O Oraculo do Passado, do presente e do Futuro (7/7)

By Bento Serrano

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Futuro (7/7), by Bento Serrano

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Title: O Oraculo do Passado, do presente e do Futuro (7/7)
       Parte Setima: O oraculo dos Astros

Author: Bento Serrano

Release Date: March 23, 2010 [EBook #31742]

Language: Portuguese


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O ORACULO

DO

PASSADO, DO PRESENTE E DO FUTURO

OU O

Verdadeiro modo de aprender no passado
a prevenir o presente, e a adivinhar o futuro

POR

BENTO SERRANO

ASTROLOGO DA SERRA DA ESTRELLA,

_Onde reside ha perto de trinta annos, sendo a sua habitação uma estreita
gruta que lhe serve de gabinete dos seus assiduos estudos astronomicos_


OBRA DIVIDIDA EM SETE PARTES, CONTENDO CADA UMA O SEGUINTE:

    Parte primeira--O ORACULO DA NOITE
    Parte Segunda--O ORACULO DAS SALAS
    Parte Terceira--O ORACULO DOS SEGREDOS
    Parte Quarta--O ORACULO DAS FLORES
    Parte Quinta--O ORACULO DAS SINAS
    Parte Sexta--O ORACULO DA MAGICA
    Parte Setima--O ORACULO DOS ASTROS


PORTO
LIVRARIA PORTUGUEZA--EDITORA
55, Largo dos Loyos, 56
1883




PARTE SETIMA


O ORACULO DOS ASTROS

OU

A verdadeira arte de conhecer os segredos dos Astros pela regular
rotação, e pelos signaes que se observam de noite e dia durante as
quatro estações do anno




PORTO
LIVRARIA PORTUGUEZA--EDITORA
55, Largo dos Loyos, 56
1883



Porto: 1883--Imprensa Commercial--Lavadouros, 16.




O ORACULO DOS ASTROS


ASTRONOMIA POPULAR

_A astronomia na antiguidade._--É antiquissima esta sciencia e parece
que aos pastores do Himalaya se devem as primeiras observações
astronomicas, unicamente fundadas nos movimentos apparentes dos corpos
celestes, e nos phenomenos que mais impressionavam a imaginação do
homem, taes como a passagem dos planetas atravez das constellações, as
estrellas cadentes, os cometas, os eclipses, etc. Como não podia deixar
de ser, todas as theorias de então, fundadas em apparencias falsas, eram
falsas tambem, tendo sido modificadas e corrigidas gradualmente, segundo
o exigia o caminhar progressivo das outras sciencias. A primeira
hypothese consistia em imaginar a Terra rodeada de agua por todos os
lados, hypothese que ainda existia no tempo de Homero, pois que então
acreditava-se que o Sol _se apagava_ ao mergulhar no Oceano,
reaccendendo-se no dia seguinte depois de demorado banho. Os astronomos
gregos, ha dois mil annos, julgavam que as estrellas eram chammas
alimentadas pelas exhalações da Terra!

Todavia, quando se observou que o Sol, a Lua, as estrellas e os
planetas, se escondiam todos os dias no horizonte, surgindo no immediato
do lado opposto, força foi admittir que passavam sob a Terra,--e d'aqui
uma revolução immensa, completa, na maneira de considerar o nosso
planeta, que até então o homem tinha como solidamente assente debaixo
dos pés, prolongando-se até ao infinito. Para explicar aquella passagem,
inventaram-se hypotheses sobre hypotheses, qual d'ellas mais
extraordinaria, qual d'ellas mais absurda. Um deu á Terra a forma de
meza circular sustentada por doze columnas, outro a de uma cupula
descançando em cima de quatro gigantescos elephantes de bronze, etc.,
etc.; mas nada d'isto satisfazia o espirito. Columnas e elephantes, a
seu turno, sobre que é que descançavam? Sendo impossivel responder
satisfactoriamente a tal pergunta, aquellas theorias foram completamente
abandonadas, admittindo-se por fim que a Terra se mantinha livre no
espaço. Era um passo para o descobrimento da verdade, mas o erro
subsistia ainda. Segundo a nova doutrina, o nosso planeta
conservar-se-ia quieto no espaço, occupando o centro de todos os corpos
celestes, que giravam em torno d'elle. Isto, que só tinha de bom
explicar a rotação das estrellas chamadas fixas, deixava sem explicação
os movimentos dos planetas por entre as constellações, e foi alterado,
ou antes substituido, pelo systema de Ptolomeu, o qual consistia em
imaginar o universo composto de globos uns dentro dos outros. O
exterior era o Empyreo, isto é, o logar para onde iam as almas dos
bemaventurados. Ao immediato estavam presas as estrellas fixas, e a cada
um dos sete seguintes, os sete planetas então conhecidos, no numero dos
quaes entravam (erradamente, como veremos mais adeante) o Sol e a Lua.
No centro d'esta machina complicadissima, a Terra! Tão prodigioso
edificio era construido do mais fino crystal, para que o brilho dos
corpos celestes podesse chegar até cá. O espirito humano, uma vez no
caminho do absurdo e do maravilhoso, não pára facilmente. Assim, houve
quem asseverasse com a maior seriedade que os aerolithos eram pedaços de
algumas das espheras, que, de velhas, cahiam sobre a Terra; que o
movimento dos planetas era mais vagaroso quando se achavam mais
distantes do Sol, porque não _viam_ tão bem o caminho! etc. etc.

Á medida, porém, que as observações astronomicas se tornaram mais
frequentes, e que as outras sciencias se foram aperfeiçoando, fornecendo
novos meios de comparação, o systema de Ptolomeu era a cada passo
alterado, para dar a explicação de um novo phenomeno descoberto; e por
fim tornou-se de tal fórma complicado, que já nem os proprios astronomos
se entendiam com elle, o que não o impediu de encontrar defensores
exaltados e de ser conservado muito tempo nas escolas superiores.


