A espada de Alexandre

By Camilo Castelo Branco

Project Gutenberg's A espada de Alexandre, by Camilo Castelo Branco

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org


Title: A espada de Alexandre
       Corte profundo da questão do Homem-Mulher e Mulher-Homem

Author: Camilo Castelo Branco

Release Date: April 15, 2010 [EBook #32003]

Language: Portuguese


*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A ESPADA DE ALEXANDRE ***




Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)







                         A ESPADA DE ALEXANDRE.

        CORTE PROFUNDO NA QUESTÃO DO HOMEM-MULHER E MULHER-HOMEM

                                   POR

                UM SOCIO PRENDADO DE VARIAS PHILARMONICAS



                                  PORTO
                         TYPOGRAPHIA DA CASA REAL
                        Praça de Santa Thereza, 63

                                   1872



                         A ESPADA DE ALEXANDRE.





                         A ESPADA DE ALEXANDRE.

        CORTE PROFUNDO NA QUESTÃO DO HOMEM-MULHER E MULHER-HOMEM

                                   POR

                UM SOCIO PRENDADO DE VARIAS PHILARMONICAS



                                  PORTO
                         TYPOGRAPHIA DA CASA REAL
                        Praça de Santa Thereza, 63

                                   1872




CARTA AO MEU VISINHO RAIMUNDO,

POETA LAUREADO NA «AGUIA-D'OURO»


MEU CARO SENHOR E VISINHO!

Era por uma noite de lua cheia do agosto preterito. Estava eu á janella
do terceiro andar, onde moro, n'esta fragrante rua das Congostas, ninho
de poetas e philosophos, floresta ramalhosa onde v. s.ª regorgeia as
suas lyras, e eu medito Theophilo e Rozalino Candido.

Estavam então v. s.ª e sua esposa, com as vidraças erguidas, banhados de
resplendores da lua, altercando em voz alta a respeito de um livro de
Alexandre Dumas-Filho, obra que por ahi gira com o titulo hermaphrodita
de HOMEM-MULHER.

Dizia sua esposa que o auctor do livro atacava o direito, a justiça, a
religião e o pudor. Replicava o snr. Raimundo que o auctor do livro
não atacava nada; pelo contrario defendia tudo.

Redarguia s. exc.ª que a mansão conjugal não é açougue, nem a esposa
vaca, nem o marido megarefe. Recalcitrava v. s.ª que a esposa devia
considerar-se vaca, desde que o marido era boi. _L'Homme-Femme--Le
Boeuf-vache!_ Está claro.

Contenderam largo espaço os meus prezados visinhos n'este honesto
certame; e, ao mesmo passo que mutuamente se illustravam nos deveres de
cada um, abriam no meu cerebro um jacto de philosophias que eu passo a
golphar aos quatro ventos da terra.

Os sentimentos bem ou mal expendidos n'esta carta, meu prezado visinho,
são uma especie de prolegómenos com que tenciono predispor os animos
para a representação de uma tragedia, em que trabalho ha muito,
intitulada _O homem de Claudia_. Não se presuma, porém, que eu venho com
esta noticia aliciar espectadores para a minha tragedia no
Theatro-Circo. Não, snr. Raimundo. Eu sou publicista da eschola de
Mestre Theophilo--o symbolico,

    _.......... um que tem nos MALABARES_
    _Do summo sacerdocio a dignidade,_

como a respeito d'elle vaticinou Luiz de Camoens, no Cant. X, est. 11.

Publico um livro, sei que ninguem m'o compra, nem m'o lê; mas
convenço-me, á laia do mestre, que os meus livros ensinam tudo que os
outros sabem. Esta ronha pegou-m'a elle, o Grão-Lama, que imagina fazer
reformas de raças com os seus livros de dentadura anavalhada como Cadmus
fazia homens com a dentuça do dragão. Ajoujei-me, pois, na canga d'este
pedagogo, e vou bem.

Revertendo ao ponto:

Affirmam auctores de boa nota que a mulher é femea, _femina_. N'este
parecer abundam D. Antonio Ayres, bispo do Algarve, na «Reforma» do
aprisoamento, e Bento Pereira, na _Prosodia_. Auctoras tambem de boa
nota asseveram que o homem é macho. Do inlace e coezão d'estas entidades
heterogenias forma-se o Macho-Femea, o colchete phyloginio. Faça-me o
favor, snr. Raimundo, de alçapremar o seu intellecto á altura d'estes
principios. Em materias transcendentes seja-me aguia e não kágado.

No principio do mundo (não iremos mais longe por em quanto) extrahiu
Deus a femea do intercôsto do homem. Aurora do paraizo! Então era a
costella do homem que dava a mulher; hoje em dia, ha homens com todas as
costellas partidas por que desejaram uma ou duas mulheres! O lombo do
rei da creação perdeu bastante da sua importancia desde que os nossos
irmãos anthropophagos pegaram d'extrahir d'elle sandwichs.

Este exemplo indelicado seduziu a esposa a considerar o marido uma
substancia comestivel entre o prezunto de javali e o fiambre de viado.
D'ahi, o desacato, o deslize d'aquella patriarchal idolatria com que dez
centos de mulheres genuflectiam ao sancto rei Salomão.

Abastardado o antigo preito da costella ao costado, da parte ao todo, os
philosophos inventaram a alma para d'alguma fórma afidalgarem a juncção
da carne á carne, do osso ao osso--phraze biblica sobremaneira bonita e
aziatica. Ideada a alma, cumpria ungir com os oleos mysticos o pacto da
alliança entre alma e alma. Accudiram os canonicos com a invenção do
sacramento.

Espero que o meu visinho não ignore inteiramente que os Sacramentos são
sete. E, se esta sombra de duvida offende a sua orthodoxia, sirva-me de
desculpa aquillo de Plutarcho no seu tractado «Da maneira de lêr
poetas.» Diz elle: «A religião, coisa difficil de perceber, está acima
da intelligencia dos poetas». Mas do sacramento do matrimonio sei eu que
o snr. Raimundo, sem embargo do seu alto lyrismo, percebe o essencial,
porque eu mesmo o ouvi dizer a sua esposa:

«O matrimonio foi divinamente instituido». Por signal que ella,
áttica e sceptica, lhe respondeu:--Bem me fio eu n'isso!

E a razão de sua esposa duvidar da procedencia divina da instituição,
meu caro visinho, eu lhe digo em que bases se funda.

Instituição divina ha só uma: é o mundo. Esta crença hade prevalecer
emquanto meu mestre Theophilo não quizer provar que o mundo é obra dos
mosarabes. Divino é tão sómente aquillo que humanamente se não faz. Os
sonetos de v. s.ª, por exemplo, não me parecem absolutamente de
instituição divina. O cazamento tambem não, por que em tal acto influem
o amor, o interesse, o medo, a vergonha, o reumatismo, a papa de linhaça
posta por mão de esposa carinhosa nas irritações do apparelho digestivo,
_etc_. Estas coisas são tão divinas como eu; e, senão ouso dizer como o
visinho, é por que v. s.ª, na sua qualidade de bardo, tem lumes divinos,
_mens divina_; arde, fumega, evola-se como Elias--volatisação de que se
não gabam aqui os nossos visinhos pecuniosos por que o dinheiro pucha
por elles para baixo como os elythros pela tartaruga.

V. s.ª sabe que, na antiga Germania, consoante Cornelio Tacito descreve,
aquelles barbaros ditosos cazavam-se sem sacramento, sem sacerdote e sem
templo. O noivo, em presença de parentes seus e da noiva, dizia-lhe:
«Recebo-te como minha legitima mulher, para te haver e possuir, de hoje
ávante, boa ou má, rica ou pobre, para te amar e assistir em tempo de
saude e doença, até que a morte nos separe».

Alli, divindade e padre, n'aquella augusta ceremonia, eram os arcanos
sagrados, _arcana sacra_, o mysterioso respeito ao Deus invisivel,
consagrado nos solitarios murmurejos da selva, _lucos ac nemora
consecrant_.

