em letras de oiro
    No Templo da Memoria._

            O Rei da Pruss. Epist. 1. a seu Irmão.




                            CANTO HEROICO.


    Musa, não temas; vibra afoita o plectro.
    Se tentas sublimar-te a grandes cousas,
    Se mais que a força tua he tua empreza;
    Eis NUMEN Bemfazejo inspira o canto,
    NUMEN, de QUEM rival não fôra Apollo,
    Nem de Aonias Irmans turba engenhosa.
    Sonhão Poetas vãos Parnaso, e Pindo;
    Hippocrene hé quimera: a ti dimana,
    Do Solio desce a ti feliz audacia,
    Que a mente acobardada esfórça, agita.
    Assim remontarás segura os vôos;
    Assim, transpondo os Ceos, transpondo os Mares,
    Irás desentranhar, colher arcanos,
    Não corruptos na voz da Fama incerta.
    Outros (como que folguem de illudir-se)
    Mandem rogo importuno aos Deoses do Estro;
    Cobicem na Castalia mergulhar-se.
    JOAÕ, CUJO Poder no mundo hé tanto,
    E a CUJO Arbitrio cabe alçar o humilde,
    O elevado abater, protege, ó Musa,
    Teos sons, teo metro; e com benigno Aceno
    Ordena, que altos feitos apregôes:
    Idéa, engenho, ardor de Lá te influem.
      Á sombra já de Auspicios tão sagrados,
    Claros louvores de immortaes Guerreiros
    Anhela celebrar fervendo a mente;
    Dizer, com que perfidia atroz, e infanda
    Foi pela Maura estirpe despertado
    Nos Lusos corações o fogo antigo;
    Qual soffreo nova pena a Gente odiosa;
    Té que Marte á justiça os constrangesse.
    Longe, longe as ficções. TUA ALMA Ingénua
    Só quer, PRINCIPE Augusto, a ingenuidade.
      Onde o Mar pelas terras mais se alonga,
    Em cuja bocca he fama erguera Alcides
    Arduas columnas, das fadigas termo,
    Jaz annosa Cidade[1], que parece
    De Carthago ás ruinas esquivar-se,
    Olhando ao longe de Sicilia as praias:
    Outróra fundação nobre, opulenta,
    Em tanto que do intrépido Navarro
    Opprimida não foi com duro assedio:
    Hoje triste enseada, e mal seguro
    Surgidoiro aos baixeis. Dalli costuma
    O rapido chaveco atraiçoado
    Ás infestas rapinas arrojar-se;
    De miseros mortaes alli mil vezes
    C’os sanguentos despojos volve alegre:
    Nem se apraz só do roubo a Raça infame,
    Nódoa, horror da Razão, da Natureza;
    Aos fracos agrilhoa as mãos inermes;
    Quaes brutos, os alhêa a preço de oiro,
    Ou lhe esmaga a cerviz com jugo indigno:
    Eis seo louvor, seo nome, a gloria sua.
      Alli preside asperrimo Tyranno[2],
    De torpe multidão senhor mais torpe;
    Monstro, que desde a infancia exercitado
    Em tudo o que os Mortaes nomêão crime,
    Sacrilego infractor das Leis mais sanctas,
    Delicto algum não vê, que em si não queira,
    E dóe-se de o perder, se algum lhe escapa:
    Maldade horrivel, que prodigio fôra,
    Se estes dos homens sórdido refugo,
    Desparzidos no Globo, o não manchassem.
    Oh quanto mais se deve estrago, e morte
    Ao barbaro Tropel, que hum trato amigo,
    E aquella mutua fé, que enlaça os Povos!
    Mas se robustas Mãos, que o Sceptro empunhão,
    Não chovem contra os Féros inda o raio,
    Tempo, tempo virá que exterminada
    (O coração mo diz com fausto agoiro)
    Apraza acantoar a iniqua Turba
    Lá onde dos invernos carregado,
    Junto ás extremas Ursas vai Bootes
    Regendo a custo o vagaroso carro;
    Ou lá onde rebrama o Sul recente,
    Haja taes Cidadãos deserta plaga,
    Até que a Eternidade absorva as Eras:
    E das brenhas no horror, no horror das grutas,
    Companheiros das féras, monstros novos,
    Vivão de sangue, como as féras vivem,
    Na garra, e condição peiores, que ellas.
    A Maldade em caracter convertida
    Hé sempre mãi do crime, e a Natureza
    Já despir-vos não sabe, Artes perversas.
    Como ha de a voz saudavel do Remórso
    Melhorar corações, depois que a peste
    De corrupta Moral se arreiga nelles;
    Fermenta, lavra em fim de vêa em vêa,
    De séculos a séculos medrando?
    Quando os dons se amontôão sobre a culpa?
    Quando a penuria a probidade ancêa,
    De hum vulgo detestavel accossada?
    A tudo a negra Turma inverte os nomes;
    O bom desapprovando, ao máo se aferra:
    E hé tanta nos crueis do crime a sêde,
    O exercicio do mal taes forças ganha,
    Domina tanto alli, que nunca omittem
    Opportuna estação de perpetrallo,
    Ou do ardor de empecer, ou da cobiça
    De illegitima presa esporeados;
    Como se a Rectidão, como se a Honra,
    O que a todos illustra, os deslustrasse.
    Não com lingua fallaz taes vozes sólto:
    Ninguem no mundo o que descrevo, ignóra.
    Quem de olhos carecer, e quem de ouvidos,
    Só não conhecerá, quão vis alumnos
    Pela terra esparzio o audaz Mafoma,
    O refalsado author de Seita infanda.
      Que dólos, que traições, que iniquidades
    Da caterva brutal provaste há pouco,
    Tu, dize, tu, magnanimo Donaldo[3];
    Conta os varios successos, conta os riscos,
    Os trabalhos, que a ti, e aos teos urdira
    Atro perjurio do bilingue Chefe;
    Tudo porém troféo das forças tuas.
    Lustroso do esplendor de imperio summo,
    Tu foste quem primeiro apresentára
    A dadiva da Paz, que, apadrinhado
    De hum Rei potente[4], o Barbaro implorava.
    Quando hé que as condições mais leves forão?
    _Entreguem-se os Francezes_ acolhidos
    Brandamente de Tripoli nos muros,
    Ao throno do Sultão[5] pesada offensa,
    Grave infracção tambem do jus Britanno,
    Da assentada concordia, e laço antigo.
    Bachá, cumpre o dever, e a teos desejos
    Verás a conclusão, verás o fructo.
    Grão penhor te dará na fé, na dextra
    AQUELLE, Cujas Leis adora o Tejo,
    Ufano revolvendo arêas de oiro;
    Cujas Leis teme o Niger, teme o Ganges;
    São freio, acatamento do Amazonas,
    Do Argenteo, que em torrentes resonantes
    Immensos cabedaes aos Mares levão.
      D’alta alliança o Régulo sedento,
    Folga, exulta, accelera-se, convida
    O animoso Guerreiro ao forte alcáçar.
    Quer comtudo exercer primeiro astucias,
    Que o feio coração lhe está brotando,
    Bemque tanto aproveite, e tanto alcance
    No que diz com a Razão, no que he justiça.
      Dá-se pressa: ameacem muito embora
    Caso fatal as hórridas Muralhas,
    Encerre o que encerrar ambigua estancia;
    Todo firmado em si, maior que o susto,
    Vai demandar o Heróe a hostil morada.
    Hé desta arte, que só, que destemido
    Carlos[6] outróra ousou nos proprios lares
    Encarar o Inimigo exacerbado,
    Volvendo illeso aos seos, depois de muito:
    Ou tal, fieis annuncios despresando,
    Foi Cesar envolver-se entre os Conscriptos,
    Dispostos a catástrofe cruenta;
    De indócil ao temor, de habituado
    Só có a presença a triunfar mil vezes.
      Entre as sombras da noite absorto em tanto,
    Metido em pensamentos veladores,
    Até que ás ondas volte o grande Chefe,
    (Se lhe hé dado talvez tornar, qual fôra)
    Impéra n’alta Poppa o Delegado[7];
    E o lucto, que lhe cinge a fantasia,
    Recata com semblante esperançoso.
    Partindo prescrevêra o Cabo invicto,
    Que, a negar-lhe o regresso indigna força,
    Apenas alvejasse a grata Aurora,
    Trazendo novo lustre ao Ceo, e á Terra;
    Com todo quanto impulso em Lusos cabe,
    Os pérfidos Contrarios commettessem.
    Nada cura de si; nem quer ausente
    Ser obstaculo aos seos: có a idéa erguida
    A bens de mais valor, de mais alteza,
    A vida se lhe antólha hum sonho, hum nada.
    Á mente perspicaz não se lhe esconde,
    Sente no coração, votado á Gloria,
    Que da existencia a luz hé luz de raio;
    Que, se as tubas da Fama os não precedem,
    Vastos nomes no Lethes se baralhão
    Entre escuro montão de escaços nomes,
    O que affecta os sentidos deixa ao vulgo;
    Engeita o que hé do vulgo, o que hé da morte,
    E mais que humano, e sobranceiro ao Fado,
    Quer duração, que os séculos abranja.
      Por que os Fabios direi, sós contra hum Povo
    Todo o peso da guerra em si tomando?
    E o Rei, que deo, morrendo, aos seos victoria,
    Rei derradeiro na Cecrópia terra?
    Ou porque os Moços, que exhalando as almas,
    Ferem, matão, derrubão densas hostes,
    Estorvo das correntes, que bebião?
    Tropel dez vezes cento (oh maravilha!)
    Maior, que seos terriveis Adversarios;
    Não visto n’outro tempo, ou n’outros climas,
    Nem por outrem guiado ao Marcio jogo?
    Vetustos monumentos nada ensinão,
    Que dê mais esplendor; ou antes nunca
    Se afoitou a idear viril denodo
    Empresa mais illustre, audaz, violenta.
    Mas como transcender-se as métas podem,
    Onde se crê parada a Natureza,
    Donaldo o manifesta, o prova ao Mundo.
    Alta fama de hum só consente apenas
    A Codro, aos Fabios, aos Varões de Esparta
    O secundario gráo. Soltando a vida,
    Chama o triunfo aos seos o Heróe de Athenas,
    Acção rara, exemplar; porém ao Povo
    O Cidadão, e o Rei devião tanto,
    E a tanto a voz dos Ceos o arrebatava.
    Se os trezentos impávidos Romanos
    Aos arraiaes hostis se arremessárão,
    Forão-lhe origem da proeza estranha
    Velha aversão, troféos imaginados,
    E agoiros de segura eternidade;
    Além de outro incentivo inda mais caro:
    Morrer nas armas, escudando a Patria.
    Laconios Campiões, sim defendestes
    Com requintado alento, e planta immovel
    Da apertada Thermópylas o passo;
    Mas os deoses, os filhos, pais, e esposas,
    Os objectos do culto, e do amor vosso
    Á vossa heroicidade objectos forão;
    E derão-vos os Fados, que a vingança
    Aligeirasse em vós da morte o peso.
      Porém de circunstancias mais sublimes
    O egregio, immortal Feito se rodêa,
    Que me cumpre levar por toda a Terra:
    Graveza aos hombros meos descompassada,
    E excessiva talvez de Atlante aos hombros.
    Não, aqui não se offrece abrilhantada
    De attractivos externos a Virtude:
    Nua apparece aqui, por si formosa.
    Donaldo, avesso ao crime, o crime odêa,
    Por amor da Virtude, ama a Virtude.
    Nada do que usa erguer ao alto as mentes,
    Nem patria, nem desejos de vingança,
    Nem propria utilidade, ou qualquer outra
    Das humanas paixões Donaldo incita:
    Ante si do Dever só tem a imagem,
    Seja qual for o effeito, ou lédo, ou triste.
      Ai! que tramas dispoem Bando horroroso!
    Que ciladas no astuto pensamento!
    Plebe sem lei, sem fé prepara á furto
    Traidores laços ao Varão, que assoma.
    Já na imaginação devóra a presa:
    De engenho mais sagaz se crê dotado,
    Mais jus colhe ao louvor quem da perfidia
    No atroz invento sobresahe aos outros;
    Quem das negras, pestiferas entranhas
    Crime inaudito, insólito attentado,
    Nova abominação vomita, arranca,
    Rugindo em torno rábida caterva.
    Mal que na odiada arêa a planta imprima,
    Esperar n’hum punhal o Incauto, e ás ondas
    Em pedaços (que horror!) lançar-lhe os membros.
    Hé deste opinião; voto hé daquelle,
    Que subito assaltêe impia cohorte
    O immune Orgão da Paz, e ferreas pontas
    Daqui, dalli no coração lhe embebão,
    Quando a infiel Cidade entrar seguro.
    Quer outro, que de longe á fronte heroica,
    De inviolavel caracter decorada,
    D’entre o lume sulfureo vôe a morte.
    Outro, que subterránea estrada infensa
    Debaixo de seos pés ardendo estoire.
    Nem occorre isto só: revezão todos
    Horrores, que requintão sobre horrores.
    Émulo ardor nos animos damnados
    Tanta aos delictos affeição lhe atêa!
    Tão preciosa lhe hé, tão doce a infamia!
      Mas o Eterno desfez insidia enorme.
    Nos olhos do Varão, na voz, no aspecto
    Tal reverencia poz, poz tal grandeza,
    Que vai por entre a luz, e os Inimigos
    Incólume, e sereno. Erão famosos
    Por sanguineas, innumeras brutezas,
    Quantos desta (a maior) se encarregárão.
    Mas quando o pensamento abominoso,
    Já já fito na presa, a mão dirige,
    Nega-se a mão (que assombro!) ao acto horrendo.
    Tres vezes a vontade resoluta
    Se a balança á traição; descahe tres vezes
    N’hum frigido pavor o algoz Congresso;
    Tres vezes fóge o ferro ás mãos, que tremem;
    E, a seo pesar, baldada a vil perfidia,
    Conduz pela Cidade insidiosa
    Inerme o Vencedor triunfo insigne.
      Já pisa do Tyranno os pavimentos,
    (Não indignos de Caco) ou para dar-lhe
    Penhor de amiga paz, ou o ameaço
    Do trovão, que no bronze o pólo atrôa.
    Eia, em que te detens, Varão prestante?
    Por que inda não rebomba o som do raio
    Nos insanos ouvidos? Por que em terra
    Os féros baluartes não baquêão?
    Porque o Regio Baixel não sólta os pannos,
    E o barbaro palacio não fulmina?
    Crês, que te hé dado achar sobre essa plaga
    Huma só vez a fé? Jámais Astréa,
    Desde que o Globo hé Globo, estancia teve
    Nesse terreno infesto, onde a Verdade,
    Onde os Tractados, a Razão se volvem
    Nestes dois eixos sós: ou _Oiro_, ou _Medo_.
    Rompe, rompe as tardanças, não perdóes
    Á malvada Nação: com ella expendão
    Donativos os mais; tu ferro, e fogo.
    A Politica em vão, que tudo aplana,
    Em vão contradicções compôr quizera,
    Com que as palavras entre si repugnão:
    A Progenie de Agar só teme a força.
    Em quanto implora a paz, subtis pretextos
    Tece o arteiro Bachá, para que frustre
    Cláusula, em que somente a Paz se estriba,
    Não hé porque o Francez cobice amigo;
    Mas hé porque o Francez, e o Luso engane;
    De balde, que a sisuda Sapiencia
    Rege, illustre Donaldo, as vozes tuas;
    E ao doloso Africano o dólo argue.
      Tu primeiro lhe expões, quão mal confórma
    Có a honra, de que tumido alardêa,
    Dar manso gasalhado aos Inimigos
    Dos Alliados seos, do grão Monarcha,
    A cujo imperio vassalagem deve.
    Tu promettes depois, já que ao falsario
    Igualmente o Sultão de côr servia,
    Mandar-lhe sobre a Poppa Lusitana
    A origem do debate, os _Prisioneiros_,
    De barbudas escoltas ladeados,
    (Gloria nunca outorgada a Musulmanos).
    Desmanchas do Agareno as fraudes todas;
    Mas, aos mesmos principios aferrado,
    No objecto, em que insistio, tenaz insiste,
    E ás vozes da Equidade hé surdo, hé morto.
    Colhido havias de experiencia funda,
    Quanto a sanha Moirisca apura extremos
    Em odio da Justiça, e quanto indóceis
    Torne indulgencia os animos ferrenhos.
    Que já da Natureza assim viérão.
    Mas prompto a derrocar soberbas torres,
    E prompto a confundir no horror da morte
    Mancebos, e Anciãos, credores della,
    Artes macias sobre a impia turba
    Todavia exhaurir primeiro intentas:
    Vêr, se lugubre quadro de ruinas,
    Pela voz da eloquencia reforçado,
    Por dita amedrontava a Casta imbelle,
    Misérrimo espectáculo poupando,
    Que o coração magnánimo te aggrava:
    De insólito rubor as ondas tinctas,
    Em sangue humano as terras ensopadas.
    Mas a doce Piedade que aproveita?
    Morre a Esperança; infructuosos jazem
    Cuidados, e fadigas: inda geme
    A Humanidade em ti, porém releva
    Punir da Humanidade os Inimigos.
      Em fim braveza hostil o Heróe concebe:
    Notando quanto hé cega a Gente infida,
    Sahe dos hórridos tectos infamados,
    Sahe da féra Cidade, e deixa o porto.
    Quem facil atégora ouvia as preces,
    Já ferve por calcar insano orgulho:
    Não de outra sorte pela selva umbrosa,
    Ou quando sobre as Libycas arêas
    Famulento caminha o Rei das féras,
    Desdenha generoso o Passageiro,
    Que, preso do terror, no chão palpita;
    Mas se a pé firme alguem lhe está defronte,
    Có as garras o derruba, o despedaça;
    E audaz, e truculento, e com rugidos
    Onde há mais resistencia, alli mais arde:
    Succeda que o provoque, o desafie
    Duro esquadrão, de lanças erriçado;
    Arremessa-se a todas; e se morre,
    Morre, como Leão, sem côr de medo.
      Dos Lusos entre os vivas sôa o bronze;