_Systema de Copernico._--Foi nos seculos XV e XVI que se estabeleceram
as verdadeiras bases da astronomia. O espirito humano começou então a
libertar-se das falsas theorias a que um fanatismo barbaro o trazia
acorrentado, succedendo-se uns após outros os mais bellos
emprehendimentos e as empresas mais arrojadas. Copernico lança então
corajosamente por terra as falsas doutrinas de Ptolomeu e apresenta aos
olhos maravilhados do homem, tal qual é, o principio fundamental da
astronomia; quasi ao mesmo tempo o nosso compatriota Fernão de
Magalhães, effectuando a primeira viagem de circum-navegação, prova
praticamente, aos que ainda duvidavam, a espheroicidade do planeta que
habitamos.

Uma vez conhecida a verdadeira posição da Terra em relação aos outros
planetas e ao Sol, as descobertas succederam-se umas após outras. A
Copernico demonstrando que todos os planetas se moviam em torno do Sol,
seguiu-se Képler descobrindo as tres leis que regem os movimentos dos
corpos celestes,--Galileu inventando o telescopio,--Halley calculando a
volta de um cometa e Newton descobrindo a força que mantem em equilibrio
todos os astros.

Actualmente a sciencia póde vangloriar-se de conhecer não só a posição
de cada um dos corpos que constitue o systema solar, mas de saber qual a
distancia de uns aos outros, quaes os seus volumes, e até o peso de cada
um.

A relação das distancias de uns aos outros planetas está feita na razão
de 1 millimetro para 10 milhões de leguas. Não ha, porém, proporção
alguma no que respeita ás suas dimensões; se quizessemos conservar á
Terra o tamanho, aliás pequenissimo, que alli tem, haveriamos de
representar o Sol por uma esphera do tamanho approximado de uma pequena
laranja e de distanciar proporcionalmente os planetas uns dos outros.

O caminho percorrido por cada astro, isto é, a sua orbita, acha-se
indicado por traços e os planetas e satellites por pequenos pontos.

Partindo do Sol, vemos que o primeiro planeta que lhe gira em torno é
Mercurio, em seguida Venus e depois a Terra. Em volta do nosso planeta,
acompanhando-o fielmente, gira um outro globo ou satellite, a Lua.
Segue-se depois Marte com dois satellites. Estes quatro primeiros
planetas, Mercurio, Venus, Terra e Marte, são chamados por alguns
astronomos planetas medios em razão do seu tamanho. Segue-se depois uma
infinidade de planetas de pequenas dimensões, cuja orbita media se acha
tambem alli indicada. São os pequenos planetas que, segundo a hypothese
mais geralmente acceita, constituem os despojos de um grande planeta que
uma causa desconhecida haja despedaçado. Contam-se actualmente cerca de
220 d'estes astros, mas é provavel que o seu numero seja muito maior.
Aos pequenos planetas seguem-se os grandes:--primeiramente Jupiter tendo
em torno quatro satellites; depois Saturno com oito satellites; Urano
com quatro, e finalmente Neptuno com um só. Além dos planetas, que giram
quasi circularmente em torno do Sol, no mesmo sentido e em planos não
muito differente uns dos outros, e dos salellites que acompanham os
planetas,--outros corpos, cuja quantidade é impossivel calcular,
caminham tambem em volta do Sol seguindo orbitas muito alongadas e
movendo-se em todos os sentidos e em planos variadissimos: são os cometas.

Independentemente dos planetas, satelliles e cometas, o systema solar é
povoado ainda por myriades de outros corpos muito mais pequenos e que
viajam em diversas regiões do céu, umas vezes isolados, outras aos
enxames, voltando periodicamente ao mesmo ponto, e dos quaes só temos
conhecimento quando por acaso atravessam a atmosphera terrestre, ao
contacto da qual se tornam incandescentes, ou quando mesmo são
attrahidos pelo nosso planeta, onde caem. São as estrellas cadentes, os
aerolithos, etc.

Finalmente um immenso annel luminoso, composto provavelmente de milhões
de milhões d'estes pequenos corpos illuminados pelo Sol, rodeia este
astro, extendendo-se muito além da orbita da Terra. Vê-se n'algumas
epochas do anno elevar-se acima do horisonte, ao pôr ou ao nascer do
Sol. É a luz zodiacal.

Reunindo, temos o systema solar composto de:--1.º um corpo central,
muito maior que todos os outros, e relativamente immovel, o Sol;--2.º
diversos corpos girando todos no mesmo sentido, e quasi circularmente em
torno d'aquelle astro (são os planetas);--3.º varios corpos mais
pequenos caminhando em volta de alguns planetas (os satellites);--4.º os
cometas, que teem orbita muito alongada, e caminham em todas as
direcções;--5.º as estrellas cadentes, aerolithos, etc., myriades de
pequenas aggregações percorrendo todos os pontos do espaço;--6.º a luz
zodiacal (reunião em volta do Sol de pequenos corpos, illuminados por
elle).




I

Do Creador


Nós não vemos o Creador; mas sentimos, e reconhecemos o seu poder até ao
menor insecto perdido no pó. Tudo nos mostra um Deus Creador, o céo, a
terra, as aguas, o homem, os animaes, as plantas, e os mineraes; em fim
toda a Natureza. Foi elle quem formou todas as maravilhas, que se
offerecem á nossa vista.

Meus caros meninos, escutai com attenção o seguinte: Se vós achasseis em
uma planicie, uma casa bonita, de uma architectura regular com quartos
dispostos commodamente, e decorados com magnificencia, dirieis logo:
Esta casa foi construida pelos homens; foram elles quem a mobilou e
decorou.

Foi um relojoeiro que fez este relogio, é impossivel que elle se fizesse
a si mesmo, dirieis vós se da mesma maneira visseis um relogio indicando
regularmente os minutos, e as horas. Pois assim, meus meninos, olhando
para o céo, as estrellas, o sol, que brilha com tanto resplendor, e a
terra que está coberta de prodigios, dizei vós da mesma maneira: Estas
cousas não poderam produzir-se a si mesmas, o homem não pôde fazel-as.
Ha pois, um ente todo Poderoso que as creou: este ente é Deus, author de
tudo quanto existe, Deus é um Pae terno e vigilante o qual nos não
abandona, nem um só momento. Envia-nos todos os dias a luz que nos
alumia, e o pão que nos sustenta. E que nos pede elle por tantos
beneficios? Quer que o amemos. Ah! meus caros meninos, quanto seriamos
ingratos, e culpados, se não obedecessemos aos seus desejos, se lhe
fechassemos o nosso coração! É d'elle que nos vem tudo o que temos; e é
a elle, a quem devemos todos os nossos sentimentos, e todo o nosso amor.