Ora, medite, snr., n'estes selvagens, onde as mulheres rapadas, as
adulteras, eram por tanta maneira raras, que apenas apparecia uma para
cevar a execração das turbas! Pois olhe que não havia lá n'aquellas
florestas dodonicas idea de femea fabricada da costella do homem. Lá
dizia-se que a creadora do mundo havia sido uma enorme e desmedida vaca,
e vivia-se honradamente apesar de tão estupida cosmogonia de uma vaca
bruta; e, por aqui, no pino da civilisação, com tantas vacas sabias,
vamos a pique! As nossas femeas restituem-nos a costella, pondo-no'l-a
como apendice ao craneo; e, em vez de se tosquiarem á guiza das
germanicas, alcantilam as cabeças com uns riçados delirantes. Atroz!

Diga-me, poeta laureado: não será injuriar Deus attribuir-lhe o vinculo
sacramental do matrimonio, d'onde derivam tantos infernos sabidos,
tantos infernos ignorados, tantos coraçoens nobilissimos
pervertidos, tanta deshonra escarnecida pelos folioens dos palcos,
tantas alcovas devassadas, tanta mulher emborcada no gôlphão das
lagrimas a que a sociedade chama o lodo da prostituição?

Levam a taes voragens as estradas complanadas pela mão de Deus?

Ó snr. Raimundo, não parvoejemos por amor ao catholicismo. Não façamos
da nossa hypocrisia aspa de patibulo em que estamos sempre a cravejar a
memoria de Jesus, sobre quem Deus refrangiu o mais divino reflexo da sua
gloria.

Jesus não fez o cazamento: quiz fazer a nova Eva, com o pé sobre os
colmilhos da serpe, e a fronte amparada no seio amantissimo do homem.
Ah! Jesus disse: «Amai-vos!» Isto de: «maridai-vos» é preceito de
concilios, e é palavra que não sôa no lexicon hebreu nem chaldeu.
Ser-me-hia mais facil encontral-a em Petronio que em S. Paulo. Ressuma
d'essa palavra um travo de impudor. Quando ella vier do intimo seio aos
labios da mulher, já lá dentro não ha flôr que lhe perfume o furtum.
_Maridança!_--expressão deslavada de um acto sem vislumbre de ideal, a
desfloração a começar na prosodia, um rebaixamento d'aquelle prodigio da
fantasia genetica--da mulher--á condição da femea, da retorta, do
recipiente, da maquina de costura silenciosa, da materia grangeada para
reproduzir, como quem aduba um torrão que hade verdejar couves lombardas!

Atroz, snr. Raimundo, atroz!

Que é o adulterio?

É a razão insurgida contra o absurdo do vinculo indissoluvel.

A mulher, que morre no acto da sua rebellião, que é? Hoje, é uma
criminosa que uns deploram, e outros impropéram na sepultura. D'aqui a
cem annos será celebrada como holocausto da emancipação.

Por que, d'hoje a cem annos, visinho, não haverá matrimonio, nem
adulterio--crime convencional e estranho á natureza, na judiciosa phrase
de Girardin--; haverá amor duravel e mantido mutuamente pela liberdade
de quebrantar o pacto. O sacramento, o nó indesatavel, serão os anjos,
os filhos. Por que os filhos, as creanças amadas do defensor de Maria
Magdalena, desde então conversam com Deus, e haurem-lhe dos olhos
divinos o raio de luz que reverbera entre os coraçoens de seus pais. Não
descerá a treva do tedio sobre as almas amadas. A aza pura e alva do
filho cobril-as-ha, quando a hydra da lascivia resurtir das ruinas de
algum extincto mosteiro de bernardos ou bernardas.

Que é o matrimonio?

A definição, dada recentemente pela minha collega Maria Deraismes,
recende aromas de tão subtil feminilidade, que não ha ahi coisa mais
balsamica de donzellice e pudicicia!

Ora, leia, poeta e senhor meu, e confesse que, ao par d'isto, os seus
madrigaes são trovas de marujo que fadeja nas fontes cabalinas da
Travessa dos Barbadinhos.

«O cazamento--diz a dama, invectivando Alexandre Dumas--é a união de
dois organismos, cada qual com seu officio a exercer, em consequencia de
precisoens, appetites, e desejos que reciprocamente pendem a
satisfazer-se um pelo outro, sendo o objecto desta satisfação a
perpetuidade da especie. Eis a essencia, o fim do cazamento.»[1]

Esta minha collega physiologica, ao que parece, é lida em Sanches, _De
matrimonio_, e tem bastantes luzes de anatomia. Para alguns espiritos
rasteiros e ignaros prefiguram-se no hymeneu suavidades, arrôbos,
idealisaçoens, evoluçoens mais ou menos gasosas, borboletas iriadas,
_etc_. A snr.ª D. Maria da EVA, não. Essa vê dois orgãos com appetites.
Em materia de cazamento não é christan, nem mahometana, nem pagan: é
organista.

Em outro lanço, pag. 38, a mesma philosopha, discreteando ácerca dos
ditos orgãos, pondera que «a physiologia, parte da biologia, quando
tracta dos órgãos em exercicio, requer a mais rigorosa imparcialidade, e
a regeição plena de tudo que é postiço.»

Apoiada! Gosto d'esta senhora! Se eu tivesse um filho parvo, dizia-lhe :
«Caza-te com esta D. Maria da EVA, se queres saber biologia.»

Outra minha collega, que por nome não perca, diz que: «se a sua filha
for sanguinea e de compleição robusta, lhe não escolherá marido fraco ou
desfalcado de forças por libertinagem.»[2]

É tambem organista.

Cá está outra: a snr.ª D. Hermance Lesguillon, versada em Aristoteles.

Esta dama abespinha-se rasoavelmente contra Dumas, porque elle parece
alvitrar que as meninas se abstenham de interpretar muito á lettra o
preceito genesiaco. A douta matrona, authora de quatorze livros, exclama:

«Qual é o fim da creação? É decisivamente convento para as mulheres e
mosteiro para os homens? Isto, a fallar verdade, é ridiculo! Onde quer o
snr. que ellas vão? Aos vicios contra-natura, como Aristoteles os
attribue ao masculino nas republicas gregas?»[3]

Veja-me esta sábia, ó snr. Raimundo!

Quer agora regalar-se com um pedacinho de apostrophe contra o mesmo
vicio dos gregos?

«Cautela, eterno masculino! O proprio Deus se offende d'esses attentados
contra a natureza! Esses impudicos mysterios que commetteis contra a
mulher--obra da predilecção e ternura divinas--ultrajam Deus!»[4]

_Mysterios_ impudicos que ella lá sabe, como se não fossem mysterios.
Vista dupla do genio. Emfim, sempre é dama que lê Aristoteles, como a
sua esposa, meu visinho, não é capaz de soletrar a _Palavra_, gazeta de
lettras de 10 reis, as quaes não podem formar uma intelligencia de pataco.

Conta a referida litterata que certa donzella sua amiga, em vespera de
cazar, leu o _Homem-mulher_. Entrou o noivo, e achou-a a tremer de pavor
com o livro entre mãos. Pergunta-lhe que tem; ella mostra-lhe a
brochura, e aponta-lhe com o dedo de ágatha aquelle truculento _Tue-la_!
Mata-a!»

--Que lhe parece isto?--disse a pallida noiva.

--Soberbo!--responde o gentil namorado--Não ha ahi palavra ociosa. O
remate principalmente é optimo!

E a menina, sem mais delongas, desmaiou. E, assim que recobrou os
sentidos, disse á mãe que não queria semelhante marido.

Rodeiam-na as suas amigas; forma-se synagoga de senhoras conspicuas, e
concede-se á loira Alice a palavra para explicaçoens.

E a menina entre outras phrases, expediu estas do seio arquejante:

--Aquelle _mata-a! mata-a!_ zumbia-me nos miolos! Estarreci!.. Como hade
a gente jurar que será sempre a mesma, quando o livre arbitrio está
dependente de outro? Poderei responsabilisar-me por amal-o sempre? Se me
elle sahir abominavel, por sentimentos, e violento, caprichoso e
despota, poderei soffrear a minha impaciencia? Se elle me não agradar
depois, poderei amal-o?--

Visinho, bacorejou-lhe á prevista menina onde iria parar ao diante, e
teve medo. Honrado susto! Não lhe assevero que ella soubesse biologia,
nem miologia, nem manuseasse as politicas aristotelicas; mas de tal
donzella ha muito que esperar, scientificamente fallando. D'estas
vitellas tenras é que se fazem as vaccas sabias e duras.