    E eis sanguinea bandeira açoita os ares,
    Preságio de terrifica matança.
    A bellicosa Turba em si não cabe;
    Armas, armas, (vozêão) guerra, guerra:
    Tudo se apresta, e tudo aos postos vôa,
    Em quanto a Náo desfere as pandas vélas.
    Luz na dextra o murrão; e em fim patentes
    As éneas boccas cento agoirão mortes.
      Já treme a desleal Cidade impura;
    Já para os Ceos estende as mãos profanas;
    Já se diz criminosa, e se pragueja.
    Breve espaço, em que o animo repouse,
    Em que dispa o temor, e se consulte,
    Manda ao Luso implorar, que annue ao rogo.
    Retarda-se horas doze a justa pena,
    Justa há muito, e que em fim será vibrada
    Sobre as infamias da Nação proterva.
      Lume sereno, que azulava o Pólo,
    Medonhas nuvens entretanto abafão;
    Sombras pesadas pronosticão males.
    Hé voz, que lá no centro dos Infernos,
    A bem dos consanguineos Musulmanos,
    E em despeito aos Christãos, que Lysia nutre,
    Que ora os muros Mahométicos assombrão
    Com próximos estragos, ante o sólio
    Do torvo Dite Cortesãos immensos
    Có as mâos erguidas longamente orárão.
    Attento ouvio Sumano os impios votos;
    E hum dos Ministros seos, que jaz mais perto,
    Ordem recebe de surgir ao Mundo,
    De voar n’hum momento á vasta Eolia,
    E dos Tufões ao rispido Tyranno
    Taes vozes transmittir: »Que altiva Gente,
    »Que indómita Nação, capaz de tudo,
    »(Por quem malquisto sempre, e defraudado
    »O Reino do pavor carece de almas)
    »Sobre Quilha arrogante aparta as ondas,
    »Os dominios do equóreo Irmão lhe insulta,
    »Que tambem da intenção quer advertido;
    »Para que ambos có as forças apostadas,
    »No mar cavando, erguendo abysmos, serras,
    »O Lenho injusto, audaz sacudão, rompão,
    »Que apavóra de Tripoli as muralhas,
    »A elle Estygio Rei tão importantes:
    »Perdidos os pilotos, e arrancada
    »Do alto pégo, ou nas férvidas arêas,
    »Ou nas sumidas róchas arrebente:
    »Os frémitos do auxilio em vão rogado,
    »A festiva Cidade escute, e veja
    »Nas aguas os Christãos bebendo a morte.»
    Disse, e o Nuncio veloz ao Mundo surge,
    Á vasta Eolia vôa, e cumpre o mando.
      Já rompem da masmorra os Euros bravos;
    Já comsigo arrebatão quanto encontrão
    Fóge o molle Favonio, fóge o Dia:
    Os campos de Nereo a inchar começão:
    Ao longe horrendamente o pégo ronca:
    Eis subito encanece, e todo hé montes.
    Quasi quasi a cahir d’hum, d’outro lado,
    Os mastros vergão, as cavernas rangem:
    Qual (se alguem a jogou) saltante péla,
    Roça o Pinho os Infernos, roça os Astros;
    Vai, e vem vezes cento abaixo, acima.
    Carrancudos tres Sóes a luz negárão,
    Por tres noites o Céo não teve estrellas:
    E se Eólo, em seo impeto afracando,
    Deo ao dia segundo algum repouso,
    O experto General o ardil penetra:
    Á guerra apercebidos chamma, e ferro,
    Em tanto que, Neptuno fraudulento,
    Tomas serena face; ao alto a prôa
    Que se enderece, ordena, assim que os ventos
    As vagas sobre as vagas encapellão:
    Não succeda, que o pélago fervente,
    Os insanos Tufôes contra as arêas
    Com hum, com outro embate o lenho atirem.
      Então, quanto se dá vigor em Numes,
    Na lide porfiosa os dois esmerão:
    Em roda novo horror carrega os mares.
    Os sanhudos Irmãos guerrêão, berrão,
    De regiões oppostas rebentando:
    Escarcéos, e escarcéos lá se atropellão:
    Por longo espaço treme o fundo aquoso;
    Como que está Plutão do Estygio centro
    C’os duros hombros abalando a Terra.
    De taes, e tantas furias assaltado,
    Que arte guiar podia o lenho indócil?
    Nem lignea robustez, nem cabos valem:
    Cahe com ruidoso estalo a rija antenna,
    E batem susurrando as rotas vélas.
      Destes gravames nada oppresso em tanto,
    Por tudo se divide, a tudo acode,
    Todos có a voz, e exemplo aviva o Chefe,
    Grassando em todos émula virtude:
    Não há frôxos: marêão, saltão, correm.
    A engenhosa Prudencia em fim triunfa;
    Vence a Constancia audaz; e a largos pannos
    Vai-se amarando ovante a Náo veleira.
    AQUELLE, CUJO Aceno os Astros móve,
    QUE rege o Mar, o Vento, o Mundo, o Averno,
    Progresso não permitte á raiva undosa:
    E se atê-li soffreo, que encarniçados
    Marulhos, Furacões travassem guerra,
    Foi para que altamente as memorandas
    Forças do Luso peito reluzissem.
    Noto, Austro, Boreas, Áquilo emmudecem
    Manso, e manso: e, despindo as prenhes nuvens,
    O Céo veste hum azul sereno, estreme.
    Volve o molle Favonio, volve o Dia,
    E volvem mais que d’antes amorosos.
    Fôra imposto a Tritão pegar do buzio,
    Com que as ondas revoque: o buzio toma;
    Surde por entre espumas orvalhoso,
    A encher có a voz sonora emtorno os mares.
    Eis sópra a concha ingente, e mal que sópra,
    Resôa pela Aurora, e pelo Occaso.
    Tornão violentas a seo leito as vagas:
    Esta recua ás Siculas paragens
    Por não vasto caminho; aquella ás Syrtes
    Fervendo em rôlos vai; remotas margens
    Mais tarde outra revê, donde corrêra
    Ao nome, que a attrahio, que á patria sua,
    E a Tripoli hé commum: tambem alguma
    Foi visinhar có as aguas do Oceano:
    Tal que d’antes jámais deixára o fundo,
    Ao fundo se desliza, e jaz, e dorme.
      Na quarta luz emfim desde as alturas
    Tostada Multidão, que lá vigia,
    Presume illusa descobrir ao longe
    Cadaveres boiantes, vergas, táboas:
    Há entre elles alguem, que derramados
    Té de Lysia os thesoiros vê nas ondas;
    E quem menos de lynce arroga os olhos,
    Se atreve a assoalhar, crédulo, insano:
    »Que se o pégo poupára algum dos Lusos,
    »Só reliquias a Náo desmantelada
    »Hia reconduzindo aos patrios lares.»
    Mas em quanto delira o Povo adusto,
    A gávea se desfaz ao sopro amigo:
    Tentão de novo defrontar có as praias,
    Que á merecida pena em vão se furtão.
      Bem que findasse a noite, o róseo Febo
    Não com tudo esmaltava o Mar, e a Terra:
    Não era o tempo então nem luz, nem sombra.
    Porém como surgio dos Thétios braços
    O Filho de Hyperion, e os Céos lustrando,
    Com seo raio expulsou de todo as trévas,
    Alcança de mais perto, e vê primeiro
    Navegante _Polaca_ a véla, e remos,
    Que aos Nautas patentêa: o Lenho a segue;
    Rápida foge: o remo, o vento a ajudão.
    Como no espaço azul medrosa Pomba,
    Apenas a Aguia sente, apressa os vôos,
    Contra as unhas crueis buscando asylo;
    E em seos tremores incapaz de escolha,
    De lugar em lugar sem tino adeja,
    Por ferinos covis, palacios, bosques,
    Assim (quão raramente!) escape ás garras:
    De igual modo, apurando as ténues forças,
    A curta embarcação, para salvar-se
    Do inimigo fatal, varia os bordos:
    Mas vendo que evitallo hé vão projecto,
    Tomada do receio, a prôa inclina
    Á conhecida arêa, e quasi encalha.
    Já com menos affronta aqui respira;
    Porque os baixios arenosos védão
    A tremenda invasão da Lusa Quilha.
    Então jactanciosa eleva a frente;
    As flamulas no tópe lhe florêão;
    Guerra ameaça então, e a guerra chama
    Braços, a que a distancia tólhe o raio.
    Esta audacia, porém, não fica impune:
    Que obsta a Mortaes de espirito arrojado,
    Quando iroso calor lhe accende o peito?
      Ao Mar leves Bateis subito descem,
    E commandados de hum, que os sobrepuja,
    Vão có a vingança fulminar o aggravo.
    Sobre elles, á porfia, a flor dos Lusos
    Enceta heroicamente a grave empresa.
    Gentilezas á Fama derão todos;
    Todos em feitos grandes se estremárão.
    Mas o louvor primeiro a ti compete,
    Que d’arvore de Pallas[8] te appellidas,
    E cinges vencedor com ella a fronte.
    Em saltar ao Batel tu te anticipas,
    Tu dos igneos peloiros não detido,
    Fórças os remos, a inimiga aferras,
    Quando a fusca Equipagem temerosa,
    Ao fragil seo baixel picando a amarra,
    Nas praias dá com elle, dá comsigo,
    E nellas imagina resguardar-se:
    Tu primeiro tambem sobre os Contrarios
    Disparas férreos globos, que os Cyclópes
    Forjárão, fabricando a Jove as armas.
    Mais inda remanéce, inda te sobrão
    No ensejo Marcial discrimes duros,
    Assombrosas acções, que te levantem
    Ao cimo de fragoso, aéreo monte,
    Lá onde em Paços de oiro a Gloria reina
    Com sceptro diamantino, e circumdada
    De numerosa, esplendida Assemblêa;
    Entre as quaes pela mão da Eternidade
    Teo vulto surgirá, marmóreo todo.
    Para tanto não basta, que empolgasses
    O curvo Bórdo opposto, ou que o subissem
    Os Companheiros teos, depois de expulsa
    A vil Tripulação por vis terrores.
    Os azares, e os jubilos se enlêão,
    Por que a mesma desgraça, o que no mundo
    Hé mal, hé damno a todos, te aproveite.
    Repentina resáca a dois comtigo
    Constrange a recuar no débil casco,
    E á praia arroja os Tres, quando reflue.
    Aqui se vê, qual és, que ardor, que alento
    Te abrange o coração, te anima o pulso:
    N’hum feito Herculeos feitos escureces,
    E quanto as Musas fabulárão delles.
      Féra gente, de Arábica linhagem,
    De tôrva catadura, hirsuta, e negra,
    Pelos serros contiguos vagueando,
    Á maneira de lobos, se apascenta
    Nas rezes dos rebanhos desgarradas;
    Ou, émula do Tigre, as selvas rouba,
    Rouba os redis; e o medo, o sangue, a morte
    Diffunde aqui, e alli. Munio-se agora
    De armas de toda a especie: huns vibrão lanças,
    Outros forçosa vara, espadas outros,
    Ou pedras, ou punhaes, ou fogo, ou settas.
    Ei-los das agras serras vem correndo
    Acudir aos Irmãos: (quem há que os conte?
    São quaes manadas, que devastão campos.)
    Como ardida falange escalar tenta
    Castello situado em cume alpestre,
    Ou romper torreões de alta Cidade:
    Huma, e outra _Caterva_ os _Tres_ investe,
    E quanto esforço tem, no attaque emprega.
    Se a cada qual dos _Tres_ té-li se oppunhão
    Moiros _cincoenta_, os Árabes, que occorrem,
    A cada qual dos _Tres_ oppoem _milhares_,
    Todos bravios, formidaveis todos!
    Em que facundia taes portentos cabem?
    Quem ha que pasme assás de taes portentos?
    Quem, se não fôra testemunha o Mundo,
    Por fábula, ou por sonho os não teria?
    Trôão da Fama no clamor; e vivem
    Olhos, que os virão, braços, que os fizerão.
      Era para attentar tão nova scena!
    O denodado Heróe, e os Dois, que inflamma,
    As bravuras sostem de hum Povo inteiro.
    Rue a raivosa, rustica Torrente;
    Retumba em valle, e valle a grita horrenda.
    D’ambos os lados o Guerreiro apertão:
    Sibilão tiros, golpes se redobrão:
    Mas elle có a sinistra, elle có a dextra
    A Multidão rechaça, illeso, immoto.
    Aos Barbaros o pejo atiça as furias:
    De artes mil desusadas se refazem
    Na espantosa refrega; mas sem fructo:
    O Varão permanece invulneravel,
    E nas Estygias aguas cem mergulha.
    Para aqui, para alli a espada hé raio,
    Nunca em vão. D’hum, que audaz de perto o arrosta,
    Enterra-a nas entranhas; outro que era
    De membros gigantêos, de lança enorme,
    E exhortava na frente á guerra os tardos,
    A dois golpes, não mais, do Luso Achilles
    Jaz inerme; e com hum, com outro arranco
    O espirito feroz lhe cahe no Inferno.
    A este, que na terra ancioso arqueja,
    Vão as auras vitaes desamparando;
    Aquelle hé tronco só: por toda a parte
    Voão braços, cabeças, fervem mortes.
      Ó tu, que dos Almeidas tens o agnome[9],
    Tu, que ligar podeste em nó lustroso
    Ás honras de Mavorte as de Minerva,
    Tambem te faz eterno este aureo Dia.
    Se os Lusos, que pelejão sobre as praias,
    E aquelles, que a _Polaca_ prisioneira
    (Sossobrado o _Batel_) retem no bojo,
    Onde de longe os vexa o Mauro insulto;
    Se todos volvem salvos, Obra hé tua.
    Em quanto por auxilio a huns, e a outros
    Envias Alexandre[10], nunca esquivo
    Da nobre estrada, que trilhára o _Grande_,
    Ignivomo canhão, que infatigavel
    Respondêra a dezoito bronzeas boccas,
    E silencio lhe impôz, de novo esparge
    Por entre horrivel som, e opáca nuvem
    No centro dos cerrados Africanos
    Granizo de lethifera metralha.
    O primeiro terror tu lhe infundiste,
    Tanto que a de Mafoma agreste chusma
    Vio córados de sangue arêas, mares:
    O mandado Varão croou a empresa.
    Rápidamente o remo as ondas varre:
    E Sousa[10] impetuoso aos socios chega:
    Contra os donos assésta o bronze adverso,
    E assim lhes restitue as férreas balas.
    Já cede, já fraquêa a Tropa escura,
    De convulso temor enregelada.
    Ei-los fugindo vão, nem que aves fossem;
    Por huma, e outra parte se tresmalhâo,
    Crendo sentir estrépito, que os segue.
      A bordo então Donaldo os seus convoca;
    Corre a abraçallos, e na voz, na face
    O cordial prazer exprime a todos.
    Memorando as façanhas huma a huma,
    Do condigno louvor as enche, as orna,
    Altivo de reger tão brava Gente.
      Mal que o descanço os animos sanêa,
    (Já declinante o Sol do ethéreo cume)
    Á terra se avisinha o mais que póde
    A bellicosa Náo; e c’os primeiros
    Coriscos Marciaes vareja o Bando,
    Que em mór tumulto as praias enxamêa.
      Do grande lenho á sombra os lenhos breves,
    (Porque estanhado o mar jaz em silencio)
    Artes, e forças empenhando, intentão
    A Maura presa despegar da margem;
    Vãmente, que folgando o lindo Coro
    Das filhas de Nerêo, sobre ella salta,
    A querem para si, lhe chamão sua.
    E quem de hum Nume á Prole, aos seos direitos
    No patrio senhorio obstar podéra?
    Ou pulsos Briarêos onde acharia,
    Para o trabalho immenso? Ella, com tudo,
    Nereidas, não foi vossa, indaque dignas
    Sois de mil dons, e, como Venus, bellas.
    O que á Victoria escapa, engole a chamma;
    De jus: damno menor maiores véda;
    Mais facilmente detrimentos leves
    Caracter pertinaz subjugão, domão,
    Do que meigo favor o torna grato.
    Arde o Pinho, o furor Vulcáneo reina:
    Nutre o pez, e o betume as pingues flammas,
    Tanto á pressa, que em vão, inda recentes,
    Extinguillas quizera industria humana.
    Crebros estalos se ouvem: d’entre o fumo
    Brotão centelhas mil, como que aspirão
    Ás estrellas volver, donde emanárão.
    A lignea contextura eis toda hé fogo;
    E o fogo em linguas cento as nuvens lambe.
      D’entre penedos, e arvores, que a abrigão,
    Ao longo da ribeira a má Progenie,
    Accesa em furias vans, o incendio nota:
    Cuidadosa de si, da luz não fia;
    Artes, porém, que póde, a salvo exerce.
    Dalli com mira attenta os Marcios tubos
    Huma vez, e outra vez dão som baldado;
    Daqui baldados seixos vem zunindo,
    Ai! não todos baldados: mão tyranna
    Em alvo, que lhe apraz, có a morte acerta:
    E aquelles, que a bem custo _hum_ só podérão
    Tocar com leve golpe em campo aberto,
    Da perfidia amparados, se glorião,
    Ao ver que _hum_ semimorto os socios levão.
    De Marte a crua Irmã quer este sangue,
    Havendo de lavar aos Vencedores
    Tudo quanto hé mortal, e dar-lhes vida,
    Com que assoberbem as Idades todas.
    Silva[11] por isto os séculos invade
    Em rápida carreira irresistivel;
    França[12] por mãos da Gloria enloira a fronte;
    Rocha[13] morrer não sabe; o mesmo ignóra
    Esse, a quem de _Homem_[14] o appellido ajusta;
    E o que chamão _da Guerra_[15], e que o merece:
    E tu, claro Avellar[16], com elles vives,
    Com elles vivirás, em quanto a Honra
    Tiver cultores, e existencia o Mundo:
    Ri-se Virtude assim das leis do Fado.
      Era o tempo, em que a lassa Natureza
    Appetece o repouso; em que os Ethontes
    De nectar se robórão; quando a Noite,
    Diurnos pesadumes ameigando,
    Desdobra sobre a Terra o véo dos Astros.