II

O Mundo


Declara-se pelo nome de Mundo ou Universo, tudo quanto existe desde o
espaço dos Céos á Terra. Isto é, o sol, as estrellas, a terra, tudo o
que a nossa vista apercebe nas profundidades do ar, da terra e das
aguas, e o que está alem do que podemos alcançar com a vista. Ainda que
a vossa vista é muito fraca e ainda sois mui pequenos, meus meninos,
podeis admirar uma parte d'este immenso espectaculo. O sol, ao meio
d'esses numerosos globos que brilham em todas as abobadas dos céos, é de
todas as obras de Deus aquella, que se apresenta com mais brilhantismo,
e magestade: é um facho, como, eternamente, posto no centro do mundo
para derramar ondas de luz para todos os lados, e a uma distancia que
nos não é permittido determinar: dir-se-hia que é o rei dos astros.
Comecemos pois por elle no artigo seguinte.




III

O Sol


O calor, e a luz que elle derrama no universo, nos fazem vêr que a sua
materia está continuamente inflammada, e que elle é o proprio fogo. O
sol, o qual nos parece tam pequeno por causa da sua extrema distancia, é
(segundo os astronomos) um milhão e quatro centas vezes maior que a
terra. A sua forma é a de um globo.

Todas as manhãs o vêdes apparecer no oriente, elevar-se no céo até o
meio dia, e depois descer, e desapparecer abaixo do horisonte ao
occidente. Talvez vos persuadais que elle faz verdadeiramente esse
movimento e que nasce d'um lado para ir pôr-se ao outro; mas seria um
erro. Não é o sol que se volve á roda da terra, mas a terra que se volve
sobre si mesma. O sol não muda de logar, está sempre no centro do mundo
para alumiar tudo quanto o rodeia. Observaram-se por meio das lunetas
manchas sobre este corpo tam brilhante, e por meio d'estas manchas,
descobriu-se que elle se volvia sobre si mesmo, como se volveria uma
bolla atravessada por um prego.

Estas manchas veem-se em primeiro lugar n'uma extremidade d'este astro;
avançam, vêem-se depois na outra extremidade; e emfim desapparecem para
traz, para tornarem a apparecer, passado algum tempo. Observou-se que
para voltar ao ponto, donde tinha partido, eram-lhe necessarios
vinte e sete dias; e que por consequencia era necessario esse espaço
para que o sol fizesse uma volta sobre o seu eixo. Julga-se que o sol
dista de nós trinta e quatro milhões trezentas e cincoenta e sete mil
quatro centas, e oitenta leguas.




IV

As Estrellas


Distinguem-se estes astros tam numerosos em «estrellas fixas,» porque se
não vêem mudar de lugar, e em «planetas,» ou «estrellas errantes» porque
estas se volvem em mais ou menos tempo á roda do sol. Ha por ventura
cousa magnifica, e que dê uma idêa maior de Deus do que esta multidão de
estrellas que brilham no firmamento durante as trevas da noite?
Vel-as-hiamos em igual numero durante o dia se o resplendor da luz as
não fizesse desapparecer. Presume-se que as estrellas fixas são globos
luminosos similhantes ao sol, os quaes allumiam outros mundos
demasiadamente distantes para que a nossa vista possa percebêl-os. Se
nos parecem mais pequenas do que o astro que nos alumia é porque estão
infinitamente mais distantes de nós. Julgae da sua grandeza, e da sua
immensa distancia pela que está mais proxima da terra, a que chamam
«Sirio». Crê-se que esta estrella fixa está quatro centas vezes mais
distante de nós do que o sol, e que o seu diametro, ou a sua largura, é
de trinta e tres milhões de leguas. Isso porém, meus meninos, é
superior á concepção da vossa idade; porém com as explicações que vossos
paes ou mestres tiverem a complacencia de vos dar, heis de comprehender
alguma cousa.




V

Os Planetas


São (fóra os modernos que mais se tem descoberto ha poucos annos)
_Mercurio_, _Venus_, _Terra_, _Marte_, _Jupiter_, _Herschell_ (ao todo
7). Este ultimo só se conhece desde 1785; e foi descoberto por um sabio
astronomo inglez do mesmo nome o qual tambem conservou.

As estrellas fixas differem dos planetas, por quanto estes (e não
aquellas) se volvem á roda do sol, e não tem luz por si mesmos; pois
aquella, com que elles brilham lhes vem do mesmo sol. Presume-se que
estes immensos globos são, como a terra, mundos habitados.

O planeta mais pequeno é Mercurio, e o mais visinho do sol. Crê-se que é
quinze vezes mais pequeno que a terra. Venus; á qual tambem chamam ora
«estrella da manhã» (ou da «alva»), ora «vespera» (estrella da tarde,)
vem depois, e tem uma nona parte menos que a terra. Volve-se sobre si
mesma em vinte e tres horas, e vinte minutos. A terra a qual nos parece
tam grande, por que nós somos pequenos, não é (como já vos disse) mais
que um planeta, ou uma estrella errante. Se vós habitasseis Venus ou
Mercurio, ve-la-hieis ao meio do céo, como as outras estrellas e não
vos pareceria maior que a ponta de um dedo. Com algum detalhe, n'ella
logo fallaremos. Marte, é muito menos que a terra; elle não tem mais que
tres quintos do seu diametro. Jupiter, é muito maior. Os astronomos
asseguram que tem treze vezes a grossura da terra. Volve-se sobre si
mesmo em nove horas, e cincoenta e seis minutos. Tem em torno de si
quatro luas. Saturno, é quasi mil vezes maior que a terra. Tem tambem
cinco luas ou satellites. Está, alem d'isso, rodeado por um grande annel
de luz que se descobre por meio das lunetas. Dista do sol trezentos e
vinte e sete milhões, e setecentas mil leguas. Herschell está ainda mais
distante. Parece affastado para a extremidade do mundo. São-lhe
necessarios noventa annos, para se volver á roda do sol.