Mas não se persuada, senhor meu, que a discreta Alice aprezilhe no colo
de alabastro a tunica de vestal. Longe d'isso. Tenciona cazar,
porque as matronas academicas lhe preleccionam biologicamente que a
perpetuidade da especie é condição indeclinavel. Diz ella então muito
aforçurada:

--Heide cazar com pessoa cujos sentimentos eu conheça radicalmente;
quero que eu e elle saibamos com o que podemos contar, e se as nossas
sympathias são reciprocas... Lá do enxoval, que estava prompto, não se
me importa já... Eu ia cazar com um sujeito que não amava nem conhecia.
Primeiro que tudo, quero amar os sentimentos honestos do meu namoro. Com
taes condiçoens, tudo se arranja bem. _Seremos depois indulgentes um
para o outro._[5]

Bastante petisca; mas boa rapariga de lei! E ingenua então... até alli!
Confessa que esteve a ponto de cazar com homem que não amava; mas cazava
tão de vontade como voluntariamente o regeitou. De sorte que, se não
apparecesse o livro de Alexandre Dumas, veja v. s.ª que destino se
estava aparelhando para o marido d'aquella senhora!

Ó visinho, sabe o snr.? eu, se tivesse um filho indulgente, dizia-lhe:
«Rapaz, se não levas a mal que o almoxarife da caza de Bragança, em
Villa Viçosa, te mande agarrar e recolher á tapada como cervo
tresmalhado, caza com esta menina perliquiteta.»


Agora, duas paginas sérias, snr. Raimundo.

Cá tenho a pitada engatilhada ao nariz circumspecto. Devo-me ao futuro
do meu paiz. Vou enviar-me gravemente á posteridade.

Não me consta que em Portugal, por em quanto, alguma das gentilissimas
damas, que recolheram a herança das Sigeas, Alornas e Possolos, haja
sahido á liça a esgrimir com o fulminante estylista francez. Parabens á
constellação de estrellas que scintillam annualmente no _Almanach das
Senhoras_! Que não baixem da região excelsa em que são contempladas cá
d'estas cavernas onde urram alcateas de féras. Se anjos descerem a
involverem-se comnosco, sahirão desluzidos, com as candidas plumas
incarvoadas do suor negro dos nossos pugilatos. Nós, os gladiadores
d'esta arena, se as sanctas estrellas se apagarem, não teremos a quem
saudar, moribundos.

Não as induzam exemplos de escriptoras francezas n'esta melindrosa
contenda. A sciencia perigosa, que lhes sobeja, é escorregadia, pudor
abaixo, até ao desdouro da idéa e da forma. Já lhes não basta a área
modesta dos argumentos colhidos nos mananciaes doces do coração e da
alma. Rompem as fronteiras das sciencias physicas e graduam
chimicamente os globulos cruoricos do sangue de cada mulher.

Dão venia e desculpa aos temperamentos rijos, e acham menos perdoavel o
desacerto da esposa lymphatica. Devassam os latibulos de Sodoma, e
dardejam por sobre a espadua de Aristoteles frechas sarcasticas á cara
purulenta dos lazaros que raspam a sua lepra nas sargentas. Abrem Bichat
e De Bienville para nos ensinarem o que é a esposa anatomica e
physiologicamente. Uma, que diz ter filha ainda creança, promette
consultar o calorico, os estos e o arphar do sangue de sua filha
nubente, quando houver de lhe escolher o homem.

É uma senhora quem cogita e escreve estas carnalidades, e as estampa e
atira o livro á onda suja, que espuma nos tapetes das salas de Pariz e
de todo mundo. As avezinhas, esvoaçadas do pombal do _Sacré-Coeur_ para
o baile, para o theatro, para o _Bois_, seguem o olhar lavateriano das
mães a cada homem anémico ou plethorico, descarnado ou inxundioso, que
se aproxima. Isto sobreleva a torpeza tolerada á mulher que esconde o
seu aviltamento nas alfurjas. N'este phrenesi de esgaravunchar em
temperamentos, será racional que o noivo se exhiba e sujeite a ser
apalpado no craneo pela mãe da noiva, com Spurzheim aberto, para
averiguações de bossas, e confronto de protuberancias das duas cabeças
examinadas como aptas ao maquinismo da procreação. Alvitres
d'aquella estôfa, dados por um ebrio no _estaminet_, revessam-se
precipitados no sedimento do absyntho e do _hachich_; mas, decoados
pelos prelos, tornam a chronica das orgias de Trimalcião um livrinho
digno da puericia, um «Ramilhete de christãos»; e, se derivam por entre
os dedos translucidos de uma senhora, ah! eu não lhes sei o nome!--a
minha vontade é chorar um choro grande como o propheta Ezechias: _flevit
fletu magno!_

E v. s.ª não chora, snr. Raimundo? Esponje-me d'essas entranhas de poeta
fios de lagrimas; depois, enxugue-se, e leia, se está de pachorra.


Aquellas e outras damas que taes livros escrevem, inspirando-se da
catastrophe de Denise Mac Leod, assassinada, pouco ha, pelo marido,
afugentam a piedade de ao pé da sepultura onde o archanjo sombrio e
mesto da paixão se abraça á cruz das Manas Egypsiaca e de Cortona. A
desgraça no tumulo é inviolavel. As mais austeras consciencias se
commiseram das infelizes dilaceradas pelas rodas d'este pessimo
maquinismo social; todavia, a compaixão não é assentimento ás
irreflectidas damas que peróram ás turbas mostrando a tunica
ensanguentada da victima, como quem mostra o punhal de Lucrecia. Se nos
querem commover, chorem primeiro. Lagrimas, lagrimas. Nada de
rethoricas lardeadas de doutorices. Em vez de physiologia,
espiritualismo. Alma; e de corpo só o _quantum satis_. Contem-nos
segredos das suas fragilidades maviosas; coisas do seio para dentro;
flores de coração, que, ainda afogadas e delidas na raiz por abundancia
de lagrimas, espiram sempre olores de innocencia. Se se desviam da
honra, aconselhadas por suas sabenças, então está tudo perdido! Em
organismos, em sangues ricos ou depauperados, em disciplinas do 3.º anno
medico, façam-nos o favor de nos não aperfeiçoarem. Receamos que s.
exc.as nos intimem tarefa de _chrochet_, emquanto ellas, montando os
oculos, abrem o grande volume de Harveus, e, para nossa confusão e
escarmento, pegam de declamar: _Exercitationes quædam de partu: de
membranis ac humoribus uteris et conceptione._ Eu tenho este livro,
visinho; e, se uma filha que heide ter, me abrir o livro e o traduzir no
capitulo _Propagação da especie_, mato-a; para que o filho do snr.
Alexandre Dumas, vindo a ser meu genro, m'a não mate, aconselhado pelo pai.


Snr. Raimundo:

Eu não sei se sua esposa é instruida e bastante profunda em _Ponson du
Terrail_. Que não vá ella arrenegar do mau visinho da porta como de
todos os diabos, malsinando-me de zoilo de damas que versam com mão
diurna e nocturna os romances da «Bibliotheca economica».

Não, senhor.

Acato a sabedoria das senhoras, quando a figura lhes dá geito de
virágos, feitio de mestras regias jubiladas, e um não sei que de sexo
canonico.

Que sua esposa, moça e galante, recite ao piano trovas de lavra propria,
e escreva o soneto acrostico no dia natalicio do marido, acho isso
bonito, senhoril e benemerito de um até dois osculos castos e dignos da
testa da Minerva antiga. Mas, se ella descambar das branduras erothicas
de Sapho para as meditaçoens sociologicas da snr.ª Canuto, peco-lhe,
visinho, que a obrigue a lêr as obras de meu mestre doutor Theophilo, a
fim de ganhar odio á letra redonda--virtude supranumeraria dos escriptos
d'aquelle varão.