    A quebrantada força então renovão
    Os descançados, os jacentes Nautas:
    Inda estão repisando o que lidárão.
    Este a aquelle refere, aquelle a este,
    Que riscos evitára, e que feridas;
    E quantos despenhou na sombra eterna.
    Fallão huns, outros fallão, té que o somno,
    Nunca tão brando, lhe entorpece as linguas.
    Mas da fallaz Cidade o Chefe injusto,
    De importunos cuidados perseguido,
    Os mimos de Morfêo gozar não póde.
    Seo negro coração ralão remorsos;
    Toma, pela desgraça, o peso ao crime,
    Ao crime, indole sua, e seo costume.
    O baixel, que perdeo, não dóe ao Féro;
    Os mortos Cidadãos tambem não chóra;
    Olha sómente a si: já vê, já ouve
    As flammas vingadoras; sente o ferro
    Ir-lhe sobre a cerviz; escuta o baque
    Das muralhas, das torres: pendem, pasmão
    Alvedrio, Razão: que escolha há nelle?
    »Novamente o Varão, que vezes tantas
    »Illudirão traições (diz o Tyranno)
    »Emprenderei mover? Submisso rôgo
    »Ha de sempre acalmar-lhe as justas iras?
    »Se os _Francezes_ lhe der, tão mal negados,
    »Será bastante? O que exigia, havendo,
    »Não ousará tambem quebrar promessas,
    »E no abuso da fé regozijar-se?
    »Vingança hé deleitosa ao resentido;
    »Sómente se não vinga o que não póde.
    »Que, pois? ... Á dubia sorte dos combates
    »A mim proprio exporei, e os meos prazeres?
    »_Dubia_ disse? ... Tentalla hé perder tudo.
    »Se podérão só tres pôr medo a tantos,
    »E esses mesmos a vida (oh pasmo! oh pejo!)
    »A tantos arrancar, ficando illesos,
    »Quem há que lhe resista, unidos todos?
    »Fóge, infeliz; e o que podéres, salva;
    »Fóge: assim pouparás vergonha, e morte.
    »Mas ah! triste! Em que plaga hirei sumir-me?...
    »Que mar, ou que paiz, bem que deserto,
    »Guarida me dará, prófugo, errante?...
    »Quem terei, que me siga, amigo, ou servo,
    »Já nua de esplendor minha grandeza?
    »Antes vulgo infiel após meos passos
    »Bramindo correrá; e ou da existencia,
    »Ou dos haveres meos, ou della, e delles
    »Por carniceiras maons serei privado.
    »Não, não; nossos desastres custem caro;
    »Usemos toda a fraude, os crimes todos.
    »Cerque-se de traições esse Guerreiro,
    »Vaidoso do troféo: có a falsa offerta
    »De tudo o que de mim quizer o Avaro,
    »Posso aqui outra vez, posso attrahillo.
    »E quando imaginária utilidade,
    »Vã cobiça o trouxer, se das ciladas
    »Intacto apparecer ante meos olhos,
    »Em pedaços farei có as mãos, có a bocca
    »A nefanda cabeça: ao peito aberto
    »O coração maldito hei de arrancar-lhe;
    »Roello, devorallo inda fumante.
      Tal esbraveja; e nem a si perdôa,
    A si labios, e mãos morde, remorde:
    Qual hórrida Serpente, encarcerada
    Entre férreos varões, se alguem a assanha,
    Com rápido furor se desenvolve,
    Cem vezes arremete ao que a provoca;
    Mas vendo, que debalde exerce a furia,
    De sangue os olhos tinge, agudos silvos
    D’entre as fauces venéficas despede,
    Com que a farpada lingua está vibrando;
    Em tudo o que a rodêa, em tudo ferra
    Os espumosos dentes, e em si mesma,
    Ensovalhando o chão, e a vária cauda
    Có as sórdidas peçonhas, que vomita:
    Em tanto o mofador se ri seguro.
      Da Aurora o nuncio amiudára o canto.
    O matutino humor tempéra as mágoas,
    E os somnos insinua até no Afflicto:
    Por isso do Bachá desatinado
    Virtude soporifera se apossa,
    Lhe amansa os frenesis, lhe cerra os olhos.
    Como quem fatigado está das iras,
    Pesadamente o Bárbaro resóna.
    A seos males, porém, não colhe allivio,
    Nem demorada paz lhe rega os membros.
    Fantasmas, que velando o espavorião,
    Inda entre a doce languidez o aterrão.
    Vê-se indigente, só, desamparado,
    Ermos em outro mundo a pé trilhando,
    Ermos sem rasto de homem, nem de féra;
    Onde ave alguma não discorre os ares.
    Já sévo Abutre de implacavel fome
    Lhe atassalha as entranhas; já querendo
    Fugir de hasta inimiga, que o persegue,
    Que lhe toca as espaldas quasi, quasi,
    Treme todo, e mover não póde a planta;
    Já pende de ardua rócha sobre as ondas.
      Eis entre estas visões, que traça o Medo,
    Imagem verdadeira, agigantada,
    Clara, como o que a luz nos apresenta.
    Surge aos olhos do attónito Agareno.
    Aquelle a quem venéra ainda o Ganges,
    E o rio[17], que Imaús na origem banha;
    Aquelle, que de jus noméão _Grande_,
    De Marte émulo não, mas _Luso Marte_,
    Albuquerque immortal, de amor eterno
    Pelos seos penhorado, esquece o néctar;
    E, escusando hum momento os bens celestes,
    Não desdenha baixar aos impios Muros,
    Nem có a palavra serenar discordias.
    Á Náo, que do seo nome se engrandece[18],
    Arde por madurar devidos loiros.
    Com vozes ponderosas accommette
    O aterrado Tyranno, que maquina
    Na desesperação atrocidades.
    Resplandece o Guerreiro; hé tal, hé tanto,
    Como quando o temeo por vezes duas
    A que do Indico Estado hoje hé Cabeça;
    Como quando Malaca o vio triunfante;
    E em ti, pomposa Ormuz, pendões erguia:
    No magestoso olhar, na longa barba
    Traz a veneração, e arnez hé todo.
    »Que intentas, miseravel? Que revolves
    »No espirito dobrado? (a Sombra exclama).
    »Crês acaso afastar o mal, que te insta,
    »Perfidia com perfidia encadeando?
    »Não sabes, por ventura, a quem te atreves?
    »Que Nação contra ti, que Throno irritas?
    »Esquece-te, que nunca impunes deixão
    »Taes crimes? Quem melhor, que Moiros, deve
    »De Luso conhecer a ousada Estirpe?
    »Inda que até dos teos a historia ignores,
    »Força hé que saibas o que sabem todos:
    »Que estragos, que deshonras grangeastes
    »Deste Povo de Heróes, em resistir-lhe.
    »Sobre esmagados collos de Reis Moiros
    »O Maior dos AFFONSOS, o Primeiro
    »Impoem da Monarquia a Base eterna.
    »Flagello assolador da Maura gente,
    »Em quanto a Regia Mão fulmina o ferro,
    »E o grão Mendo, nas portas entalado,
    »Abre caminho aos seos; eis se apodérão
    »Da celsa Fortaleza, e da Cidade,
    »Que hé longa tradição fundára Ulisses;
    »Essa, que do aureo Tejo honrando as margens,
    »Alterosa, escorada em sette montes,
    »Taes fados mereceo, que ambos os Pólos
    »Tiverão de acatar-lhe as Leis sagradas.
    »SANCHO, digno do Pai, com quantas mortes
    »Injustas possessões ao Moiro arranca,
    »E ajunta novo Reino ao Reino Avito!
    »Ondas de negro sangue Mauritano
    »Pela terra visinha, e pela herdada
    »Derramão, coriscando, outros AFFONSOS.
    »Nem maculou sómente os nossos campos
    »A mortandade vossa. O Quinto AFFONSO,
    »E o Primeiro JOAÕ restavão inda,
    »QUE ao proprio seio d’Africa levárão
    »Ferro, e flamma, e terror: MANOEL restava,
    »_Feliz_, (e com razão Feliz chamado)
    »QUE, maior do que o seo, quiz ter mais Mundos,
    »E a QUEM prostrados Reis seo REI quizerão.
    »Tangere o sabe; Arzilla, e Ceuta o dizem;
    »O attestão Indios, Númidas o attestão.
    »Relatar huma, e huma acções tamanhas
    »Para que? Dos Heróes sómente os nomes,
    »Sem o immenso louvor, que os acompanha,
    »Pedem horas: sobeja o que hás ouvido,
    »Para attentares bem, que lance estreito
    »Hé o lance, em que estás, e com que Gente.
    »Pondéra ainda mais, quão despresiveis
    »São para o Portuguez ciladas tuas:
    »Há muito que a experiencia nos ensina
    »Até que altura o Moiro enganos sóbe:
    »A Prudencia, e Valor nos meos competem.
    »Porque, pois, te detens? Supplice, e curvo
    »Huma vez, outra vez, porque não rógas
    »Aos Lusos teo perdão, bem que indevido?
    »Se elles se pagão de calcar soberbas,
    »Se de punir delictos se comprazem,
    »Apiedar-se do réo tambem lhe he uso,
    »Quando os implora. Ao tempo, em que vingado
    »O Sol tenha o Zenith, a _Náo_ possante,
    »A maior, que teos portos fortalece,
    »Será do Vencedor; sello-hão com ella
    »_Dois menores Baixeis_ recem-cativos,
    »E o _Chefe_, e as _Equipagens numerosas_.
    »Mas não temas; có a supplica rendida
    »Tudo recobrarás. Cobiça de oiro
    »Jámais vicia o peito aos generosos:
    »Não quer servos, nem presas; quer amigos
    »Minha honrada Nação. Eia, aproveita
    »O tempo, que te hé dado: olha, que foge.»
      Disse, e voou sem que resposta espere.
    Salta do leito o Moiro arripiado,
    Volve em torno, e revolve os turvos olhos.
    Quasi arrombando as portas, corre tudo,
    Tudo vê, chama, brada, acodem servos;
    Mas não sabe, o que diga, absorto, insano.
    Nisto ao mar de repente os olhos volta;
    Por todo elle os alonga, e fica immovel.
      Em quanto as ondas sôfrego examina,
    Não ser sonho a Visão, no effeito observa.
    Vê como a Lusa Náo demanda o porto;
    Como próxima a elle, em roda vira;
    Como enfunada, e mais veloz que os Euros,
    Vai dar caça ao Baixel, que ao longe aponta
    Com remeira Galé; vê como as toma;
    Como as presas conduz, e audaz campêa:
    Como sobre a maior em fim subido
    Castro[19], e nada tardio, á voz do Chefe,
    Outra, que sobrevém, combate, e rende.
    Fôra melhor á Triste o dar-se logo.
    Daquella, bem que inutil resistencia,
    Gloria, afoito Avellar[20], houveste em dobro.
    Usado a presumir que a morte hé nada,
    Com poucos, e munido de ti mesmo,
    Eis o Mauro convés ganhas de hum salto:
    Gira o ferro, e triunfas, dois prostrando.
      Tudo isto, verdadeiro em demasia,
    E d’alta Apparição vaticinado,
    Caramáli[21] do Alcáçar descortina.
    Primeiro o coração lhe agitão furias;
    Não pára; vai, e vem; doudeja, freme;
    As melenas arranca, arranca as barbas:
    Pouco a pouco depois temor o abranda.
    Gravado tem o Heróe na fantasia;
    E porque em tudo o mais o vê sincero,
    No resto da Visão firma esperanças.
    Hesitando, com tudo, em si murmura:
    »Quem do contrario seo fiar-se deve?»
    Mas, passado hum momento, assim não pensa.
    »Em tentar que me vai? Senão, que resta?»
      Disse, e a hum, entre os seos authorisado,
    Que lhe provára fé n’outros extremos,
    Envia de Albuquerque á Náo temida
    C’os _Francezes_ fataes, que, á similhança
    Da Gorgónea carranca, damnão vistos.
    Diz-lhe (se tanto ousar) »que em troco delles
    »Peça os Varões, os Lenhos apresados;
    »E tudo facilite ao grato assenso.»
      Além das esperanças vai o effeito:
    De nada para si querendo a posse,
    Donaldo restitue (acordes todos)
    O _Almirante_ infiel, _Varões_, e _Lenhos_;
    E prende a tantos dons o dom brilhante,
    Que suspira o Bachá, de Amigo o nome,
    Promettendo que o Throno há de approvallo.
      O coração do Régulo não basta
    Ao jubilo insperado. Alegres vivas
    A voz dos Cortesãos, e a voz do Povo
    Manda aos ares: no pélago reflectem,
    E tocão dos Lusiadas o ouvido.
    Que nectáreas correntes inundárão
    Portuguezes espiritos, olhando
    Sobre as amêas das profanas Torres
    As Bandeiras de hum DEOS, de CHRISTO as Quinas,
    Do Reino occidental eterno Abono!
    Em quanto acclamações da infida Plebe,
    E a espaços o trovão da artilheria,
    Já do mar, já da terra, os Céos atrôão!
    Eis de tanto suor o idóneo preço:
    Quem seo DEOS, e seo REI a hum tempo serve,
    Que mais quer, ou da Gloria, ou da Ventura?
      A Ti, ó LIMA[22], Conductor supremo
    Da Lusitana Esquadra, a Ti, que és Grande
    Na Ascendencia de Reis, no Gráo, nos Fados,
    Inda maior no Engenho, e na Virtude,
    Tambem do Caso illustre se deriva
    Applauso não vulgar: por Ti mandado
    Fez o patrio Valor tão raras coisas:
    Foi sua a execução, Teo fôra o plano.
      Nem menores pregões Te deve a Fama,
    Nelson preclaro, da Victoria Filho,
    Que usurpas a Neptuno o grão Tridente:
    O que o Luso acabou, Tu lhe apontaste.
      Mas a origem de tudo a QUEM respeita,
    A QUEM melhor quinhão de gloria cabe,
    Ou falle a Musa, ou não, ninguem o ignora:
    Soão praias seo NOME, e soão mares.
      A Nautica Pericia, que afamados
    Outróra os Portuguezes fez no Mundo,
    Que os levou a reinar a extremas plagas,
    Sem cultura jazia (oh vilipendio!)
    Do centro das Brasilicas florestas
    Desarreigadas quilhas inda arfavão
    Sobre as Tágicas ondas, mas em ócio.
    E se alguma imprudente ousava acaso
    Ás Hyadas expôr-se, expôr-se a Arcturo,
    Ronceira dividia o Lago immenso,
    Dos mares, e dos ventos esquecida;
    Incapaz do Conflicto, e da Procella.
    Raro o Nauta, e com alma entorpecida,
    O ministerio seo desaprendêra:
    Obedecer, mandar nenhum sabia
    Eis COUTINHO[23]: eis o Genio antigo acorda;
    Eis nova Geração com ELLE assoma.
    Para Marte, e Nerêo sábia Académia
    Cultiva Cidadãos: escolhe entre elles
    O illustrado VARAÕ, quem se avantaja;
    E, bem que repartido em mil cuidados,
    O peso de altas coisas sostentando,
    C’o louvor afervora o que he louvavel,
    E em quem merece o premio, os amontôa:
    Desta arte a Mocidade aos astros sóbe;
    Assim com Socios taes luzio Donaldo.
      Oh tres, e quatro vezes venturosos
    Nós, aquém dado foi, que respiremos,
    Subditos de JOAÕ, serenas vidas;
    E ser de tanto Bem participantes!
    JOAÕ, da Patria PAI, RENOVO Insigne
    De Monarchas, de Heróes, de Semideoses;
    AMOR, GLORIA, ESPERANÇA, e LUZ da Gente,
    Que, os mares invadindo, ousou primeira
    Ver, e afrontar o Adamastóreo vulto;
    Desde a ultima Hesperia hir lá na Aurora
    Arvorar contra as tórridas Falanges
    O Estandarte dos Céos, Penhor do Imperio;
    JOAÕ, QUE em quanto as Guerras tudo abrázão,
    Em quanto Erinnys senhorêa o Mundo,
    Afaga, Justo, Pio, Optimo, Ingente,
    Com amorosa paz os largos Póvos,
    Que o Jugo LHE idolatrão, perto, e longe;
    Do Exemplo dos AVÓS Illuminado,
    D’ELLES nutrindo em SI toda a Virtude,
    Na principal, na egregia SE realça
    De eleger (tudo o mais daqui depende)
    Almas, com quem do Sceptro adoce o peso.
    Astuto Cortezão, que ambiciosos,
    Sinistros, devorantes pensamentos
    Com zelo vão, fallaz pallia, e doira.
    Hé por ELLE repulso; e chama aquelles,
    Que as Honras merecendo, ás Honras fógem.
    O veneno dos Paços, a Lisonja
    Ante Seos Olhos em silencio treme:
    Só da Verdade Oráculos attende,
    Só da Sciencia Oráculos escuta:
    Pallas, Themis presidem-LHE aos Conselhos;
    Ás Acções LHE presidem Themis, Pallas.
    Não, para sobjugar Nações, Imperios,
    Não despe o ferro aqui Gradivo iroso;
    Mas só porque na força a Paz se estêe
    E só porque sem nódoa permaneção
    O Decóro, os Brazões de altos Maiores.
    Não he Seo, para SI JOAÕ não reina:
    O Pôvo, a que dá Leis, prefere a tudo.
    Orem Nobre, Plebêo, Nautas, Colonos,
    Ou diante do Solio, ou não presentes;
    Ore o Commerciante, ore o Soldado;
    Provão merecimento? Os premios levão.
    Volve feliz o que infeliz O busca:
    A todos satisfaz, Igual com todos;
    E até mesmo ao desejo o Dom precede:
    Só com pesado pé se móve a Pena.
      Ó Lysia, ó Patria, surge, altêa a fronte:
    Que não cumpre esperar com taes Auspicios?
    Eia, applaude a Ti mesma, ó Lysia, applaude.
    As Tres, em cuja voz os Fados soão,
    Prazeres de oiro para Ti já fião.
    Sahe, (Reinando JOAÕ) sahe das estrellas
    Ordem nova de Séculos ao Mundo:
    Folga: Assombros tens já; viráõ Portentos.
    Sôltas do coração, mil preces manda
    Aos Climas immortaes; fatiga os NUMES,
    Porque da ESPOSA ao lado Excelsa, e Cara
    O CONSORTE Real no Throno exulte;
    Porque orvalho do Céo fecunde, amime
    Os Tempos de JOAÕ, de nuvens limpos;
    Porque IDOLO dos Seos, TERROR de Estranhos,
    Brilhe, viva, e dos Netos Netos veja;
    Até que tardas Eras O arrebatem
    Aos Astros, donde veio honrar a Terra:
    ELLE hé digno de Ti, Tu digna d’ELLE.