VI

A Terra


A terra é redonda como uma bolla. Os seus vales, e montanhas, os quaes
nos parecem tam consideraveis não são nada relativamente á sua grossura;
podem-se apenas comparar com as desigualdades, que se observa sobre a
casca de uma laranja, as quaes não impedem que este fructo tenha uma
forma redonda. A terra tem nove mil leguas de circumferencia ou
circuito. Já se disse que ella se volve sobre si mesma, como uma bolla
que está atravessada por um prego de ferro. Este movimento, a que chamam
«rotação», occasiona-lhe alternativamente o dia, e a noite, isto é,
a parte que está virada para o sol gosa da luz, em quanto a parte
opposta se acha na escuridão. Ora como a terra faz este movimento sobre
si mesma em vinte e quatro horas, resulta d'ahi que n'esse mesmo espaço
tem o dia e a noite. Quereis vós ter uma ideia bem clara do que vos
digo? Pegai n'uma bolla e volvei-a entre vossos dedos diante d'uma luz:
a bolla será a terra, e a luz o sol. Além d'este movimento quotidiano, a
terra tem outro que se executa no espaço d'um anno: ella faz um circulo
immenso á volta do sol. É este ultimo movimento o que produz as
differentes estações do anno. Porém isto é demasiadamente superior á
concepção da vossa idade; para agora vos dar a sua explicação, devo
todavia fazer-vos uma facil observação sobre um effeito notavel
produzido pelo movimento da terra. Como não é nenhuma das duas
extremidades, sobre que ella se volve que se apresenta ao sol, mas sim o
meio, segue-se que esse meio recebendo em toda a circumferencia os raios
do sol, perpendicularmente, sente una calor consideravel, em quanto as
duas extremidades, as quaes recebem os raios obliquamente (de lado)
ficam em um inverno continuo e estão sempre cobertas de gello. Porém
como a terra inclina um pouco para o sol durante seis mezes uma das suas
extremidades, e durante os outros seis mezes a extremidade opposta,
vê-se que cada uma d'ellas gosa alternativamente de um verão rapido, o
qual não tem tempo para derreter aquelles enormes montões de gello.
Estas duas differentes e successivas inclinações, produzem outro effeito
muito extraordinario: é darem a estas tristes regiões dias e noites de
seis mezes. Chama-se «Equador» a facha do meio, a qual se acha debaixo
do sol; e «pólos» as extremidades sobre as quaes se volve a terra.
Ha um polo do meio dia, e outro do Norte.

N. B.--Advirta-se que em taes objectos é difficultoso fallar á
intelligencia dos meninos; por isso dirigi-vos aos seus olhos; pegai
n'uma bolla, e n'uma luz; e em um quarto d'hora, hade ficar sabendo mais
com essa pequena demonstração, do que com tudo quanto poderieis dizer
n'um mez. Por isso ainda quando a explicação que acabamos de dar, fosse
mil vezes mais clara, e mais extensa, nem por isso deixaria de ser muito
obscura, e muito incompleta para um menino.




VII

A Lua


Ao reparar no sol de dia, não podereis de noite deixar de attender á sua
rival a lua, que onde vêdes esse magnifico astro que de noite nos dá uma
luz tam doce, e que é tam propicio, crêdes sem duvida, que é um rival do
sol, e um globo mil vezes maior que as estrellas? Desenganai-vos mais
esta vez. A lua parece-nos maior que as estrellas somente por que está
mais perto de nós. Ella não dista da terra mais que oitenta e seis mil
trezentas e vinte e quatro leguas; e o seu volume é quasi cinco mezes
menor que o da terra. É mui pequena comparativamente a Saturno e a
Jupiter, os quaes todavia não vos parecem maiores que a luz d'uma vella.
A lua não faz como os outros planetas a sua revolução á roda do sol, mas
sim, á roda da terra. É a esta que se referem os seus movimentos;
acompanha-a na sua revolução annual á roda do sol; e n'esse espaço
volve-se treze vezes em torno da terra. Em cada um d'estes circulos
gasta vinte e sete dias sete horas e quarenta e tres minutos.

Ella não tem luz alguma por si mesma, posto que com tudo vos pareça mui
resplandecente de noite. Ella recebe o seu brilhantismo do sol; e por
isso nunca vemos mais que a sua parte alumiada segundo estas differentes
posições, parece-nos uma vez meia lua, um quarto etc. A parte que não
podemos vêr se acha na escuridão. Como ella esclarece a terra com a luz
que recebe, da mesma sorte a terra lhe envia a luz que lhe vem do sol,
porém em muito maior quantidade vista sua grandeza. Ora, nas luas novas,
o lado da terra alumiado está inteiramente virado para a lua, e por
consequencia alumia a sua parte obscura: os habitantes da lua (se ella
os tem) gosam então da terra cheia, como nós em uma posição similhante a
esta gosamos da lua cheia. Não é preciso que eu vos diga que a lua é
redonda; já vol-o disseram os vossos olhos. Notae porém que não é
redonda plana, mas redonda espherica, ou como uma bolla.




VIII

Eclipses da Lua e do Sol


Eclipse quer dizer privação da lua por meio d'um corpo intermedio. Ha
circunstancias em que a terra priva a lua da luz do sol (a que
chamamos «eclipse da lua»,) e em que a lua priva a terra da mesma luz
solar, (a que chamamos «eclipse do sol»). O eclipse da lua (em que ella
se eclipsa e desapparece aos nossos olhos) é causado pois pela passagem
do corpo da terra directamente entre o sol e a lua. A terra intercepta
então os raios do sol, e a lua fica algum tempo na sombra da terra
privada da luz. O eclipse do sol (em que elle se eclipsa e desapparece
aos nossos olhos) é da mesma sorte causado pela passagem do corpo da lua
directamente entre o sol e a terra. A lua tira-nos então os raios do
sol, e a terra fica algum tempo na sombra da lua, privada da luz.

Quando a lua está eclipsada, está-o geralmente para todos os povos, que
a podem ver, por que não tem luz por si mesma; porém não acontece o
mesmo a respeito do sol; a lua só o pode occultar a certos povos, onde
chega a sua sombra, e durante este tempo os outros gozam da sua luz, sem
perceberem mudança alguma.