Houve damas que lograram intalhar seus nomes na arvore immortal da
sciencia; essas, porém, não desgarraram da senda florída por onde as
abelhas do Hymeto lhes sahiam a dulcificar mulherilmente a phrase.
Dou-lhe como exemplo Stael.

De involta com vastissima lição entreluzem, nos seus livros mais grados,
donaires feminis, e genio acendrado na fragua do coração. Ao proposito
d'esta esteril peleja, que se renova cada vez que um marido se furta
ás prezas da irrisão publica, atirando ás da morte a esposa adultera,
Stael perpassou ligeiramente, como lhe cumpria, pela solução do
divorcio, reprovando-o. No extremado livro chamado _Da Allemanha_,
escreve a insigne pensadora: «É forçosa coisa confessar que a facilidade
do divorcio, nas provincias protestantes, macula profundamente a
sanctidade do matrimonio. Tanto monta mudar de marido como urdir as
peripecias de um drama. Lá, a boa indole dos homens e das mulheres
permitte que semelhantes rompimentos não sejam amargurados... É,
todavia, certo que, á conta d'isso, a consistencia do caracter
alquebra-se, os bons costumes abastardam-se, o espirito paradoxal alue
as mais sagradas instituições, e não ha ahi determinar regras sobre
coisa nenhuma».[6]

Aqui tem sentimentos que frizam honradamente primorosos em indole de
senhora n'esta questão, a todas as luzes pessima, por nimiamente
arriscada. Aquelle parecer é talvez vulneravel, e não resistirá, por
ventura, a Portalis ou Montesquieu; mas o que a sciencia lhe respeita é
a honestidade. Filha, esposa e mãe,--tudo no extremo em que a eminente
escriptora logrou ser, em vida tão aparcellada de angustias--respiram
n'aquelle pudibundo resguardo á seriedade do cazamento. Ella não quer o
divorcio: quer a dignidade na paciencia, quando falleça no homem a
probidade de marido.

Compare-m'a, snr. Raimundo com estas Hippatias de 1872. Em quanto a
poetisa de _Corinna_ linimentava suas maguas de expatriada com a
_Messiada_ de Klopstock, est'outras, com o cerebro ainda escaldado dos
meteoros de petroleo, justificam o desaire das esposas com a physiologia
de Muller, e vão ler, ao lampejo dos cirios mortuarios, que ladeam o
ataúde de Denize Mac Leode, as vaias que o philosopho de Stagyra
desfrechava contra os pederastas espartanos.

Quer v. s.ª ler, a occultas de sua esposa, um molde de altercação, entre
marido e mulher, que D. Maria da EVA, lhe offerece em desculpa da adultera?

MARIDO

O adulterio de minha mulher póde fazer-me pai de filhos alheios.

ESPOSA

O adulterio de meu marido póde arruinar-me os bens de fortuna.

MARIDO

Tu devias ter força e juizo para não succumbir.

ESPOSA

E tu, que representas a razão, foste o primeiro a prevaricar: não fiz
mais que pagar-te na mesma moeda.

MARIDO

A minha culpa foi um mero capricho dos sentidos.

ESPOSA

E a minha foi uma necessidade. Quizeste que eu fizesse de viuva sem ter
inviuvado.[7]

      *      *      *      *      *

Aqui tem! Que senhoraças! Não lhe faz saudades a decencia das _Cartas_
de Ninon de Lenclos? Eu estou em dizer-lhe como o poeta,

                    _que honras e famas_
    _Em taes damas não ha para ser damas_[8]

E, por tanto, visinho e amigo, á vista do que pregam estas pandorgas
folicularias,--symptomas de acirro incuravel no coração da
França,--somos entrados em periodo de decomposição. Salve-se quem poder
com a sua companheira d'esta peor Troya, e leve alguns penates reduzidos
em especies bancarias sobre os hottentotes, e vamos para lá muito nas
boas horas, se v. s.ª não prefere antes que fiquemos para moralisar as
massas.

Eu, de mim, anteponho o martyrio á fuga. Irei bradar debaixo dos
muros d'esta segunda Jerusalem, sem me esquecer de Barcellos, Amarante,
Lamego e outras Ninives corrompidas. Se os de dentro me amolgarem a
cabeça á pedrada como fizeram ao outro enviado do Senhor, arrange v. s.ª
a formar de mim um sugeito legendario, depois de consultado mestre
Theophilo--o arbitro das castas--sobre a raça em que me hade grudar.


Sou apostolo commedido e modesto, snr. Raimundo. Não me desvanecem
presumpções de o convencer. O que faço é alqueivar bravios: o semeador
virá mais tarde.

Repare, no emtanto, por essa vida de seis mil annos fóra que vem
fluctuando desde o cháos. Não vê uns altos e eternos padrões
assignalando paragens que o genero-humano fez para ouvir a consciencia
de sua força, o Deus interior, pela voz dos oraculos? Sobre esses
padroens ha umas estatuas que topetam com as estrellas. Chamam-se
Moisés, Fó, Kong-Fou-Tsée, Socrates, Platão, Aristoteles, Cicero, Paulo,
Galileu, Luthero, Vico, Descartes, Kant, Kepler, Leibnitz, Newton,
Pascal, Montesquieu, Voltaire, etc.

Cuida v. s.ª que as torrentes da vida intellectual e progressiva se
rebalsaram n'este pantano descompassado em que as rans, por entre os
rabaçaes, nos estão coaxando sciencia... de rans? Está illudido,
visinho. A natureza humanal fermenta, tem febre como puérpera d'um
grande feto que lhe escouceia os flancos, fita grandes orelhas abertas
aos rugidos da idéa nova que vem da Cafrária, e assesta o oculo de longa
mira ás brumas do horisonte, onde, a espaços, lhe corisca um pyrilampo,
que, se não é Theophilo, sou eu.

Se é elle, digam-lhe que se abra. _Epheta!_--palavra hebraica, que quer
dizer: _abre-te!_ Melhorar os costumes das raças deve ser-lhe mais facil
que a costumeira de invental-as. E elle, como o visinho
sabe--inventou-se a si, inventou aquillo! Pois então que falle, com
dispensa até da syntaxe. Que espirre candeias na treva que se está
condensando á volta do cerebro social--a familia. Que laqueie a grande
arteria aórta da sociedade humana--o matrimonio. Que defeque o intestino
cego das raças germanicas e latinas da ténia que o róe--o adulterio. Que
nos diga, em fim, Theophilo o que se hade fazer ao dono ou dona d'esta
prenda!

Ninguem receia que se esquive de entrar n'esta gafaria de tabardoens,
com o seu emplasto, elle, que entrou com 3725 paginas em-8.º no
gasofilacio da patria. Sabia isto, visinho? E nós, os seus discipulos
laudanisados, esperamos que o mestre, depois desta somnolenta operação
de Mesmer, nos transporte ás regioens translucidas do espiritismo.

Entretanto, porém, que o vidente incuba, vou eu arroteando o chavascal
que elle depois tozará mais a preceito.

Snr. Raimundo, poeta laureado e amigo:

Alexandre Dumas-Filho quer que Caim cazasse com uma macaca, natural do
paiz de Nod, terra desconhecida a Strabão. É logicamente rigoroso que um
paiz desconhecido a Ptolomeu e outros geographos antigos seja paiz de
macacas. Se v. s.ª não achar no mappa de Portugal a terra onde fui
creado e educado, a Samardan, tão chasqueada por Filintho Elysio, fica
authorisado a decidir que eu, em pequeno, andava lá pelos bosques a
brincar com as caudas dos cynocéphalos, meus mestres de gymnastica e
gesticulação.

--D'onde és tu, meu amor?--pergunto, na praia da Foz, á mulher que adoro.

--Sou de S. Gonhedo--responde ella.

--De S. Gonhedo? Espera ahi.

Abro o «Diccionario geographico», de que ando munido depois dos ultimos
acontecimentos. Procuro _S. Gonhedo_, e não acho.

Começo a suspeitar que o meu amor é de Nod;--que é, pelo menos,
amacacada. Disfarço, accendo o meu charuto, e safo-me. É o mais prudente.