                                  FIM.


NOTAS DE RODAPÉ:

[1] A Cidade de Tripoli na Barbaria.

[2] O Bachá de Tripoli José Caramali.

[3] O Chefe de Divisão Donald Campbell.

[4] ElRei de Hespanha.

[5] O Grão Turco, a quem hé subordinado o Bachá.

[6] Carlos XII. de Suecia.

[7] O Capitão de Fragata José Maria de Almeida; hoje Capitão de Mar, e
Guerra.

[8] O Capitão Tenente Miguel José de Oliveira Pinto; hoje Capitão de
Fragata.

[9] O já mencionado Capitão de Fragata José Maria de Almeida; hoje
Capitão de Mar, e Guerra.

[10] O Segundo Tenente Alexandre Luiz de Sousa Malheiro; hoje Primeiro.

[11] O 1.º Tenente Pedro da Silva; hoje Capitão Tenente.

[12] O 1.º Tenente Luiz de França; hoje Capitão Tenente.

[13] O 2.º Tenente João Eleutherio da Rocha; hoje 1.º

[14] O 2.º Ten. Francisco Homem de Magalhães; hoje 1.º

[15] O Guarda Marinha Gaudino José da Guerra; hoje 2.º Tenente.

[16] O Sargento de Mar, e Guerra Manoel Ignacio de Avellar; hoje 2.º
Tenente.

[17] O Indo.

[18] Denomina-se a Náo _Affonso de Albuquerque_.

[19] O Capitão Tenente Manoel do Canto, e Castro; hoje Capitão de
Fragata.

[20] O já citado Avellar.

[21] O Bachá.

[22] O Excellentissimo Marquez de Niza.

[23] O Excellentissimo D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Ministro, e
Secretario de Estado dos Negocios Ultramarinos, e da Marinha.




                                CARMEN.