IV

Os Elementos


Damos a antiga divisão dos elementos, como se fez até ás ultimas
descobertas de chimica, pois é o unico meio de fazer comprehendel-os á
infancia. Elemento, quer dizer constitutivo (ou reunião de forças,
qualidades, ou objectos) que formam qualquer cousa ou parte de um todo
(animado, inanimado, ou intellectual) os elementos, ou simplices, ou
compostos, em geral reduzem-se a quatro principaes elementos todas as
cousas, de tudo quanto existe com corpo; estes elementos são--«o fogo, o
ar, a terra, e a agua.» O primeiro d'estes é unicamente simplicissimo:
os outros tres restantes são compostos d'outros simplicissimos
elementos; razão porque os chimicos reduzindo todo o numero dos
elementos, á sua simplicidade, admittem muito maior numero d'elementos
(ou elementos simplices.)




X

O Fogo


Meus caros meninos, vós não conheceis outro fogo, que aquelle que
resplandece no fogão, ou na lareira; porém o fogo, ainda que invisivel,
está derramado por toda a natureza. Feri dois seixos e do seu choque
resultará uma faisca; esfregai com força dois bocados de páo,
aquentar-se-hão, e acabarão por allumiar-se; pondo ao sol uma lente,
esta reunindo, e apertando os raios, dar-vos-ha fogo; a mesma luz é fogo
(posto que tenuissimo.) O fogo é necessario á vida de tudo quanto existe
corporeo; e o seu primeiro manancial parece vir do sol. Como o calor é
sempre fraco no inverno tudo languece, tudo parece morto, e as aguas não
podem correr: ellas tornam-se gelo; felizmente a primavera torna a
animar tudo com um novo calor. Se pois o fogo não se fizesse mais sentir
tudo pereceria, gelar-se-hia tudo.




XI

O Ar


O ar é tam necessario á nossa existencia que se nos achassemos privados
d'elle, morreriamos immediatamente. O ar é este fluido invisivel que
respiramos, continuamente, e que sentimos á roda de nós. Quando é
impellido com força, constitue o «vento». Está derramado em torno do
globo da terra, até uma certa altura, e forma o que chamamos
«atmosphera,» isto é, este espaço onde andam as nuvens.




XII

A Agua


Todos os paizes, onde não se acha a agua, são estereis, desertos, e não
apresentam mais que tristes planicies de areia. Levada pelo seu proprio
pezo desce sempre, até ser retida nos abismos do mar. De ordinario é nos
montes que se acham as nascentes dos rios. A agua cobre uma parte da
terra, e circula por todos os lados. Vemol-a sahir debaixo da terra,
formar ribeiras, e rios, e encher o immenso lago dos mares. Ella
humecta as terras, alimenta os vegetaes, anima as paisagens e exaltera
os homens, e os animaes.




XIII

As Nuvens


Uma nuvem é absolutamente similhante aos nevoeiros, que se formam á
noite sobre as margens das ribeiras, e nos sitios pantanosos; o que a
distingue é ter-se formado no ar, e ser impellida pelos ventos até ao
momento em que torna a cahir em chuva sobre a Terra. A agua não corre
sómente sobre a Terra; tambem se alevanta aos ares, e se sustem alli
debaixo da forma das nuvens. O calor do sol faz subir a agua para o céo
em vapores invisiveis. Os rios, os lagos, e os mares fornecem
continuamente (e mais no verão do que no inverno) esses vapores, os
quaes vão reunir-se nos ares em forma de nuvens. Pondo ao sol um panno
molhado, a humidade desapparecerá, e o panno seccará, collocae uma bacia
cheia de agua ao ar, a agua desapparecerá insensivelmente, e não ficará
nem uma só gotta. Que foi feito d'essa agua? Reduziu-se pelo calor em
vapores, e estes elevaram-se até ás nuvens, que vêdes passar sobre
vossas cabeças.

Quereis ver uma prova mais clara? Examinae a agua, que ferve sobre o
fogo; sahe d'ella um fumo espesso, e o vaso diminue cada vez mais.
Porque rasão diminue esse vaso? É porque a agua se vai em fumo, ou (para
melhor dizer) em vapores. Ponde por um instante a vossa mão sobre
esse fumo, e tiral-a-heis toda molhada. As nuvens não andam muito alto:
os cumes de differentes montanhas são-lhes sobranceiros. Quando se está
sobre essas montanhas, vê-se por baixo as nuvens esclarecidas pelo sol,
o qual as faz parecer brancas, como um montão confuso de algodão. Quando
se passa pelo meio d'ellas, crê-se que se atravessa um nevoeiro, mais ou
menos espesso.




XIV

A Chuva


Já sabeis como se formam as nuvens; sabeis que se compõem de pequenas
partes d'agua, tão leves, que se tomariam como um pouco de pó: o ar
sustem-as em quanto estão n'este estado. Mas quando estas partes se
approximam, e as unem, tornam-se em gotas, as quaes, sendo mais pesadas
que o ar, que as sustem, começam a cahir, e eis ahi a chuva. Esta chuva
rega os campos, penetra nas terras, e alimenta as nascentes; estas vão
para os rios, e estes para o mar; o sol faz outra vez subir estas aguas
ao ar, donde são restituidas á terra; de sorte que estão continuamente
em movimento, e viajam em todas as partes do mundo, umas vezes
impellidas pelos ventos, e outras vezes arrastadas pelo declive dos
terrenos.




XV

A Neve e a Saraiva


Deve-se advertir que existe a neve, e se forma quando os vapores humidos
que cahem d'uma nuvem se trasformam na sua queda, pelo gelo que os
penetra, em longos filamentos, os quaes constituem flocos
differentemente arranjados. Se estes vapores tiveram tempo para formar
gotas, que o frio condensa immediatamente, cahe, em logar de neve,
saraiva. Esta saraiva tem, de ordinario, a forma, e a grossura das gotas
da chuva; comtudo algumas cahem como grossos pedaços de gelo; mas
pode-se observar, que esses pedaços, são, n'este caso, compostos de
muitos grãos, que se reuniram na sua queda.