De Caim e de sua esposa Catarhina (sem _dom_: receio que v. s.ª,
esquecido dos seus estudos zoologicos, faça a mulher quadrumana de Caim
homonima da inspiradora de Luiz de Camoens. _Catarhina_ é o nome de uma
das duas tribus da primeira familia de macacos. Veja Milne-Edwards,
Dumeril, Lamarck, e a mim, _passim_)--de Caim e de sua esposa Catarhina
procedem, segundo Alexandre Dumas, as mulheres de má raça e condição
bravia. Pelos modos, n'esta progenie maldita, os machos são poucos, sem
embargo de enxamearem por ahi em barda uns que macaqueam Schlegel e Kant
como uma foca póde remedar um acrobata arabe.

A geração de Caim, continuada em Cham, brunida pelo esmeril dos seculos,
adelgaçou-se e puliu-se de feitio que já se confunde hoje em dia com a
descendencia abençoada de Sem e Japhet.--V. s.ª (permitta o
exemplo)--está persuadido que sua senhora é da raça boa, e faz muito
bem; mas vá de hypothese que sua mulher amua e trinca o labio porque o
visinho resiste a renovar-lhe a cuia. Parece-me que será então acertado
reparar se ella n'essa occasião róe o sabugo, se coça os quadris com o
dedo indicador, e anda de cadeira para cadeira a dar uns saltos
suspeitos. Se este desgraçado presupposto se realisar, v. s.ª não será
demasiadamente iniquo desconfiando que está matrimoniado com uma senhora
que tem nas veias um litro de sangue de macaca. Feito o
descobrimento anthropomorpho (queira desculpar esta gregaria),
nenhuma cautella é de mais. O bom siso pela minha boca humilde,
aconselha o visinho que lhe dê a cuia, duas cuias, e tres nozes para
ella se desarrufar. Se não fizer isto,... estende-se, snr. Raimundo.

Começam a entre-luzir os meus principios ácerca do adulterio. Já achou,
visinho?

O adulterio é um fatalismo organico. A mulher de stirpe macaca é
irresponsavel do fratricidio e cazamento bestial de Caim. A rôla
arrulha, o sagui chia, cada qual segundo a sua natureza glottica. O
homem não deve sangrar á ponta de punhal a arteria onde o supremo
gerador injectou sangue viciado. Ninguem se lembrou de fazer irmans da
caridade as hyenas, nem encarregou os pachidermes de missionarem aos
pretos seus visinhos.

O crime deprehende-se da liberdade de o não praticar. A bossa impede o
arbitrio.

O homem, que descadeira a mulher victima da fatalidade do seu organismo,
será capaz de me desfechar um rewolver á queima roupa, se eu lhe não
aceitar a côrte. E eu não lh'a aceito, por que não está na minha
organisação aceitar a côrte do masculino nem do neutro. Sou
irresponsavel da minha esquivança ás caricias ardentes d'essa pessoa.
Não posso amar o sugeito que me enviou uma camelia, ou um frasco de agua
de Colonia do Farina. Se esse galan me bater, sobre ser asno, é feroz.

Os legisladores, menos arredios das leis naturaes, estatuem que marido e
esposa se divorciem, dada a incongruencia de genios, aggravada pela
prevaricação dos reciprocos deveres da fidelidade conjugal. O divorcio,
porém, restricto á separação do foro conjugal e bens, não sanêa as
feridas abertas na honra. A mulher resvala com o nome do marido a todas
as voragens onde a irresistivel condição a baqueia.

Hade elle, por tanto, matal-a para desacorrentar-se do pelourinho do
vilipendio? Não; por que mata um authomato inconsciente da sua queda. É
como se andasse ás facadas aos seus amigos, por que elles, na sua
qualidade de corpos, obedecendo á lei da gravitação, pendem para o
centro da terra.

«O divorcio judiciario constitue o cazamento escola de escandalo»--diz o
douto dramaturgo do _Supplicio de uma mulher_.[9]--E acrescenta: «A
interferencia de juizes é quasi sempre cega ou nociva. Se entre cazados
ha motivos de divorcio, deem-lhes plena liberdade de se desligarem». Até
aqui o primeiro publicista de França.

Mas divorcio incondicional, rompimento sem clauzulas. Se ha dote ou bens
paraphrenaes, a mulher é credora, não já do marido, que é um titulo
extincto, mas do detensor incompetente dos seus haveres.

Essa mulher, livre, póde encontrar marido de sua especie, com tres
partes de macaco ou mais, que lhe não estorve os instinctos, e ser
ditosa, como a esposa de todos os sujeitos de prol e tino,

    _Que não são de ciumes offendidos._

E, simultaneamente, aquelle homem, desatado do vinculo infamante, póde
topar uma descendente de Japhet, esposa leal, sanguinea ou biliosa, mas
sobre tudo honrada, que é melhor que lymphatica.

E o sacramento?--pergunta-me o visinho com a Cartilha de Mestre Ignacio
em punho.

O sacramento, snr. Raimundo, é um attentado contra a natureza; é, na
phraze energica de Girardin:--«uma pretenção impia dos fabricadores de
leis positivas, prophetas e legisladores a desfazerem as leis naturaes
para refazerem o genero humano sob o nome de Sociedade».

Observe que Girardin foi marido exemplar de Delphine Gay, a mais formosa
e illustrada alma no mais gentil corpo de parisiense. Pondere n'isto.

Mas muito mais ponderosa é a questão dos filhos.--Que se hade fazer
ás creanças, flores que desbotoam á ourela d'essas sentinas, anjos
nitidos que passam deplorativos por entre as lavaredas d'esses infernos?

Os filhos, legitimos ou bastardos, adulterinos ou incestuosos são eguaes
perante a mãe. Ella é quem não duvida que os filhos são seus. Receba-os,
leve-os, que talvez leve comsigo os esteios do seu rehabilitado decoro.
Mas, se o marido os quizer, deixe-lh'os, que bem amparados ficam no seio
do amor. Deve de ser immenso o bem-querer do homem que lava com suas
lagrimas os estygmas na face do filho da mulher perfida e repulsa.

Pergunta-me o visinho se, em harmonia com estes paradoxos, o cazamento,
a alliança sacramental de homem e mulher acabam.

Acaba o que a sociedade fez, violentando o que a natureza tinha feito.
Mulher e homem volvem ao que foram.

Target, o collaborador do Codigo Civil da Convenção, responde-lhe melhor
do que eu: _Onde quer que a sociedade encontrar um homem vivendo com uma
mulher, deve reconhecer um consorcio apto para dar aos filhos o direito
da legitimidade._

--Paganismo!

Seja o que v. s.ª quizer; mas olhe que já não é bom tom trejeitar
visagens e momos quando a razão joeira perolas no lixo da Roma de
Aggripa e Seneca, de Catão Censorino e Marco Aurelio. Se o visinho
admira nos Congregados e na Trindade muita senhora, devota e escrava de
Maria Sanctissima, não se edificaria menos entrando em Roma no templo do
Pudor, edificado pelas Veturias, Cornelias, Calpurnias, Sulpicias
Pretextatas e Arrhias Marcellas. Estas ou morriam com os maridos amados,
ou vingavam-os. O opprobrio não ousava erguer a cabeça petulante de
sobre a alta barreira que extremava aquellas matronas das Silias e
Octavias, das Apuleias Varilias e das mulheres de Claudio.

O visinho sabe que na Roma pagan, dado que o divorcio pendesse da
simples deliberação de um ou de ambos os conjuges, ou ainda do mero
capricho do marido immoral--quer elle se chamasse Nero ou
Cicero--decorreram quinhentos e vinte annos sem um exemplo de divorcio.

Montesquieu explica o phenomeno: «Marido e mulher soffriam-se
pacientemente os mutuos dissabores cazeiros, por isso mesmo que podiam
acabal-os; e, só por que tinham livre o uso d'esse direito, passavam
toda a vida sem pratical-o».