    Tu ne, Musa, time; fidens tua plectra moveto.
    Ardua si tentas, haud viribus æqua, labori
    En DEUS aspirat, CUI non certaret Apollo,
    Non Heliconiadum turba ingeniosa sororum.
    Pindum, ac Parnassum vani lusere Poetæ;
    Nusquam Hippocrene: Solio tibi manat ab alto;
    Quæ tardam exacuat felix audacia mentem.
    Hac secura voles; tranareque nubila cæli,
    Et pelagus valeas; valeas arcana subire,
    Incertæ nondum famæ corrupta loquelis.
    Se quasi frustrari libeat, præsentia Vatum
    Numina sollicitent alii, laticesque requirant
    Aonios: vero QUI numine parva JOANNES,
    Cum velit, extollat, præcelsa teratve, canenti
    Dexter adest, nutuque silens jubet alta benigno,
    Unde tibi virtus, mens Unde est, spiritus Unde.
      Jamque ardent animi præclara sub Auspice tanto
    Dicere, magnanimum laudes celebrare Virorum:
    Qua gens perfidia, quo crimine Maura nefando
    Pectora Lusiadum veteri succenderit igne;
    Quasve novas dederit pœnas odiosa propago;
    Donec in officium Mavors rediisse coegit.
    Ficta procul: sincerus amat sincera JOANNES.
      Labitur in medias terras ubi longius æquor,
    Cujus ad os validas fertur posuisse columnas
    Amphitryoniades, jacet urbs antiqua, ruinis
    Se veluti retrahens Byrsæ, Trinacria longe
    Littora prospectans; opulenta, et nobilis olim,
    Dum non armato Navarrus milite pressit;
    _Nunc tantum sinus, et statio malefida carinis_.
    Hinc solet infestas cava trabs agitare rapinas;
    Huc redit exuviis miserorum læta cruentis:
    Nec solis gaudet spoliis, in vincula mittit
    Imbelles, pecoris quos aut divendit ad instar,
    Servitio aut premit indigno teterrima proles,
    Naturæ probrum, labes ratione fruentum.
    Hoc decus, hic illis honor, hæc laus dira relicta est.
      Eminet imperio præstans feritate Tyrannus,
    Obscœnæ stirpis custos obscœnior ipse.
    Perfidus hic teneris versare peritus ab annis
    Omne nefas, temere fas omne abrumpere doctus,
    Quod non arripiat, crimen non prospicit ullum;
    Et siquod videat se præteriisse, dolebit:
    Prodigio similis, magnum nisi sparsa per Orbem
    Fæx hominum hæc esset; potius ferienda securi
    Quæ fuit, urbanis ultro quam digna citroque
    Officiis, nedum sociali fœdere jungi!
    Quod si aliter visum Rerum Moderantibus axem,
    Lux veniet, spero, libeat cum finibus exul
    Extremas immite genus detrudere in Arctos,
    Qua trahit hybernus torpentia plaustra Bootes;
    Seu Notus unde recens bacchatur, inhospita tellus
    Hos sibi conquirat cives, teneatque per ævum:
    Sive habitent saltus, furtivoque antra recessu,
    Sanguinem ubi pascant socii, nova monstra, ferarum,
    Ungue rapace quibus præeunt, virtute minores.
    Cum scelus ingenium est, nihil inde evolvitur æqui;
    Jam Natura malas nequit obliviscier artes:
    Nam qui pœniteat morum, per sæcula postquam
    Invaluit, totosque lues descendit in artus?
    Crimen ubi donis cumulatur, casta laborat
    Esurie Probitas, vulgo exagitata procaci?
    Barbara progenies inversis omnia dicunt
    Nominibus: justa oderunt, injusta probantes.
    Ardor is est sceleris, sic noxæ prævalet usus,
    Ut perpetrandi facinus non tempus omittant,
    Vel prædæ rapti stimulis, vel amore nocendi;
    Interdum ne aliquid videantur ferre decori.
    Quam non hæc reddam fallaci pectore, nemo
    Non norit: quales mendax emiserit auctor,
    Hæresis infandæ comites, Mahometus alumnos,
    Auribus atque oculis tantummodo nesciet expers.
      Quæ nuper, generose Donalde, immania turpi
    A grege pertuleris, quas dic fraudesque dolosque!
    Quot varios casus; quot adire pericla, labores
    Teque, tuosque Ducis perjuria fœda bilinguis
    Impulerint, animo tamen omnia victa potenti!
    Eximio imperii summi decoratus honore,
    Obtuleras ultro _Pacem_, quam Barbarus ipse
    Suppliciter, magno Rege auxiliante, petebat.
    Lex non ulla fuit levior: _Quod dedere Gallos_
    (Offenso Domino; læsis pariterque Britannis,
    Fœdere conjunctis, Tripolinæ in mœnibus urbis
    Comiter exceptos) _festinet_: et illico voti
    Se putet esse reum; accipiat dextramque, fidemque
    PRINCIPE ab Augusto, fulvis pretiosus arenis
    QUEM Tagus observat; Gangesque, Nigerque veretur;
    Subditus immensas resonantia in æquora gurges
    Volvit Amazonius, nec non Argenteus undas.
      Regulus acclamat gaudens, ardetque pacisci.
    Jam properat, fortemque Virum studiosus in aulam
    Invitat; quidquid mens suggerit atra, paratus
    Exercere prius, quam consentanea Vero,
    Commoda multa sibi quantumvis afferat, optet.
      Haud mora: quid tristes arces fatale minentur,
    Quidve domus ferat ambigua, imperterritus Heros
    Nequaquam metuens, hostiles tendit in ædes.
    Talis acerbati Carolus prorupit in hostis
    Ora, domumque audens, solus; post multa regressus:
    Seu talis monitu contempto Cæsar amico,
    Barbara conflantem celeravit adire Senatum,
    Vincere consuetus vultu, indocilisque timere.
      Imperat interea puppi Legatus in alta;
    Dum redit ille, (valet si forte redire superstes)
    Nocte vigil memores solerti pectore curas
    Pertractans: animoque æger, spem fronte serenat,
    Ni regredi liceat, cum jam lux alma resurgat,
    Inducatque novum terris Aurora decorem,
    De se nil curans absente, irrumpere in hostes
    Dux jubet invictus, toto quo robore possint.
    Pro nihilo sibi vita fuit, potiora tuenti.
    Nam pede quam celeri fugiunt hæc munera lucis;
    Quam, si Fama silet prænuntia, maxima parvis
    Nomina nominibus miscent oblivia Lethes,
    Haud acrem latet ingenio, cui gloria cordi est.
    Rejicit in vulgus tangentia gaudia sensus:
    Grandibus addictus, lethum, et vulgaria temnit,
    Ætates, fato major, victurus in omnes.
      Quid Fabios memorem redimentes prælia solos?
    Quid Regem, cives moriens qui reddit ovantes,
    Ultimus imperio Cecropis dominatus in agris?
    Quidve feram Juvenes, mactant qui densa cadentes
    Agmina, flumineos potando morantia cursus,
    Centuplicem decies numerum (mirabile dictu!)
    Quot nusquam, nullo quis tempore millia duxit?
    Nil Veterum monumenta docent illustrius; imo
    Firmius haud quidquam, quidquam vehementius ausit,
    Nobiliusque sibi jam fingere mascula Virtus.
    Quæ tamen apparent rerum transcendere metas,
    Monstrat, qua peragi possint ratione, Donaldus.
    Et Codro, et Fabiis, Lacedæmoniæque Juventæ
    Vix liquit partes Unius fama secundas.
    Atticus ille suis quæsivit morte triumphum:
    Magnum est; sed populo debebat talia civis,
    Et ductor, monitis etiam signata deorum.
    Romanos inimica senex in castra simultas,
    Et palma expectata, et non dubitabile traxit
    Nominis augurium, nullo delebilis ævo:
    Tum patriis pulchrum occidi succurrit in armis.
    Quæ se, quæque deos, quæ natos, atque parentes,
    Uxoresque tuebantur, pro parte virili
    Angustas presso propugnavere Lacones
    Si pede Thermopylas, sibi dulcia fortiter ipsos
    Defendisse patet; quodque aspera fata levaret,
    Cum cecidére, datum est, ut non morerentur inulti.
      At meliora quidem circumstant omnia Factum
    Egregium, immortale, mihi quod ferre per Orbem
    Contigit invalido, valido grave pondus Atlanti.
    Non hic illecebris, ut fit, jucundior ullis;
    Nuda sed occurrit, per se pulcherrima, Virtus.
    Pectore nequitiem, quam vocibus improbat, odit,
    Virtutemque colit, Virtutis amore, Donaldus.
    Nil, raptare solet quod maxima in omnia mentes,
    Nullus amor patriæ, vindictæ nulla cupido,
    Utilitas, aliusve furor commovit agentem.
    Ante oculos habuit tantum, quod munus obiret,
    Eventus quicumque foret, quodcumque periclum.
      Heu! quot Concilium horrendum jam mente volutat,
    Quot struit insidias! Plebs undique convenit exlex,
    Seque inter furtim venturo retia tendit.
    Exultant præda: plus indulsisse videtur
    Ingenio, summisque efferri laudibus ille
    Dignior, inventum cujus sit atrocius, ore
    Qui vomat impuro novum, et execrabile quoddam,
    Flagitium insolitum, rabida plaudente corona.
      Hic monet, invisam pedibus vix tangat arenam,
    Excipere Incautum ferro, lacerumque propinquas
    (Horresco referens) dispergere corpus in undas:
    Hic mavult, immissa cohors in fœdus euntem
    Hinc telis atque hinc subito quod figat acutis,
    Securus mediam cum progredietur in urbem:
    In caput, alterius monitu, violabile nulli,
    Pulvere nitrato prægnans, cava fistula mortem
    Eminus ejacularetur: seu tramite subter
    In terram ducto, qua Vir procedat, oportet,
    Nonnullo suadente, latens erumperet ignis:
    Atque alia eructant alii, superanda vicissim.
    Perversas adeo mentes habet æmulus ardor
    Crimina patrandi, sic dulce est dedecus illis!
      At DEUS Omnipotens molimina cuncta fefellit.
    Tale Vir induitur decus, observantia vultus
    Tanta est, ut media medios in luce per hostes
    Conspicuus, damno spatietur sospes ab omni.
    Non, nisi magnorum scelerum bene cognitus usu,
    Exitiale nefas peragendum suscipit ullus.
    Cum tamen in prædam mens involat improba, (mirum!)
    Dextera consilio refugit servire maligno.
    Sævit in officium lethale ter apta voluntas,
    Carnificum inclemens animo ter linquitur agmen,
    Ter manibus trepidis penetrabilis excidit ensis;
    Invitisque dolis, insignem Victor inermis
    Ducit inoffensus per compita cæca triumphum.
      Limina jamque subit (Caco haud indigna) Tyranni;
    Sive ut paciferæ det amicum pignus olivæ;
    Seu, reboante polo, missurus fulmina belli.
    Quid cessas? Quid jam, Vir magne, tonitribus aures
    Non quatis insanas? Quid stant fera mœnia? Quare
    Vela Noto sinuosa intendens, Regia nondum
    Fulgurat horrendum Navis? Credisne futurum,
    Ut reperire fidem semel his tibi detur in oris?
    Numquam post homines natos Astræa scelestas
    Visa fuit coluisse plagas, ubi Pacta Fidesque
    Cardine versantur duplici: _Pretio_ve, _Metu_ve.
    Eia age, rumpe moras: generi ne parce nefando.
    Muneribus certent alii; tu cuspide, flamma.
    Omnia quæ subigit, ratio civilis agendi,
    Non hic componat secum pugnantia verba:
    Detestanda nihil, præter vim, turba veretur.
    Obsecrat assiduus tutæ dum fœdera pacis,
    Barbarus effugia exquirit, disturbet ut unam,
    Ad rem qua tantum veniat sententia, legem.
    Non quod sollicitus _Gallos_ sibi quærat amicos;
    Sed modo ut inveniat, quo pacto imponat utrisque:
    Frustra: circumspecta præest sapientia dictis:
    Callidus, objecit quæcumque dolosa, retundis.
      Quam male conveniat, primo, quem obtrudit, honori,
    Communem sociis, et, cui parere tenetur
    Subjectus, Regi, sociasse penatibus hostem,
    Ostendis; concertatos dein puppibus altis
    Pollicitus (quondam nulli data gloria) _Captos_
    Mittere barbata ad Dominum comitante caterva;
    Nam, post multa vafer, Dominum prætexit et ipsum:
    Nulla reliquisti, Vero quæ opponere posset.
    Se tamen obfirmat, caussisque resistit in isdem;
    Non secus, ac surdo, aut si fiant verba sepulto.
    Altius hæc prævisa tibi, Maurusia quorsum,
    Experto, rabies in Fas pervadat, et Æquum;
    Natura indociles plus indulgentia quanto
    Difficiles animos reddat: sed Marte feroci
    Subversurum operum moles, atque impia letho
    Corpora, sic meritos juvenesque, senesque daturum,
    Cuncta prius tentare juvat: si forte disertis
    Vocibus edictos miserandæ stragis acervos
    Formidet genus ignavum; neque sanguine mixto
    (Proh dolor!) humano, pigeat vidisse rubore
    Cærula tincta novo, terrasque cruore madentes.
    Quid vero Pietas prodest? Spes interit omnis;
    Curæque, ærumnæque ingentes irrita cedunt.
    Nequicquam gemitus imo de corde petitos
    Edis: inhumanos opus est advertere in hostes.
      Tum demum indignans, hostilia concipit Heros:
    Omnia mente putat temeraria gentis iniquæ;
    Horrida tecta, urbemque feram, portusque relinquit.
    Supplicibus facilem nuper, nunc ardor adurit
    Calcandi tumidos: veluti nemoralibus umbris,
    Aut cum per Libycas fertur jejunus arenas,
    Rex Leo fastidit generosus, calle viator
    Corpore qui jacuit pavidus; truculentus at ipse,
    Quem videt adversum, frendens evertit, et audax,
    Quo plures oppugnabunt, magis æstuat ira;
    Nec, jaculis acies horrens si provocat unum,
    Segnior aggreditur moriturus in arma decore.
      Ære salutanti, plausuque sequente faventum,
    Ecce statim malo signum diverberat auras
    Sanguineum, non enarrabilis omina cædis.
    Turba modum nescit: Martis certamina poscunt.
    Omnia rite parant; describitur ordine munus
    Cuique suum, Navis dum pandas explicat alas.
    Fax manibus lucet; reseratis ænea centum
    Ora patent foribus, volucrem minitantia mortem.
      Jam tremit urbs infida, manus ad sidera tollens;
    Jam confessa nefas, in semet probra retorquens,
    Orantes mittit supplex breve tempus, anhelis
    Quo requies animis, liceatque timore solutis
    Consuluisse sibi: referunt concessa precantes.
    Debita jampridem, duodenam tardat in horam
    Pœna dolis, populo tandem infligenda protervo.
      In nubem interea nigrantem cogitur aer,
    Nec dudum splendens, tristis præsagia damni.