XVI

O Mar


Chamamos com este nome de «Mar» todas essas immensas qualidades de agua,
que cobrem uma grande parte da Terra. Os homens chegaram a ultrapassar
(pela sua industria) esses abismos que pareciam abertos para os reter,
construiram navios, e viajaram sobre as ondas, que podiam tragal-os,
com mais commodidade, e mesmo com mais segurança do que sobre as terras.
Não é doce, e boa para beber a agua do mar, como a das nascentes, e
rios; ao contrario é acre, amarga e tão salgada, que excita nauseas
violentas. É d'esta agua que se tira o sal, de que se usa na cosinha.
Para isso faz-se entrar a agua do mar em grandes tanques, que tem
sómente algumas polegadas de profundidade; o sol faz evaporar a agua, e
o sal fica em secco no fundo do tanque.




XVII

O Homem


Das creaturas mais perfeitas que Deus creou, é o Homem; ainda que vive
como todos os animaes, e está sujeito ás mesmas necessidades é-lhes
comtudo tão superior, que não se deve estabelecer comparação alguma
entre elles e o homem. Elle é o chefe de tudo quanto abaixo de Deus,
recebeu a existencia, e o dominador da Terra. E donde lhe vem a sua
superioridade? Da alma; d'esta intelligencia celeste que Deus lhe deu.
Os animaes pensam sómente em satisfazerem as suas necessidades; o homem
é o unico que reflecte, e sabe elevar-se ao conhecimento da Divindade.
Por isso chama-se Razão o sentimento, que dirige as suas acções; e dá-se
somente o nome de «Instincto» ao que faz obrar os animaes; posto que
esse instincto em varias cousas se torna superior ás nosas forças, e
razão, com o proprio influxo e direcção das sabias determinações que
ora coarctam ora dirigem as acções dos animaes. Porém se o homem recebeu
uma prerogativa tão bella, é para se conduzir livremente com mais
sabedoria; quando abusa dos seus meios, quando obra mal, sabe-o,
torna-se culpado para Deus, o qual lhe deu luzes geraes para o
esclarecer no caminho da vida.

Os deveres dos homens para com Deus estão consignados na verdadeira
Religião Natural ou Universal, a qual se tem dividido em tres idades
«Religião Ante-Moysaica, Religião Moysaica» (ou escripta) «Religião e
Christã» (ou Revelada). Em todas estas tres idades a Religião Natural é
sempre a mesma: representando na 1.ª idade o verdadeiro culto á
Divindade na esperança do Salvador; na 2.ª a confirmação, e mais
magestosa ractificação d'esse culto; e na 3.ª o complemento final d'esse
culto na pessoa do mesmo verdadeiro e esperado Messias, Nosso Senhor
Jesus Christo. Os deveres da Religião em todas as suas idades basea-se
em tres principaes deveres para com Deus, directa ou indirectamente.
Deveres «directos» (para com Deus), «e indirectos» (para comnosco, ou
nossos similhantes). Estes deveres são obrigatorios, ou prohibitivos,
aos quaes se oppoem o crime de commissão para com os primeiros, ou de
omissão para com os segundos. Em estes deveres se contam a celebração do
Sacerdocio, e mais sacramentos da Igreja, e seus deveres; os mandamentos
do Decalogo e da Igreja.

A vida do homem divide-se em quatro epocas; a saber:--«A Infancia» até
os 15 annos; «A Juventude» até os 35; «A Virilidade» (ou idade viril)
até os 55; e «A Velhice» d'ahi por diante até o muito 100 annos.




XVIII

Homens de differentes cores


Os homens variam de cor conforme os climas, ou regiões, e terras que
diversamente habitam; por isso não são os homens todos brancos, como os
vemos na Europa. Nos paizes quentes são trigueiros, e mesmo pretos. É
principalmente em Africa que se acham povos inteiros, e numerosos, cuja
pelle é tam preta como o carvão; chamamo-lhes «negros.» Os «Hotentotes,»
os quaes habitam tambem esta parte do mundo, tem uma cor bronzeada. As
differentes cores americanas são as de cobre, e laranja. Os homens de
maior estatura são os «Patagoens,» os quaes habitam a extremidade da
America Meridional: tem commumente seis pés, a seis e meio. Os
«Laponios» são ao contrario os mais pequenos: não tem ordinariamente
mais de quatro pés e meio, é esta a sua estatura ordinaria: porém são
fortes e robustos. Habitam um paiz frio, e coberto quasi sempre de neve
na extremidade septentrional da Europa.




XIX

Os Mineraes


Dá-se o nome de _mineraes_ ás substancias que se tiram das minas,
isto é, das excavacões que se fazem no seio da Terra. Entre estas
substancias é necessario observar os metaes, que nos são de grandissima
utilidade. Estes metaes são o _ferro, cobre, estanho, chumbo, ouro, e
prata_. O homem não só tornou em vantagem sua tudo quanto a Terra produz
na superficie; mas até o que ella tem occulto nas suas entranhas.




XX

O Ferro


O homem não tem necessidade senão de purificar o ouro, e a prata; e
é-lhe necessario, para assim dizer, crear o ferro. Este metal, tal qual
a natureza nol-o dá, é mui differente d'aquelle de que as artes usam.
Esta arte sobe á mais remota antiguidade, e pode-se crêr que o ente
creador de todas as cousas o qual o faz nascer com tanta profusão por
toda a terra, suggeriu elle mesmo ao homem os meios de o adoptar ás suas
necessidades, e de o fazer gozar de todas as vantagens, que elle
occulta; pois que este metal tão util apresenta-se debaixo de mil formas
diversas na natureza; e o que vós nunca pensaveis, acha-se quasi em toda
a parte; acham-se partes d'elle na combustão de muitos vegetaes, e
pertende-se mesmo que o sangue que circula nas nossas veias, lhe deve
este vermelho, que o cora. É por meio do fogo que se separa o ferro da
terra com que está misturado; e é igualmente por meio do fogo que se
trabalha, e que se fazem com elle vasos, alavancas, pregos, e mil outros
instrumentos, que nos são de grande utilidade; sem o ferro nunca
existiria um numero infinito d'objectos que augmentam as commodidades da
vida.

O ouro, que nós procuramos com tanta avidez, é muito menos precioso, que
este metal, que nos parece tão grosseiro. O aço é um ferro refinado.