Ahi está a minha idéa peneirada aos ventos quadrantes da opinião
tempestuosa das turbas. Ruja a leôa da hypocrisia na sua
caverna--que eu, á laia do varão justo de Horacio, ouvirei sem pavor o
estrondear do mundo derruido á volta de mim, visto que tenho assistido
impavido aos estrondos de todas as philarmonicas de que sou socio
prendado. _Impavidum ferient ruinæ._


Direi agora de v. s.ª, e de mim, e aqui do visinho especieiro da
esquerda, e d'outros sucios do masculino.

Napoleão I, na ilha de Sancta Helena, mandou escrever no seu _Memorial_
que «um homem deve ter muitas mulheres». Fez o que disse, e formulou uma
maxima ao alcance de todos os tolos, salvo seja. A aguia de Austerlitz
alçou aos páramos da sua ascenção axiomatica os infimos escaravelhos e
osgas d'estes nossos paues burguezes.

O nosso velho amigo D. João Tenorio incorporou-se em toda a casta de
galan esgrouviado, de galan mazorro, de galan aparrado no corpo e na
alma. Os monarchas, constituidos Luizes XIV de refugo, metteram nos
paços uns retalhos de Constantinopla, com a differença que os seus
camaristas--os lançarotes--não poderiam gargantear de falsete na capella
sixtina. Por sua parte, os sapateiros, convictos da egualdade do homem
perante a mulher, fizeram-se tambem califas de sultanas cozinheiras,
immolando á sua intemperança d'amores o decoro das cozinhas e a
perfeição das almondegas.

Está, pois, derrancado o masculino desde o throno até á tripeça.

E diga-me cá, ó visinho: onde iria cada homem buscar as muitas mulheres
decretadas por Napoleão--o grande? Fóra do triangulo? era impossivel. V.
s.ª está bem certo do que é o triangulo? Vem isso lucidamente explicado
no _Homme-Femme_ de Alexandre Dumas. Triangulo é o homem-movimento, é a
mulher-fórma, e é Deus manifestado n'essas duas coisas que se unem. E,
se não se unirem e amalgamarem n'uma só, nem o homem terá fórma, nem a
mulher se moverá. Por tanto, homem sem mulher tem pezo, mas não tem
feitio; mulher sem homem, nem se quer é um _movel_, por que é immovel.
Mais claro do que isto, só um preto e a _Poesia do Direito_ de mestre
Theophilo.

Logo que o Codigo Penal não providenciou contra o homem, contra o
movimento, que se quizesse apropriar vinte fórmas de uma assentada, era
de esperar que a sociedade soffresse grande terramoto nas suas mais
augustas instituiçoens. Assim aconteceu. O homem, abroquellado com a
impunidade, desfraldando a bandeira da natureza em bruto, arpoou as suas
prêas no proprio thalamo conjugal. Tal marido, que tinha uma só
fórma, perdeu a mulher, e ficou amorpho, sem feitio de casta nenhuma.

Outros, que tinham duas fórmas e d'ahi para cima, lá se avieram melhor
com a sua vida. A mulher, essa é que nunca ficou intrevada, á mingua de
movimento, porque o homem para ella era como o ramo de Virgilio:--homem
ido homem substituido:

      _Primo avulso non deficit alter._

Choveu então aquella praga de leoens devastadores, _Leo vastratix_ de
Lineu--uns ribaldos que se gabavam de ser pais de todos os nossos
filhos. E seriam;--o diabo o jure!

Estes homens eram negros ou pallidos--Othellos ou Romeos. Tinham
maneiras scismaticas nas salas. Sombrios como anjos precipitados;
demonios ainda bellos do resplendor do céo perdido. Liam romances do
visconde de Arlincourt, cheirando a patibulos ensanguentados. Bebiam
cognac, na abundancia, em que o _crévé_ de hoje em dia, o seu filho
degenerado, bebe agua de Entre-ambos-os-rios para desimtupir o figado.
Comiam bribigoens e outros testáceos com salada de malaguetas.

Ás duas da manhan sahiam dos seus antros da Aguia-d'ouro, chapeo
derrubado, capote ás canhas, e içavam a devastação das familias
pelas trapeiras com escadas de corda.

Estes devassissimos Richelieus de esnoga eram conhecidos. Toda a gente
fina sabia que elles bebiam as lagrimas de umas senhoras pelos craneos
das outras. E, não obstante, a sociedade decretava-lhes a primazia na
elegancia, o primor na cortezia, e bom-gosto nas fidalgas estouvices.

Era vêl-os nas salas.

As meninas remiravam-os de esguelha, tremidas de amor e mêdo; e
aconchegavam-se da egide tutelar da mãe que lhes segredava em suores de
afflicção:

--Aquelles homens tem manfarrico! Meninas, não olhem para elles, que tem
perdido muitas donzellas, e de cazadas não ha conta nem medida.

E as meninas ficavam sabendo que as donzellas se perdiam como as
cazadas; e, se perguntavam o destino d'essas perdidas, as mães respondiam:

--Não vês alli D. Pulcheria? D. Athanazia? D. Herminigilda? e _etc_?!

Ellas reparavam castamente, e viam as trez nomeadas, e as _etcoeteras_,
refesteladas em poltronas, arraiadas de seda e pedras. E, depois,
viam-as ir, sobraçadas pela cinta desnalgada, nos braços d'aquelles
homens precítos, regamboleando a perna com furor macábro n'aquellas
polkas de então que eram a propria lascivia, o segredo descoberto das
corêas na festa da deusa Bona.

Eram assim iniciadas as meninas ao sahir do collegio: mostrava-se-lhes o
seductor fatal com o prestigio das salas e dos amores defesos;
mostrava-se-lhes a mulher deshonesta com as regalias dos diamantes e das
polkas.

Parabens, visinho! D'aquelles homens, uns morreram; outros, prostrados
ao canto da leoneira, urram nas angustias da gotta, e pitadeam do
meio-grosso.

Durma v. s.ª socegado nos braços da esposa fiel e da policia civil.
Escada de corda não consta ha muitos annos que as patrulhas topassem uma
funccionando contra o pudor publico. Das muitas cordas que houve,
suspeito que os seus possuidores se serviram, inforcando-se a final com
ellas para desaggravo dos bons costumes.

Verdade é que se dispensam escadas, se a hypothese ethologica de
Alexandre Dumas é verdadeira--a hypothese das macacas, á qual eu
racionalmente associo a hypothese dos macacos, com bastante desaire do
meu sexo. Aquelles bichos atrepam contra todas as previsoens da policia.
Um bugio é capaz de enroscar a cauda na sacada do visinho da esquerda, e
baloiçar-se á janella do snr. Raimundo com a maior limpeza de
trabalho: _quod di omen avertant_--o que os deuses não permittam!

Seja como fôr, oiço dizer que os defunctos leoens, se não deixaram
leonculos com as mánhas paternas, inocularam na geração actual o que
quer que fosse da sua posthema. Por aqui na nossa rua e nas travessas
limitrophes, graças aos temperamentos, não tem havido, que eu saiba,
supplicio de macaca; observo, porém, cheio d'estas tristezas modernas,
que, uma vez por outra, lá ao longe, certos maridos, ignorantes do
cazamento de Caim no paiz de Nod, vão exercitando o officio do avô sem
se importarem dos costumes da avó: matam.

Esta acção, visinho, se me não parece digna, sem reserva, do maior
elogio, tambem a não impropéro em diatribes de Sganarello que defende o
seu impudor proprio, arguindo a crueldade alheia.

Isto de trahir é um funesto pendor do organismo. E matar, a meu vêr, é
uma funesta e irrecusavel influição da nevroze. Mulher, que refrear os
impetos do seu temperamento, é tanto como divina, senão é mais, porque
sopeza a natureza, divinamente saturada do deus universal, do grande Pan
indivisivel. Homem trahido, que sente em si o retalhar de dois gumes,
amor e honra, dois cauterios a sarjar-lhe a um tempo coração e
cerebro,--que arde em ancias de matar como ardêra outr'ora em ancias
d'amor, tal homem, se perdoou, é um sancto, é a mais bella e perfeita
desgraça que Deus creou.