    Concio narratur procerum numerosa sub Orco
    Pro consanguineis, tetrico circumdata Diti,
    Christiadum in cœtum, quos Lysia nutriit uber,
    Nunc vastaturos Mahometica mœnia misit,
    Multa Jovem Stygium manibus rogitasse supinis,
    Audiit umbrarum Rex impia vota precantum;
    Et famulo, quem habuit propiorem, talia mandat:
    Quod celer Æoliam superas apportet in auras
    Ventorum hæc torvo tempestatumque Tyranno
    Edicenda suis verbis: »Tentare superbum,
    »Tartara defraudantem animis, Acheronta perosum,
    »Nil non audentem Populum vada salsa carinis,
    Ȯquorei fratris liquentia regna, subinde
    »Quem vult admonitum: sociis ut viribus ambo
    »Indigna sibi grata loca obsidione prementem
    »Exagitent mare per vastum, stridente procella,
    »Rectore amisso, rupta compagine, _Puppem_;
    »Sive vadis illidendam, saxove latenti
    »Præcipitem avertant pelago; fremituque rogantum
    »Auxilium frustra audito, festiva bibentes
    »Urbs mortem cernat mediis in fluctibus ipsos.»
    Dixit, et in superas jam Nuncius evolat auras;
    Advenit Æoliam properans, ac jussa facessit.
      Mittitur angusto jam carcere turbidus Eurus,
    Obvia quæque trahens. Mollis fugit aura Favonî;
    Lux Fugit: horrisonum cœpit mugire profundum.
    Unda tumet; totumque cito canescere pontum,
    Undique præruptos videas consurgere montes.
    Lignea texta gemunt; arbosque triplex momento
    Huc illuc decies, jamjam lapsura, vacillat.
    Utque pila siquis volitanti luderet icta,
    Sidera nunc tangit, tangit nunc Tartara Pinus;
    Itque reditque frequens, sursum levis, atque deorsum.
    Condidit ora tribus lugubris Apollo diebus;
    Noctibus atque tribus sua lumina condidit æther:
    Nec violenta die veterator flabra secundo
    Si tenet Hippotades, fraus est accredita cauto.
    Horrida bella parans, ferroque instructus, et igni,
    Dum malus assimulas faciem, Neptune, serenam;
    Dux jubet expertus mox proram obvertere in altum,
    Ut freta permiscent iterato murmure venti:
    Littoreis ne forte salis violentia molem
    Turbine jactatam nimboso impingat arenis.
      Huc vi, qua pollent, contendit Numen utrumque:
    Qua circum patuit Nereus, circumvenit horror.
    Luctantur varia Fratres regione furentes;
    Fluctibus incursant fluctus; subito mare motu
    Intremuit longum: mediæ telluris ab imis
    Visceribus credas Orbem Plutona movere.
    Tot simul impulsum, qua dirigat arte magister
    Præcepti lignum impatiens? Abiesque, rudentesque
    Haud perstare valent: antenna fragore ruinam
    Ingentem traxit, lacerataque vela susurrant.
      Curarum, hæc inter, minime Vir mole gravatus
    Omnibus acer adest, partes divisus in omnes;
    Consilio, exemploque juvans. Abit æmula virtus
    In cunctos: nemo segnis: rapiuntque, ruuntque.
    Ars vicit prudens; audax constantia vicit;
    Atque alta æquatis jam velis æquora Navis
    Sulcat ovans. Nutu QUI fulgida sidera torquet,
    QUI Mare, QUI Ventos, Erebum, Terrasque gubernat,
    Haud sinit infestos ultra nocuisse tumultus.
    Namque modo ut Virtus niteat memoranda Virorum,
    Tot licuit pugnas ventisque, undisque ciere.
    Effera placatur sensim discordia Fratrum:
    Nubibus obductus, solito fit purior æther:
    Lux redit; atque redit jucundior aura Favonî.
    Ut fluctus revocet, squammosam assumere concham
    Jussus erat Triton; assumptaque uvidus ille
    In summas emergit aquas, maria omnia circum
    Voce repleturus: vox protinus attonat ingens;
    Raucosque audivere sonos Occasus, et Ortus.
    Quæque suos, invita licet, petit unda receptus:
    Hæc propior Siculas festina recedit in oras;
    Hanc Syrtes capiunt; longinquas illa revisit,
    Venerat unde pari Tripolis pro nomine, ripas:
    Oceani juxta fines nonnulla moratur;
    Excita non alias fundo, quædam ima resedit.
      Ergo die tandem quarta, dum barbara summis
    Culminibus Turba explorans, illusa putabat
    Corpora naufragio fluitantia cernere longe,
    Antennas, tabulasque; ut Lysia gaza per undas
    Nota foret cuidam; aut qui non auderet acutum
    Sic vidisse procul, demens jactabat ubique:
    »Nil, nisi relliquias, sicui maris ira pepercit,
    »Effractam laribus puppem retulisse paternis»:
    Laxa gubernator dat amicis carbasa ventis;
    Atque eadem relegens, ad cognita littora tendit,
    Incassum, meritas dudum, vitantia pœnas.
      Jam nox finierat; sed nondum luce corusca
    Fulgor Apollineus terras complebat, et æquor;
    Ut neque jure diem posses, neque dicere noctem.
    Cum vero illuxit, penitus fugientibus umbris;
    Et caput Eois Hyperione natus ab undis
    Extulit, ipse prior velis, remisque _Celocem_
    Insignem propius vidit, nautisque videndam
    Obtulit: insequitur Navis: fugit illa volucris,
    _Agmine remorum celeri, ventisque vocatis_.
    Ac veluti properis quærit per inania pennis,
    Vix aquilam sensit, tremefacta columba salutem;
    Nec legit examinata locum, seu lustra ferarum,
    Sive nemus, seu sint magnarum tecta domorum;
    Dummodo (quam raro!) curvos eluserit ungues:
    Sic ratis exiguis pro viribus aufugit hostem
    Parvula præstantem, flexis ambagibus; et cum
    Non datur elabi, fragilem conterrita proram,
    Jamjam hæsura vado, solitis advertit arenis.
    Hic animos reparata sedet securior; altam
    In brevia haudquaquam descendere posse carinam
    Quippe sciens. Tum elata fronte insana superbit;
    Prælia tum jactat; tum cristas vertice tollit;
    Et quibus attingi non possit, in arma lacessit.
    Haud impune quidem: nam quid mortalibus obstat,
    Ut semel irarum æstus fortia pectora movit?
      Extemplo, ducente _Scapha_, exiluere _Phaseli_
    In mare veloces, flagrantes vindice flamma.
    Certatim delecta phalanx incœpta capessit:
    Plurima quisque dedit; nullus non magna patravit.
    At laus prima tibi, cognomen _Oliva_ Minervæ
    Cui fecit, cui nunc victricia tempora cingit.
    Tu cymbam ingrederis primus; tu grandine primus
    Ignifera minime tardatus, verbera remi
    Sæpius ingeminans, hostilia castra prehendis;
    Cum perculsa _Manus_ formidine, vincula rumpit,
    Navigioque simul tutam procumbit in actam:
    Tuque idem primus, pariter cum fulmine fictos
    Forcipe Cyclopum, globulos displodis in hostem.
    Sunt majora tamen: discrimina dura supersunt,
    Quæ te saxosi rapiant ad culmina montis,
    Regnat ubi aurato sublimis Gloria templo,
    Gemmea sceptra tenens, comitatu cincta frequenti;
    Quos apud æterno perstes e marmore totus.
    Non satis est tetigisse ratem; non scandere plures
    Ex sociis vacuam: miscentur gaudia luctu,
    Exitio quæ aliis, ut iniqua sorte juveris.
    Unda repente duos tecum post terga reducit;
    Undaque fluctivagos refluens ad littora volvit.
    Hic sis, apparet, quantus Vir; miraque fulget
    Hic animi virtus, et corporis, una labores
    Herculeos vincens, quidquid voluere Poetæ.
      Gens fera vicinos (Arabum de stirpe creati)
    Errabunda colit montes, hirsuta, nigroque
    Terribilis vultu; pecudum, de more luporum,
    Sanguine pasta, gregi quas devius abstulit error:
    Æmula seu tigridis, prædatur ovilia, silvas
    Prædatur; nullumque locum non cæde replebit.
    Telis armata omnigenis hæc, fustibus, hastis;
    Pars gladio, sicave minax; pars igne, sagittis,
    Aut saxis, aliisve, cacumina celsa relinquunt,
    Fratribus auxilio celeres: (numerare quis ausit?
    Gramineos armenta putes populantia campos.)
    Ac tanquam oppugnet montano in vertice castrum;
    Aut obeat validus turritam exercitus urbem;
    Utraque _Colluvio Tres_ obsidet, utraque toto
    Pectore conatur: _decies_ si _quinque_ dabantur
    Hostes cuique _Trium_ nuper, nunc _millia_ cuique
    Obveniunt; acres, firmis ac viribus omnes.
    Quis tam facundus verbis portenta sequatur?
    Quis satis obstupeat? Quis non, pro testibus Orbis
    Ni sit terrarum cunctus, mendacia dicat?
    Qui vidit, quique egit, adest; auditur ubique.
      Cernere erat prævisa quidem spectacula nusquam.
    Impavidus populum incursantem sustinet Heros;
    Sustinet atque Comes duplex incensus ab ipso.
    Vis furibunda ruit: valles clamore resultant.
    Hinc, atque hinc effræna Virum urget: sibilat ictus
    Creber: at ille omnes dextra, lævaque repulsat,
    Integer, immotus. Geminat pudor ipse furorem:
    Mille novas addunt variis assultibus artes;
    Vulneribusque manet Vir non penetrabilis ullis.
    At contra Stygias multos deturbat ad undas:
    Irruit huc, atque huc; frustra nec fulminat ensis.
    Cominus audenti ferrum huic in viscera condit;
    Hunc hasta metuendum oblonga, corpore vasto,
    Ductori similem tardos in bella vocantem,
    Haud gemino plus ictu, hastili dejicit orbum:
    Ille cadit mutilus; vitam efflat et alter anhelus:
    Hic caput avulsum; jacet illic truncus: oberrant,
    Quo visus cumque intendas, vaga crura, lacerti.
      Qui trahis _Almedia_ de gente agnomina, Joseph,
    Palladiis pulchre conjungens Martis honores,
    Et tibi clara dies peperit decus immortale.
    Littore qui certant; et quos, sidente _Phaselo_,
    Capta _Celox_ tenuit, crudelia multa ferentes;
    Quod salvi rediere, tuum est. Dum navus utrisque
    Subsidio, _Magni_ vestigia firma sequutum,
    Mittis Alexandrum; ter senis oribus unum
    Quod responsa dabat, jussitque silentia, rursum
    Os medios atra spargit sub nube frequenter,
    Horrifico sonitu, fatalia frusta per hostes.
    Tu terrore animos turbasti primus, arenas
    Sanguine ut imbutas Gens aspera vidit, et undas:
    Finiit emissus Vir cætera. Remige prono
    Impiger ille fretum verrens, mandata facessit:
    Pervenit ad socios; inimicum vertit in ipsos
    Æs dominos, glandesque suas in littora mittit.
    Agmina jam cedunt retro: gelidus quatit artus
    Jam timor: in diversa capit, quasi sumeret alas,
    Quisque fugam; strepitumque putat sentire sequentis.
      Tum vocat ad Navim cunctos; atque obvius-unum
    Quemque petit Ductor complexu, gaudia verbis
    Testatus, facieque: memor cujusque decora
    Singula commendat, meritis ac laudibus ornat;
    Grataturque sibi, quod Talibus imperet, ipse.
      Postquam animos novit recreatos, vespere cœpit
    Sedulus, ut fieri potuit, loca adire vadosa,
    Tunc rutilas primum jaculatus in agmina flammas,
    Desertum (numero plures) repetentia littus.
    Tum _parvæ_ sub matre _Rates_ (nam marmora plane
    Strata silent) interclusam removere _Celocem_
    Margine connixæ tentant, conamine casso.
    Ludentes Nymphæ super insiluere marinæ,
    Atque suam vocitant: at quis vel Doridos audax
    Sedibus obtineat patriis depellere natas;
    Vel, quæ operi admoveat, Briareia brachia tendat?
    Hoc tamen haud vestrum munus, Nereia proles,
    Quæque venusta licet, licet omnes munere dignæ.
    Ignea flamma vorat, quod non Victoria tollit;
    Jure quidem: damnis etenim majoribus obstant
    Damna minora; priusque animos non magna rebelles
    Detrimenta domant, gratos quam munera reddant.
    Pinea jamque ardent: rabies Vulcanea regnat.
    Pinguia multa fovent, pix, atque bitumina flammas;
    Ut vix inceptos nemo restinxerit ignes.
    Auditur crepitus creber: scintilla videtur,
    Fumosis erupta globis, in sidera velle,
    Unde sibi natale venit, fugitiva reverti.
    Cymba rogus tota est: nubes incendia lambunt.
      Talia, nequicquam furiis incensa, tuetur
    Rustica Progenies, latitans post saxa, comisque
    Arboreis passim protecta: nec amplius audet,
    Haud oblita sui, communi credere luci,
    Qua valet, in tuto arte nocens: nam plurimus illinc
    Frustratos iterum atque iterum tubus æneus edit,
    Collimante oculo, sonitus; lapis evolat illinc.
    Non tamen heu! frustra omnino: manus impia lethum
    Fert tandem, quo vult: et qui certamine aperto
    Vix _unum_ potuere levi perstringere plaga;
    Insidiis tecti, crudeli vulnere læsum,
    Nunc ferri gaudent _unum_ jam morte gravatum.
    Hunc modo victores poscit Bellona cruorem,
    Tot luitura Viris, quodcumque perire necesse est;
    Ac vitam ætates hinc deductura per omnes.
    Inde gradu celerans invadit sæcula Petrus;
    Inde virens decorat Lodoico laurea frontem;
    Nescius inde mori Joannes extat; et inde
    Qui merito appellatur _Homo_: et qui nomen adeptus
    _A Bello_ appositum, socio Emmanuele, perenni
    Cum laude, existet dum Martia gloria, vivent.
    Sic ridet Virtus non exorabile Fatum.
      Tempus erat, quo lassa cupit Natura quietem;
    Cum Phaetontis equi stabulis recreantur in altis;
    Et nox astrifero terras involvit amictu,
    Adducens curis lenimina grata diurnis.
    Tum reparant vires Nautæ, per strata jacentes;
    Tum vario inter se gaudent sermone labores
    Perfunctos meminisse: quot ictus, quotque pericla
    Fugerit illudens; animas quot miserit Orco,
    Dicere quemque juvat: donec, non mollior unquam,
    Fessa gravi Morpheus devinxit membra sopore.
    At non perjuræ qui præsidet impius urbi,
    Nec dulces carpit somnos, aut pectore curas
    Consopire valet: scelerum tot conscia, primum
    Se, cogente malo, nunc anxia corda remordent.
    Non dolet amissam navim; non cæde peremptos
    Terrifica cives: sibi tantum prospicit uni.