XXI

O Cobre


De todos os metaes imperfeitos é o cobre o que mais se aproxima do ouro,
e da prata; se o não tivessemos, haveria um grande vacuo nas producções
as mais interessantes das artes. Porém as suas vantagens são bem
compensadas pelas suas qualidades malfazejas: exposto ao ar, ou á
humanidade, e muitas vezes por si mesmo, cobre-se d'esta ferrugem
conhecida pelo nome de _Verdete_, a qual muitas vezes converte nos vasos
da cosinha em um veneno extremamente perigoso os alimentos que contem. A
estanhadura pallía o perigo, porem não o annulla inteiramente. O mais
prudente é não usar d'este metal sem muito resguardo, e limpeza. O cobre
derretido e purificado, chama-se _Cobre vermelho_. Ligando-o com o zinco
que é outra substancia mineral, obtem-se o _Cobre amarello_, ou o
_Latão_; misturando-lhe uma certa qualidade d'estanho produz-se o
_Bronze_, ou o _Arame_.




XXII

O Estanho


Emprega-se o estanho de mil maneiras: fazem-se com elle pratos,
colheres, e vasos, usa-se d'elle misturando-o com o chumbo para a
estanhadura; applica-se por traz dos espelhos para lhes dar este
brilhantismo, que lhe faz reflectir as imagens de todos os objectos.




XXIII

O Chumbo


As minas de chumbo são como as de ferro as mais communs em a Natureza.
Elle é o menos precioso dos metaes. Como é molle e facil a derreter,
fazem-se com elle os canos para conduzir as aguas, e outras obras
semelhantes a esta; fazem-se tambem com elle as ballas de espingarda.




XXIV

A Prata


As principaes minas da prata em França são as de Santa Maria nos Vosges;
as de Baigóry nos Altos Pyreneus; e as de Chalanches perto de Allemont
no Delphinado. As minas da Noruega são as mais importantes; porem as
mais ricas do mundo são as que se acham no cume das cordilheiras; a
Natureza derramou ahi este metal com uma verdadeira profusão; quasi
todos os paizes da terra possuem minas d'este precioso metal, porem
observa-se que quanto as minas de ouro abundam nos paizes quentes, tanto
a prata parece amar as regiões frias.




XXV

O Ouro


Não porque nos seja o mais util, mas porque o fizemos, como a prata,
representativa de tudo quanto se pode comparar, eis aqui em fim o metal
que nós estimamos mais. Com tudo é o ouro o mais perfeito, por si mesmo
dos metaes, é o mais pezado, o mais denso, e o mais ductil. Podem-se-lhe
dar todas as formas, pode-se applicar, e extender em folha sobre
superficies, cuja grandeza comparada á pouca materia de que se usou,
admira a imaginação. O fogo, menos que não seja excessivamente violento,
não produz sobre elle impressão alguma. As minas mais abundantes de ouro
são as do Mexico, e Peru, ultimamente as da California na America; bem
como tambem na Austria, Siberia; e acha-se tambem na area de algum rio
em forma de palhetas.




XXVI

Das cinco partes do Mundo


A terra a qual já dissemos que era redonda divide-se em cinco partes, a
saber: _Europa_, _Asia_, _Africa_, _America_, e novamente descoberta a
Oceánia. A parte do mundo que nós habitamos é a Europa; é a menos
extensa mas a mais povoada, é aquella onde as sciencias e artes são
mais cultivadas. Os seus povos são brancos. A parte meridional é
temperada, e a do norte é fria. A Asia é tres vezes maior que a Europa;
mas não tem povoações proporcionaes. Os seus paizes meridionaes sentem
calores muito grandes, os do norte estão cobertos pelo gelo do inverno
nos tres quartos do anno. Esta parte do mundo é a mais rica em
producções naturaes, pedras preciosas, perolas, especiarias, aromas, e
animaes. A Africa cortada ao meio pelo Equador, isto é, achando-se
directamente debaixo dos raios do sol offerece os climas mais quentes, e
por consequencia mui desertos. Veem-se ahi espaços immensos sem arvores,
e sem verdura onde cobre a terra uma areia secca. É n'ella onde se acham
os homens mais pretos, e os animaes mais ferozes. A America é a
parte maior do mundo. A Asia, a Africa, e a Europa não a conheceram
durante muito tempo; os povos antigos nem ao menos suspeitaram a sua
existencia. Foi somente no curso do decimo quinto seculo, isto é ha
pouco mais de trezentos annos, que Christovão Colombo teve a gloria de
fazer conhecer esta metade do mundo á outra. A America produz uma
quantidade infinita de metaes, e mineraes; o oiro que os europeos tem
tirado d'ella é incalculavel. Ha alli alguns paizes mui povoados, mas ha
outros onde se acha mui pouca povoação. É n'esta parte do mundo que
existem os maiores rios da terra; o maior de todos é o dos Amazonas, o
qual tem mil leguas de curso.




XXVII

Divisão do Tempo


Os homens sentiram a necessidade de estabelecer as divisões do tempo
para regular os seus trabalhos, recordar os acontecimentos, e combinar,
e designar os dias futuros. A propria natureza indica essas divisões. Já
vos disse que a terra se volve sobre si mesma no espaço de vinte e
quatro horas, e que é esse movimento quem nos dá alternativamente o dia,
e a noite. Essas 24 horas fazem o que se chama um dia. Este achou-se
naturalmente dividido em quatro partes: _a manhã, o meio dia, a tarde e
a meia noite_. Inventaram-se outras divisões, para maior commodidade:
são as _horas_. Contam-se 24 n'um dia, isto é, durante o tempo da luz, e
das trevas; porém estas 24 horas estão divididas em duas vezes doze:
eis de têl-o visto em todos os mostradores, os quaes não tem mais que
esse numero de horas. A hora foi subdividida em 60 minutos, e o minuto
em 60 segundos, etc.

As 4 estações são: a _Primavera_, em que nascem a verdura e as flores; o
_Estio_, em que se amadurecem os fructos da terra; o _Outono_, em que se
fazem as colheitas; e o _Inverno_ tempo em o qual a terra em repouso
toma novas forças soffrendo a intemperie dos ares (pelos ventos, frios,
neves, gelos, e tempestades). Dividem-se estas estações mais
simplesmente em duas partes, a saber: _Verão e Inverno_, cada uma com
seis mezes; contando o verão desde o meio da primavera, todo o estio, e
primeira parte do Outono (isto é, meio de Maio, a meio de Novembro,) e
contando o inverno desde o meio de Novembro e todo e inverno
propriamente dito, até meio de Maio.