Não temos, porém, que ver com aquellas excepçoens. Balancemos o
thuribulo da nossa admiração á Providencia d'essas almas, e desandemos
para a feira franca onde o sátan de Gil Vicente infeirava as suas
vitualhas.

O commum dos adulterios é a retaliação, o despique, a mulher que a si se
despreza por que se vê aviltada do marido. Elle, sacerdote do amor,
erigira-lhe altar e idolatrára; depois, esfriado o fervor, apeára o
idolo, e assentará sobre a peanha profanada a deidade nova, com
resplendor de seducçoens infames. Primeiramente, o amor e vaidade
choraram no coração da mulher expulsa do templo; em seguida, o orgulho
represou as lagrimas, fêl-as peçonha de vingança; e, por derradeiro,
livelou a mulher vingada hombro a hombro do homem libertino. Elles ahi
estão, dignos um do outro, levados pelo delicto social ás leis
authenticas da natureza. Acabou o artificio do marido-esposa.
Restaurou-se o macho-femea. Romperam o pacto da fidelidade?
deshonraram-se reciprocamente? Muito bem! Hossana aos filhos da
natureza! _Urrah_ pelo rebanho de Epicuro! Qual matarem-se! Vivam! no
lar ou na rua, na lama ou nos arminhos; mas vivam e medrem como gente de
boas e bem saldadas contas.

Isto é o que a lei quer, o que a religião da caridade aconselha, e o que
a sociedade tolera com um bem dissimulado respeito.

Todavia, ha ahi uns celibatarios, extraviados dos concilios, amantes
extremosos, pais loucos de amor aos filhos, mas, em fim, celibatarios
impudicos, que sorriem, a occultas, dos maridos logrados.

Quem disse a esses malsins do lar alheio que taes maridos são logrados?
Com que protervia se marêa a fama da esposa estygmatisando-a de perfida?
Esposo trahido e mulher treda são os que reciprocamente se mentem. Cessa
a ignominia da perfidia onde começa a luminosa tolerancia da desforra.
E, por tanto, a invasão da crytica ao seio da familia, que não reclama a
interferencia do Codigo Penal, é uma villania estupida, um insulto á
liberdade dos cultos.

Snr. Raimundo, sei de umas pessoas, que mofam cruelmente dos maridos
enxovalhados pelo desdouro das mulheres. Ora, esses que hoje escarnecem
o homem deshonrado, apedreja-l'o-hão ámanhan, se elle offerecer o
cadaver da adultera como resgate da sua honra.

--Matar! Oh! não, assassino! Despenhassel-a antes com um ponta-pé, de
abysmo em abysmo, até aos nossos alcouces. Nós já temos encontrado cá
mulheres illustres como a tua. Borrifamol-as com a champagne das
nossas orgias. Ouvimol-as espumejar dos labios roixos o nome dos maridos
por entre o acre do alcool. Vimo-'las repintadas de esfoliaçoens
esqualidas no rosto. Soubemos emfim que o lençol da misericordia as
baldeou da infermaria á vala. E os maridos viveram e sobreviveram, por
que tinham juizo na cabeça, e abrigavam religiosamente no coração o
augusto preceito: _não matarás!_--

Apoiados! snr. Raimundo, apoiados! Estes homens fallam bem: são os
sociologicos, os philosophos, os estoicos, os cultos, sou eu, é v. s.ª,
se me não illude a confiança que puz na sua capacidade, hão de ser os
jornalistas, os legisladores, os juizes e os jurados, quando a brocha
der a ultima de mão n'este mascarrado edificio social.

Se eu tivesse um filho, havia de encouraçal-o para se affrontar,
intemerato e invulneravel com esta sociedade cancerada. Creal-o-hia
debaixo de mão, e no regaço da mãe virtuosa, até aos trinta e cinco
annos, vestido de menina. Depois, mandal-o-ia estudar primeiras lettras,
e ultimas, com professor de acrizolada sanctidade de costumes--mestre
regio que houvesse tido a heroica abnegação de viver com o que lhe dá o
governo, sem me sahir á estrada a roubar-me o relogio. Aperfeiçoada
d'esta arte a educação intellectual de meu herdeiro, eu iria com elle a
um ponto culminante da cidade, á Torre dos Clerigos, por exemplo, na
falta da montanha de Alexandre Dumas, e dir-lhe-hia o seguinte:

«Meu filho, tens quarenta annos. Fizeste exame de instrucção
primaria:--coisa que eu não era capaz de fazer. Sabes as _Raizes da
formação dos tempos_, conjugas um verbo irregular, tens luzes não
vulgares do _Preterito mais que perfeito composto_, bebeste a longos
haustos os _Logares selectos_ do snr. Padre Cardoso, e vislumbraste
Guizot atravez da historia patria do snr. Motta Veiga. Estás prompto. Eu
é que não sei nada d'isso; que desbaratei a minha mocidade com o
_Thesouro de meninos_, e depois com a tisoura das meninas, umas
costureiras que me cortaram os voadouros, quando eu batia as azas para a
região superior do _Manual encyclopedico_. Perdi-me. _Delicta juventutis
meæ._

«Em compensação, meu filho, fiz enxertar no teu cerebro dois garfos da
sciencia universal. És um reportorio dos conhecimentos humanos e
prestadíos. Estás habilitado para tudo, desde porteiro do Monte-pio dos
empregados publicos até ministro da Marinha.

«Portugal é conquista dos talentos, como sabes.

«Espera-te uma cadeira velha na Academia Real das Sciencias, e outra no
Gabinete de Leitura de Lamego. Tem-me d'olho estas duas couçoeiras
luzentissimas dos penetraes da immortalidade.

«Tenho a satisfação de saber que chegaste á florida idade dos quarenta,
sem que uma só petala se haja fenecido na tua grinalda de virgem. Em
meio d'esta fornalha de Babylonia, portaste-te como verdadeira
salamandra. Era grande o meu jubilo quando te via chegar a caza em
mangas de camiza, e, rosado de pejo, me dizias que mulher de Pharaó te
despira o fraque! És um menino das eras antigas. Em tempo de D. João V e
outros reis castos, serias sacristão de Mafra ou da Patriarchal. Hoje em
dia, a virtude da continencia levada a tamanho apuro, poderá, quando
muito, permittir-te a directoria interna do Azilo das velhas do Camarão.

«Meu filho, é tempo de intrares na fórma, quero dizer, de teres fórma,
de completares o triangulo com a esposa.

«Caza-te, se queres; mas, se te parece, espera mais cinco annos--periodo
não de sobra para bem digerires e ruminares certos preceitos. É bom
ruminar desde já, para que depois não estranhes as operaçoens
physiologicas de ruminante.

«Entretanto, procura esposa que não saiba lêr nem escrever, se tanto fôr
possivel; receio, porém, que a não topes n'este paiz onde a instrucção
está por tanta maneira derramada. _Derramada_ é o termo lidimo.

«Se, á mingua de outra, o coração te esporear para mulher versada no
alphabeto, fornece-a desde logo de livros uteis, brindando-a com as
copiosas _Artes da cozinha_, que se publicaram n'este abençoado
refeitorio de Portugal, desde Fernão Rodrigues até Ramalho Ortigão. Não
se te importe que ella conheça este segundo sujeito; mas tão sómente do
_Cozinheiro dos Cozinheiros_, que elle deu á estampa com outros poetas
causticados da inspiração satanica de Beaudellère. Que tua mulher
procure o vampiro d'aquelles genios unicamente no seio de um timbal de
borrachos.

«Averigua, antes de mais nada, se tua noiva procede directamente de sua
quinta avó e respectivo avô, sem travessia. Tal avó tal neta. Indaga que
frades, e de qual ordem, entravam em casa das avoengas do teu namoro; e
não será demasiada pesquiza esquadrinhar se a mãe d'ella ainda alcançou
os bernardos.

«Sabido e provado que a menina é de boa linhagem, observa se isto de
fundilhar ciroulas e apontar piugas não são para ella coisas mero
legendarias, tradicçoens mythicas de Peneloppe e da rainha Bertha. Bom
será que ella seja caroavel da criação de parrecos e gallinhas, e outros
«lances cazeirissimos» ao modo de fallar de D. Francisco Manoel de Mello.