    Jam videt ultrices flammas; cervicibus ensem
    Jam videt instantem; prostratas jam videt arces.
    Mens pendet: quid enim, potius quod vellet, habebat?
      »Anne Virum toties delusum fraudibus, inquit,
    »Nunc etiam tentare ausim? Num mœsta precantis
    »Vox merito ardentes nunquam non molliet iras?
    »Tradere si _Gallos_ properem, non jure negatos,
    »Id sat erit? Dono gaudentem nonne vicissim
    »Promissis, pactaque fide delectet abuti?
    »Dulce est ulcisci: modo qui nequit, hæret inultus.
    »Quæ superant igitur?... Meque, et quas blanda voluptas
    »Delicias gignit, dubiæ committere pugnæ?
    »Quid? _dubiæ_ dixi?... Nil non deperdere certum est.
    »Corpora multiplices tria si pepulere maniplos;
    »Et misere (fide majus!) sub Tartara multos,
    »(Proh pudor!) incolumes; quid non superabile cunctis?
    »Quin molire fugam, infelix; quin collige, quidquid
    »Subductu facile est, vitans mortemque, pudoremque.
    »At quibus in terris misero latitare licebit?...
    »Quæ regio, quamvis deserta, aut quæ æquora possunt
    »Accipere errantem, profugum?... Splendore quis optet
    »Deficiente sequi dominum, seu servus, amicus
    »Sive sit?... Imo omnis fugientem turba sequetur,
    »Ac vita, aut furto, aut captum spoliabit utroque.
    »Non ita: constabunt magno mala nostra; nec ullis
    »Parcere flagitiis mens est, neque fraudibus ullis.
    »Audacem ingenio, claro tumidumque tropæo
    »Insidiis circumveniam: sub tecta reducam,
    »Omnia pollicitus, quidquid deposcat avarus.
    »Cumque lucro illectus veniet, si tecta viarum
    »Crimina devitet solers, coram integer adsit;
    »Unguibus infandum caput, atque exscindere morsu
    »Non avido pigeat: cor insatiabile dextra
    »Pectore convellam; fumantiaque exta vorabo.»
      Talibus infrendens secum rixatur, et ipse
    Labra sibi, atque manus iterumque iterumque momordit.
    Qualis, ubi cavea detentam fuste lacessas,
    Ocyus evolvens sinuosis orbibus orbes,
    Terque quaterque furens ictus jacit irrita serpens;
    Et cum lassari studio se advertit inani,
    Sanguine suffectis oculis, dat sibila linguis
    Ore venenato vibrantibus; omnia circum
    Dente rapit spumans, se dentibus impetit ipsam;
    Tabe solum egesta, maculosaque terga redundant:
    Tutus at invalidas derisor despicit iras.
      Persicus interea geminatis cantibus ales
    Nunciat Auroram, curas dum lenit amaras,
    Insinuans ægris quoque somnos, roscidus humor.
    Tum deus adrepens male sano deligat artus;
    Atque soporifero flammata papavere tangens
    Lumina, non ultra rabidos sinit ire furores.
    Stertit eo gravius, quo plus exarserat ira.
    Non tamen irrigui capit ille levamina somni;
    Non effœta diu solatur membra quiete.
    Quæ vigilem exercent, mentem deliria terrent
    Nunc quoque jucundo victam languore: videtur
    Ipse sibi, incomitatus, egens, pedes ire remotas
    Orbe vias alio; qua nulla hominisve, feræve
    Planta notabat humum, non cælum avis ulla colebat.
    Intima nunc sentit sibi viscera vulture rodi;
    Insectantem hasta, dorsum jamjamque tenentem
    Nunc fugere approperans, hæret pes, crura tremiscunt;
    Rupibus interdum casurus pendet ab altis.
      Ecce metus inter vanos exurgit Imago
    Vera, ingens; adeo manifesta, ut clarius adsit
    Non quod præsentes præsens in luce videmus.
    Quem Ganges hodieque colit, veneratur et Indus;
    Æmulus haud Martis, sed _Mavors_ ipse vocatus
    _Lysius_, et _Magnus_ jure, Albuquerquius Heros;
    Hactenus, ut quondam, succensus amore suorum;
    Nectare deposito, divina parumper omittens,
    Non ad barbaricos refugit descendere muros;
    Aut dedignatur verbis componere litem,
    Promeritas Navi, proprio de nomine dictæ,
    Maturare ardet lauros; alacerque Tyrannum,
    Jam desperatis rebus, terroribus actum,
    Omnia, quæ doceat mens insidiosa, parantem
    Aggreditur dictis: qualis, quantusque solebat,
    Cum, Caput Imperii quam nunc habet Indica tellus,
    Insula bis hostem metuit; Malaca recepit
    Aurea victorem; victorem Armuzia dives;
    Promissa barba venerandus, totus in ære.
      »Quid, miser, inquit, agis? Quæ mente dolosa revolvis?
    »Quis furor, aut quæ animum petulans vesania cepit?
    »Fraudibus annectens fraudes, insane, putabas,
    »Quæ capiti impendet, funestam avertere cladem?
    »Quos violare audes, an nescis? Inscius utrum
    »Concilias hostes REGEM, Populumque potentem?
    »Te fugit hæc Ipsos impune relinquere nusquam?
    »Quanta sit a Luso veniens animosa Propago,
    »Apparere magis, quam Mauro, debuit ulli?
    »Sis licet ignarus rerum vel, credo, tuarum;
    »Heroum quoties Populo huic obsistere contra
    »Vestrates ausi, quæ tristia damna tulerunt,
    »Noveris invitus, vulgi quoque sparsa per ora.
      »Proculcata super Maurorum tempora Regum
    Ȯterna imponit SOLII fundamina Primus
    »Maximus ALPHONSUS: Maurorum strage cruenta,
    »Præcurrens gladio dum strenuus IPSE coruscat,
    »Atque aditus offert illiso corpore Mendus;
    »Lusitana ruens en _Arce_ Juventa potitur,
    »Quam fertur claram statuisse disertus Ulisses;
    »Regia utrique polo, septem de montibus, olim
    »Jura, Tagi Decus auriferi, Legesque daturam.
    »Excidio Mauros quanto ditione, memento,
    »SANCTIUS exturbat, _Regnum que_ adjungit Avito!
    »Sanguine sic Mauro per lætos Alter, et Alter
    »ALPHONSUS mittit nigrantia flumina campos.
      »Nostra nec infecto maduit modo terra cruore.
    »Ejectis ALPHONSUS erat super, atque JOANNES;
    »Exitium ad Libycos QUI ferrent usque penates
    »Tum super EMMANUEL (merito dixere _Beatum_)
    »Orbe suo quærens alios præstantior Orbes;
    »QUEM procul optarunt Diademata cernua Regem.
    »Conscia Tingis adest; Arzila, et Septa loquuntur:
    »Testantur Numidæ; Turmæ testantur Eoæ.
    »Singula verbosus nam quid deducere nitar?
    »Nomina sola Ducum, dignis non laudibus aucta,
    »Serpet in immensum memorare: et dicta supersunt,
    »Altius ut capias, tibi sit res quanta, Quibuscum:
    »Inque vicem laqueos temnant quam corda latentes,
    »Quo Mauri valeant, usu perdocta magistro.
    »Alternam hic Vires operam, et Prudentia tradunt.
      »Quid cessas igitur? Quid flexo poplite supplex,
    »Quamlibet immeritus, veniam non sæpius oras?
    »Qui vano gaudent fastu calcare tumentes,
    »Quos juvat ultores compescere crimina pœnis,
    »Supplice voce reum pronum miserantur Iidem.
    »Vix medios Titan accenderit igneus æstus;
    »Cum, quæ propugnat Tripolinos maxima portus,
    »Victoris fiet _Navis_, _geminæque Biremes_,
    »Nec dudum captæ, _Dux_, et _numerosa Juventus_.
    »At tu ne timeas: reddentur cuncta petenti.
    »Magnanimis auri nunquam irrequieta cupido
    »Infecit mentes: Gens æqua præoptat amicos,
    »Quam servos, prædamve: fugax, datur, arripe tempus».
      Dixit; et ulla nihil responsa moratus, abivit.
    Percitus ille pavore tremit; subitusque cubili
    Membra levans, oculos turbatus in omnia volvit.
    Limina perrumpit, collustrat singula, clamat;
    Nec famulis quid dicat, habet, venientibus amens.
    Mox trepidans aciem convertit in æquora, late
    Qua patet unda; obtutuque hæret fixus eodem.
      Dum notat omne salum cupidus, re visa probantur.
    Prospicit, ut portum velis petit hostica Navis;
    Ut propiora tenens, auris dat lintea retro;
    Utque omnes inflata sinus, velocior Euris,
    Persequitur prædas, _Navim_, comitante _Biremi_;
    Ut capit, ut remeat, spoliis ut læta triumphat:
    Ut tandem capta vectus, Ductore jubente,
    Castrius extremam deprendit nave _Carinam_.
    Tristius, haud votis Hostem exorasse potentem.
    Hinc fuit, Emmanuel, duplex tibi gloria: namque,
    Scilicet assuetus duram contemnere mortem,
    Laberis intrepidus paucis in castra sequutis
    Maura; statim victor, pulsis ad Averna duobus.
      Hæc oculis, nimium veracis imagine somni
    Jam prædicta sibi, Caramalius haurit ab arce.
    Principio furiis agitur, perque atria pernix
    Itque reditque fremens; crines, barbamque revellit.
    At timor emollit paulatim pectora; præsens
    Vir mentem non falsus alit spe, cætera verus.
    Nonnunquam addubitat: »Quis enim confidat in hoste?»
    Secum ait: ac momento post contraria censet.
    »Quid tentare nocet? Potius quid denique restat?»
      Continuo quemdam arcessit, graviore probatum
    Munere, sæpe sibi dubiis fidum ante periclis.
    Ad Navim jubet ire; Ducique adducere _Gallos_,
    Gorgonei vultus instar, mala fronte gerentes.
    »Pro quo, si menti tanta est fiducia, poscat
    »Cuncta, monet, detracta sibi, puppesque, virosque;
    »Tum quæcumque velint, se dicat in omnia lætum.»
      Exitus exuperat, quidquid sperare licebat.
    Re sibi seposita nulla, _puppes_que, _viros_que,
    _Præfectum_que _Maris_ captos, concorde Donaldus
    Milite, principibusque Viris, Nautisque remittit.
    Insuper optatum largitur nomen Amici,
    Quod DOMINO firmum Augusto promittit habendum.
      Vix capit attonitus sua gaudia Regulus: ingens
    Lætitiæ plausus procerum, clamorque popelli
    Assonat in pelagus, victorumque advenit aures.
    Qua vero tacita mentes dulcedine mulcet,
    Murmure dum resono tormenta hinc, inde tonabant,
    Adversa CHRISTO Turba acclamante, videre
    Quina Salutiferi splendentia Vulnera CHRISTI,
    Æternum Decus Imperii, summa Hostis in arce!
    Curarum hoc pretium, merces ea digna laborum:
    Nam REGIque, DEOque simul qui serviit, ipsi
    Nil majus Fortuna dabit, neque Gloria majus.
      Et Tibi, Ductorem nunc Lusitana supremum
    Quem sequitur Classis, Sanguis de sanguine Regum,
    Sed magis Ingenio, magis a Virtutis honore
    LIMA potens; et magna Tibi hinc præconia laudum.
    Talia suscipiens, Pubes Tibi paruit audax:
    Nil factum est, cujus fieres non providus auctor.
      Nec minus inde Tibi decoris, clarissime Nelson,
    Qui rapuisse ferox Neptunia sceptra videris:
    Tu prior ostendis, quæ Gens invicta peregit.
      At QUI gestorum meliorem vendicat æquo
    Jure SIBI partem, QUEM prima exordia Rerum
    Spectant, me reticente quidem, non nesciet ullus.
    Littora respondent, respondent æquora NOMEN.
      Nautica Res, quondam celebres quæ reddidit Orbe,
    Quæ regnaturos extremas duxit in oras
    Lusiadas, (dixisse piget) neglecta jacebat.
    Multa quidem restabat adhuc, demissa profundis
    Brasiliæ silvis, sed multa carina vacabat;
    Aut siqua imprudens Arcturum, Hyadasque subivit,
    Tarda movebatur, ventorum oblita, marisque;
    Æquoreis impar furiis, nec idonea bello.
    Rarus, et imbellis sua munia Nauta videtur
    Dedidicisse; sciens nullus paretve, jubetve.
    En RODERICUS adest: Virtus antiqua resurgit.
    Jam nova Progenies emittitur: educat aptos
    Neptuno, et Marti sapiens Academia cives;
    Unde VIR egregius, quisquis supereminet, optat:
    Et cum mille studet, cum solus maxima curat,
    Laudibus incendit, siquis laudabile promat;
    Munere seu dignum quis agat, cumulatur ab IPSO
    Muneribus: generosa petit sic astra Juventus;
    Grandia sic Sociis Donaldus talibus egit.
      O’ nos felices, o’ terque quaterque beati,
    Sub JOANNE quibus decurrere dulcia vitæ
    Otia, tantorumque datum est consortibus esse!
    JOANNES, Patriæ PATER, atque AMOR, Inclyta REGUM
    Magnorum SOBOLES; et SPES, et GLORIA Gentis,
    Prima Adamastoreos ausa est quæ invisere vultus;
    Hesperiaque ima Nabathæas ducere ad oras
    Tradita in Imperii Pignus Vexilla Salutis;
    JOANNES, tetro cum flagrant omnia Bello,
    Cum desolatas per terras regnat Erinnys,
    Subjectos longe Populos, lateque vagantes
    Pace fovens placida, Justus, Pius, Optimus, Ingens;
    Nullam non valide Virtutem amplexus AVORUM,
    Queis credat Res tractandas, (hinc omnia pendent)
    Præcipua meritos præstat Virtute legendi.
    Respuit oblatum, corda ambitiosa tegentis,
    Ardelionis opus; nolentes allicit IDEM.
    Blandiloquæ mendax tacet indulgentia linguæ:
    Nil, nisi vera, probans doctorum Turba Virorum
    PRINCIPIS Excelsi studiosas occupat Aures:
    Consiliis, Factisque præest Pallasque, Themisque.
    Non hic quærendis regnis, populisve domandis
    Mars ensem torvus nudat: sed Pace tuenda,
    Sed casta ut maneant veterum Decora alta Parentum.
    Haud SIBI JOANNES Regni moderatur Habenas:
    Gens Sua stat DOMINO studiis antiquior ullis.
    Nobilis, aut Humilis; seu coram justa precatur,
    Sive procul, Miles, Mercator, Nauta, Colonus;
    Pro meritis, donis oneratus quisque recedit:
    Mœrentem nullum dimiserit, Æquus in omnes:
    Regia quinetiam præcurrunt munera votis,
    Solaque Pœna venit pede claudo. Lysia, surge;
    Tolle superba caput: quid non sperare licebit
    Talibus Auspiciis? Tibi plaude, ó Lysia, plaude.
    Jam Tibi fatidicæ nent aurea fila Sorores;
    Sæclorumque nitens ordo, Regnante JOANNE,
    Nascitur: incæptis gaude: majora sequentur.
    Fervida funde preces, pia NUMINA sæpe fatiga,
    Ut Solio Celsa cum CONJUGE fultus Avito,
    Tempora JOANNES innubila transigat ævi;
    TERROR ut Externis, sit maxima CURA Suorum;
    Natorum ut cernens Natos, Natosque Nepotum,
    Serior, unde fuit MUNUS, rapiatur in astra:
    Te dignus PRINCEPS; Tu PRINCIPE digna vicissim.