«Que não se te olvide de espiar-lhe com aturada vigilancia o
temperamento, como clausula em que muito bate o ponto. Se te sahir
sanguinea,--alimentação vegetal, legumes, muita chicoria, fructas e
macarrão. Se lymphathica, não privo que a faças quinhoeira de
substancias fibrosas. Se os nervos predominarem, subordina-lhe a
alimentação calmante aos banhos de chuva. Em summa, pelo que é de
temperamentos, intende-te com Alberto Pimentel, auctor dos _Sanguineos,
lymphaticos e nervosos_, amavel escriptor que todos os noivos devem
convidar para lhes tirar o horóscopo da systole-dyastole, e da espinal
medula.

«Estás, pois, cazado, meu filho. Tens outra alma no ámago da tua, uma
segunda consciencia a dirigir, como pai, esposo e sacerdote. Na
qualidade de padre de tua mulher, não me admittas acolyto, percebes?

«Serás fiel a tua mulher; leval-a-has ao Circo de quando em vez; e de
tempo a tempo á musica do quartel-general, e ás Figuras de cera,
auctorisadas pelo chefe da policia, por causa das Venus. De comedias
chamadas «de cazaca», e dramas lardeados de can-can, e Quadros-vivos,
livra como de peste.

«Irás onde ella fôr; passarás á sua beira as noites de janeiro, fazendo
«paciencias» ou jogando o burro: isto emquanto não ha prole. Quando
houver pequenos, andarás com elles ás cavalleiras, emquanto a mãe
jubilosa lhes está costurando os atafaes.

«Visitas de casta nenhuma, sem resalva de sexo ou idade. Diz o esperto
Rozado nas _Lagrimas de Jerusalem_: «Está o mundo cheio de velhos e
velhas que lêem de cadeira vicios aos moços e ás moças.» Foi isto
estampado ha duzentos e cincoenta annos! Que diria elle hoje? O que
escreveu n'outro lanço: «Já não ha virtudes nem cherume d'ellas».

«Ora bem: conjecturemos agora, meu filho, que tua mulher, lealmente
amada, farta e cheia, querida e acariciada, pega de sentir-se invadida
ob e subrepiticiamente pela imagem de certo homem que viu no Circo ou
nas Figuras de Cera. Considera, ó misero, que o freguez da Gran-Duqueza
é um d'esses cachorros da raça funesta dos citados «leoens», que,
atravez das lentes do binoculo, despede coriscos á alma de tua consorte,
queimando-lhe as grandes arterias, as medias, as filamentosas, os vasos
capillares, tudo em que ha sangue e palpitar na economia animal.
Considera, outrosim, que ella, ouvindo a cavillosa natureza, mãe dos
escandalos, em vez de confessar-se a ti, que és o seu padre lareiro,
manifesta-se á cozinheira; e, por entre os soluços da honestidade
moribunda, abre-lhe o peito onde a sua má sina lhe photographou a
ternissima cara do Saint-Preux do Circo.

«Por te não polear inquisitorialmente com hypotheses, vamos á ultima. A
cosinheira introu no triangulo. Tua mulher recebeu cartas, e
respondeu-lhes, servindo-se dos teus diccionarios, do teu papel pautado,
dos teus enveloppes, e, para remate da affronta, da penna com que tu
enriquecias de glossas o _Cozinheiro dos cozinheiros_, ou esboçavas
narizes tortos para intreter os rapazes.

«N'este tempo,--vá outra conjectura desgraçada--suppõe tu que eras socio
prendado, como eu, de varias philarmonicas aonde ias, uma noite por
outra, prestar a Offenback o preito da tua corneta de chaves. Com refece
sorriso, tua mulher dava-te á sahida o osculo do costume, e esperava-te
de volta, perguntando-te com a voz convulsa da consciencia irrequieta se
fôras feliz nos bemoes, e tiveras palmas no solo do 2.º acto da «Ilha de
Jafanapatão.»

«Ah! filho! Estavas trahido como todos os musicos incautos, trahido como
todas as victimas generosas das bellas artes, quando a alma enthusiasta
as etherisa assima do capacho onde as esposas se amesendram com as suas
aspirações razas!

«Atraiçoado, pois!

«E, por tanto, se essa mulher, que tanto amavas, te cravou o punhal
hervado da deshonra no intimo seio onde lhe tinhas a imagem;--se te coou
mortal peçonha no beijo que te deu com os labios crestados da lava de
outros lubricissimos;--se te fez a fabula dos visinhos, e te plantou
na praça onde ha o gargalhar dilacerante, e ahi te poz ao cêvo dos
corvos que crocitam á volta do corpo onde farejam morta uma alma;--se te
levou o nome pelos seus muladares, a rojo da cauda de seus vestidos
mercadejados com o corpo;--se te acalcanhou o coração, e te matou no
cerebro o roixinol dos teus cantares;--se te incutiu no _eu_ objectivo a
dyspepsia, a hepathite, a hypocondria, a cacochimia, e emfim te poz a
honra e os intestinos entre o suicidio e o inevitavel opprobrio: sabes o
que hasde fazer? Sabes o que hasde fazer a essa macaca, meu filho?--Não
lhe faças nada: deixa correr o marfim».

      *      *      *      *      *

Isto é o que eu diria a meu filho; v. s.ª, porém, faça o que bem lhe
parecer: eu não aconselho ninguem.

Visinho, se a questão do _Homem-mulher_ não está assim resolvida, sou eu
mais lorpa do que penso, ou a questão é mais infame que o acto que ella
discute.

Seja como fôr, _Pax Domini sit temper tecum_, e boas noites.


S. C. 10 de setembro, Anno da Graça 1872.


(_Á sombra . . . dos 240 réis._)



240 REIS


    [1] EVE, _contre Monsieur Dumas, Fils_. Pag. 47.

    [2] LA FEMME-HOMME, _Réponse d'une femme a M. Alex. Dumas Fils_,
        pag. 40.

    [3] L'HOMME, _Reponse a M. Alex. Dumas Fils_. Pag. 31.

    [4] _Id._, pag. 32

    [5] _Pag._ 43 e 44.

    [6] _De l'Allemagne, Des Femmes_, Pag. 27. ediç. de 1864.

    [7] _Marie Desraimes, ÉVE, contre M. Alex. Dumas Fils_, pag. 49 e 50.

    [8] _Lusiad, cant. 6.º est. 44._

    [9] _L'homme et la femme. Lettre a Mr. Alex. Dumas par E. Girardin._






End of Project Gutenberg's A espada de Alexandre, by Camilo Castelo Branco

*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A ESPADA DE ALEXANDRE ***

***** This file should be named 32003-8.txt or 32003-8.zip *****
This and all associated files of various formats will be found in:
        https://www.gutenberg.org/3/2/0/0/32003/

Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)


Updated editions will replace the previous one--the old editions
will be renamed.

Creating the works from public domain print editions means that no
one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
(and you!) can copy and distribute it in the United States without
permission and without paying copyright royalties.  Special rules,
set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark.  Project
Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
charge for the eBooks, unless you receive specific permission.  If you
do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
rules is very easy.  You may use this eBook for nearly any purpose
such as creation of derivative works, reports, performances and
research.  They may be modified and printed and given away--you may do
practically ANYTHING with public domain eBooks.  Redistribution is
subject to the trademark license, especially commercial
redistribution.



*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License (available with this file or online at
https://gutenberg.org/license).


Section 1.  General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works

1.A.  By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement.  If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.

1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder.  Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.

1.E.4.  Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

1.E.5.  Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form.  However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form.  Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8.  You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that

- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
     address specified in Section 4, "Information about donations to
     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
     you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
     does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
     License.  You must require such a user to return or
     destroy all copies of the works possessed in a physical medium
     and discontinue all use of and all access to other copies of
     Project Gutenberg-tm works.

- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH F3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund.  If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Its 501(c)(3) letter is posted at
https://pglaf.org/fundraising.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
[email protected].  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at https://pglaf.org

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     [email protected]


Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit https://pglaf.org

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including including checks, online payments and credit card
donations.  To donate, please visit: https://pglaf.org/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.


Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.


Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

     https://www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.