                                 FINIS.




                                 NOTA

No original, as páginas alternavam entre latim e português. Nessa
versão, foram juntadas por lingua para facilitar a leitura.

In the original, the pages alternated between Latin and Portuguese. In
this version, to make it easier on the reader, the Portuguese poem has
been joined together, followed by the Latin version.





*** END OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK CANTO HERÓICO SOBRE AS FAÇANHAS DOS PORTUGUESES NA EXPEDIÇÃO DE TRIPOLI ***


    

Updated editions will replace the previous one—the old editions will
be renamed.

Creating the works from print editions not protected by U.S. copyright
law means that no one owns a United States copyright in these works,
so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United
States without permission and without paying copyright
royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part
of this license, apply to copying and distributing Project
Gutenberg™ electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG™
concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark,
and may not be used if you charge for an eBook, except by following
the terms of the trademark license, including paying royalties for use
of the Project Gutenberg trademark. If you do not charge anything for
copies of this eBook, complying with the trademark license is very
easy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creation
of derivative works, reports, performances and research. Project
Gutenberg eBooks may be modified and printed and given away—you may
do practically ANYTHING in the United States with eBooks not protected
by U.S. copyright law. Redistribution is subject to the trademark
license, especially commercial redistribution.


START: FULL LICENSE

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE

PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg™ mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase “Project
Gutenberg”), you agree to comply with all the terms of the Full
Project Gutenberg™ License available with this file or online at
www.gutenberg.org/license.

Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg™
electronic works

1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg™
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or
destroy all copies of Project Gutenberg™ electronic works in your
possession. If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a
Project Gutenberg™ electronic work and you do not agree to be bound
by the terms of this agreement, you may obtain a refund from the person
or entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B. “Project Gutenberg” is a registered trademark. It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg™ electronic works
even without complying with the full terms of this agreement. See
paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg™ electronic works if you follow the terms of this
agreement and help preserve free future access to Project Gutenberg™
electronic works. See paragraph 1.E below.

1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation (“the
Foundation” or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection
of Project Gutenberg™ electronic works. Nearly all the individual
works in the collection are in the public domain in the United
States. If an individual work is unprotected by copyright law in the
United States and you are located in the United States, we do not
claim a right to prevent you from copying, distributing, performing,
displaying or creating derivative works based on the work as long as
all references to Project Gutenberg are removed. Of course, we hope
that you will support the Project Gutenberg™ mission of promoting
free access to electronic works by freely sharing Project Gutenberg™
works in compliance with the terms of this agreement for keeping the
Project Gutenberg™ name associated with the work. You can easily
comply with the terms of this agreement by keeping this work in the
same format with its attached full Project Gutenberg™ License when
you share it without charge with others.

1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work. Copyright laws in most countries are
in a constant state of change. If you are outside the United States,
check the laws of your country in addition to the terms of this
agreement before downloading, copying, displaying, performing,
distributing or creating derivative works based on this work or any
other Project Gutenberg™ work. The Foundation makes no
representations concerning the copyright status of any work in any
country other than the United States.

1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1. The following sentence, with active links to, or other
immediate access to, the full Project Gutenberg™ License must appear
prominently whenever any copy of a Project Gutenberg™ work (any work
on which the phrase “Project Gutenberg” appears, or with which the
phrase “Project Gutenberg” is associated) is accessed, displayed,
performed, viewed, copied or distributed:

    This eBook is for the use of anyone anywhere in the United States and most
    other parts of the world at no cost and with almost no restrictions
    whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms
    of the Project Gutenberg License included with this eBook or online
    at www.gutenberg.org. If you
    are not located in the United States, you will have to check the laws
    of the country where you are located before using this eBook.
  
1.E.2. If an individual Project Gutenberg™ electronic work is
derived from texts not protected by U.S. copyright law (does not
contain a notice indicating that it is posted with permission of the
copyright holder), the work can be copied and distributed to anyone in
the United States without paying any fees or charges. If you are
redistributing or providing access to a work with the phrase “Project
Gutenberg” associated with or appearing on the work, you must comply
either with the requirements of paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 or
obtain permission for the use of the work and the Project Gutenberg™
trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.3. If an individual Project Gutenberg™ electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any
additional terms imposed by the copyright holder. Additional terms
will be linked to the Project Gutenberg™ License for all works
posted with the permission of the copyright holder found at the
beginning of this work.

1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg™
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg™.

1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg™ License.

1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including
any word processing or hypertext form. However, if you provide access
to or distribute copies of a Project Gutenberg™ work in a format
other than “Plain Vanilla ASCII” or other format used in the official
version posted on the official Project Gutenberg™ website
(www.gutenberg.org), you must, at no additional cost, fee or expense
to the user, provide a copy, a means of exporting a copy, or a means
of obtaining a copy upon request, of the work in its original “Plain
Vanilla ASCII” or other form. Any alternate format must include the
full Project Gutenberg™ License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg™ works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg™ electronic works
provided that:

    • You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
        the use of Project Gutenberg™ works calculated using the method
        you already use to calculate your applicable taxes. The fee is owed
        to the owner of the Project Gutenberg™ trademark, but he has
        agreed to donate royalties under this paragraph to the Project
        Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments must be paid
        within 60 days following each date on which you prepare (or are
        legally required to prepare) your periodic tax returns. Royalty
        payments should be clearly marked as such and sent to the Project
        Gutenberg Literary Archive Foundation at the address specified in
        Section 4, “Information about donations to the Project Gutenberg
        Literary Archive Foundation.”
    
    • You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
        you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
        does not agree to the terms of the full Project Gutenberg™
        License. You must require such a user to return or destroy all
        copies of the works possessed in a physical medium and discontinue
        all use of and all access to other copies of Project Gutenberg™
        works.
    
    • You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of
        any money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
        electronic work is discovered and reported to you within 90 days of
        receipt of the work.
    
    • You comply with all other terms of this agreement for free
        distribution of Project Gutenberg™ works.
    

1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project
Gutenberg™ electronic work or group of works on different terms than
are set forth in this agreement, you must obtain permission in writing
from the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, the manager of
the Project Gutenberg™ trademark. Contact the Foundation as set
forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
works not protected by U.S. copyright law in creating the Project
Gutenberg™ collection. Despite these efforts, Project Gutenberg™
electronic works, and the medium on which they may be stored, may
contain “Defects,” such as, but not limited to, incomplete, inaccurate
or corrupt data, transcription errors, a copyright or other
intellectual property infringement, a defective or damaged disk or
other medium, a computer virus, or computer codes that damage or
cannot be read by your equipment.

1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the “Right
of Replacement or Refund” described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg™ trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg™ electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from. If you
received the work on a physical medium, you must return the medium
with your written explanation. The person or entity that provided you
with the defective work may elect to provide a replacement copy in
lieu of a refund. If you received the work electronically, the person
or entity providing it to you may choose to give you a second
opportunity to receive the work electronically in lieu of a refund. If
the second copy is also defective, you may demand a refund in writing
without further opportunities to fix the problem.

1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you ‘AS-IS’, WITH NO
OTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT
LIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of
damages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreement
violates the law of the state applicable to this agreement, the
agreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer or
limitation permitted by the applicable state law. The invalidity or
unenforceability of any provision of this agreement shall not void the
remaining provisions.

1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg™ electronic works in
accordance with this agreement, and any volunteers associated with the
production, promotion and distribution of Project Gutenberg™
electronic works, harmless from all liability, costs and expenses,
including legal fees, that arise directly or indirectly from any of
the following which you do or cause to occur: (a) distribution of this
or any Project Gutenberg™ work, (b) alteration, modification, or
additions or deletions to any Project Gutenberg™ work, and (c) any
Defect you cause.

Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg™

Project Gutenberg™ is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of
computers including obsolete, old, middle-aged and new computers. It
exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations
from people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg™’s
goals and ensuring that the Project Gutenberg™ collection will
remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg™ and future
generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see
Sections 3 and 4 and the Foundation information page at www.gutenberg.org.

Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non-profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service. The Foundation’s EIN or federal tax identification
number is 64-6221541. Contributions to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by
U.S. federal laws and your state’s laws.

The Foundation’s business office is located at 809 North 1500 West,
Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887. Email contact links and up
to date contact information can be found at the Foundation’s website
and official page at www.gutenberg.org/contact

Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg™ depends upon and cannot survive without widespread
public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine-readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment. Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements. We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance. To SEND
DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state
visit www.gutenberg.org/donate.

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg web pages for current donation
methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
ways including checks, online payments and credit card donations. To
donate, please visit: www.gutenberg.org/donate.

Section 5. General Information About Project Gutenberg™ electronic works

Professor Michael S. Hart was the originator of the Project
Gutenberg™ concept of a library of electronic works that could be
freely shared with anyone. For forty years, he produced and
distributed Project Gutenberg™ eBooks with only a loose network of
volunteer support.

Project Gutenberg™ eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as not protected by copyright in
the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not
necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper
edition.

Most people start at our website which has the main PG search
facility: www.gutenberg.org.

This website includes information about Project Gutenberg™,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.