Além d'esta divisão natural divide-se o anno em doze mezes. O mez é um
espaço de 30 a 31 dias (pouco mais ou menos;) o que se ve n'estes versos:

    Trinta dias tem Novembro;
    Abril, Junho e Setembro;
    Vinte e oito, ou nove, um
    e os demais trinta e um.

Elles são, pois _Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho,
Agosto, Setembro, Outubro, Novembro, e Dezembro_.

O inverno começa a vinte e tantos de Dezembro, acabando a vinte e tantos
de Março. A primavera a vinte e tantos de Março a vinte tantos de Junho.
O Estio a vinte e tantos de Junho a vinte e tantos de Setembro. O
outono a vinte e tantos de Setembro até vinte, e tantos de Dezembro.

Os mezes tambem se dividem em 4 semanas; as quaes não o completam porque
dão somente 28 dias, e os mezes tem 30 a 31; excepto fevereiro _o_ qual
tem 28, e nos annos bissextos, isto é, de 4 em 4, 29.

A semana contém 7 dias que são: _Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta,
Sabbado, e Domingo_. Os Christãos começam a sua semana pela segunda
feira, e o domingo é o setimo dia de repouso. Os Judeus tomam o Sabbado
por seu setimo dia de repouso, contando o domingo como seu primeiro dia
da semana. Os mahometanos tomam o seu primeiro dia no sabbado e o seu
ultimo e setimo na sexta.

Temos dois equinoxios, e 2 solsticios: Os primeiros em que as noites são
iguaes aos dias em doze horas: os segundos em que os dias e as noites
entre si são ora maiores ora menores.

De 21 a 22 de Março é o _equinoxio da primavera_.

De 23 a 24 de Setembro o _equinoxio do Outono_.

De 23 a 24 de Junho é o _solsticio do estio_, em que os dias são maiores
do anno (isto é, perto das 3 até ás 9 da noite). De 20 a 23 de Dezembro
é o _solsticio de inverno_, em que as noites são as maiores do anno
(isto é, desde perto das 5 da tarde até perto das 7 da manhã).

Entende-se por um _seculo_ o espaço de cem annos.

Por lustre o espaço de 5. Por olympiada o espaço de 4.

O nome, a epocha d'este ultimo, vem das festas que os gregos celebravam
cada 4 annos junto d'Olympia na Grecia.




XXVIII

Principaes povos e cidades da Asia


A Asia tem mil e setecentas leguas de comprido, e mil e quinhentas de
largo. Seus principaes estados são: Turquia Asiatica, Arabia, Persia,
India, Tartaria (chineza, independente, e russiana, na maior extensão e
pouco povoada,) a China, e o Japão.

A Turquia Asiatica, é consideravel; e tem a _Persia_ ao oriente; o
Mediterraneo, e o Archipelago ao occidente; ao meio dia a _Arabia_, e ao
norte o _Mar-negro e Persia_. Tem magnificos fragmentos do seu antigo
esplendor.

A Arabia é a maior peninsula do mundo, de norte a sul com quinhentas
leguas, e de oriente a occidente quatrocentas, _Meca e Medina_ suas
principaes cidades.

O grande imperio da Persia, cuja capital é _Ispahan_. A India, cujos
principaes estados são o _Indostão, Visapor, Golonda, Bisnagar, Ava,
Pegu, Aracão, Sião, Camboje, Tunquim, Cochinchina._

O mais bello poderoso e antigo imperio da China, com quinhentas leguas
d'oriente a occidente; e tresentas e cincoenta de norte a sul. Tem como
immensa povoação as principaes cidades de _Pekin e Nankin_.




PROPHECIA


De um Lavrador velho e cego, da freguezia da Maia, a qual foi achada
debaixo do travesseiro, depois do seu fallecimento.


    Cessem todos os estrondos
    Para em bella harmonia
    Ouçam todos mais attentos
    Esta real prophecia.

    De um authentico Soberano
    Distincto e inspirado
    Que alem de ser Monarcha
    Tambem tem prophetisado.

    Cujo Soberano escreveu
    A qual me mandou lêr
    Do que no futuro anno
    N'este reino se ha de vêr.

    Prophetisou que para o anno
    Tudo o que fôr vegetal,
    Causará terror e espanto
    No reino de Portugal.

    Toda a terra portugueza
    Dará fructo desmarcado
    Como nunca se tem visto
    Desde que o mundo foi creado.

    As nabiças darão grellos
    Tão altos e engrumados,
    Que dê mastros de navios,
    E serrando-os taboados.

    Cada nabo será tal
    Que se o escavar por dentro
    Possa dar casa bastante
    Para córte d'um jumento.

    Taes repolhos vereis creados
    Em todos os repolhaes,
    Que o menor seja bastante
    P'ra pezar vinte quintaes.

    Pois só as folhas de fóra
    D'aquelles mais bem creados
    Poderão servir de vellas
    Para estender nos eirados.

    As couveiras crearão
    Tão altos pés e grossos;
    Que d'elles se farão bombas
    Para tirar agua dos poços.

    Vereis cebollas como pipas
    Batatas como toneis
    Tomates como gigas
    Alhos como canistreis.

    Que só os dentes dos alhos
    Tão volumosos serão,
    Como que fossem quartos
    De aboboras ou de melão.

    As pereiras darão peras
    Tão grandes e tão bastas
    Que uma só pera aos pedaços
    Encha bem sete canastras.

    Taes limões vereis creados
    Nos limoeiros azedos,
    Que um limão seja bastante
    P'ra carregar seis gallegos.

    E que nozes tão grandes
    Se hão de ver pelas Nogueiras,
    Que das cascas d'uma só
    Se farão duas maceiras.

    E do que tiver por dentro
    Gostosos doces farão,
    E muitas se hão de moer
    Que não hão de dar mau pão.

    Tambem promette abundancia
    De pão trigo e centeio
    Porque só cada espiga
    Dará alqueire e meio.

    As mulheres farão fogueiras
    Queimarão fuzos e rocas
    Por que ha de nascer linho
    Prompto já em maçarocas.

    Pois só cada melancia
    Tão grande ha de ser,
    Que precisem de dez homens
    Com pancas para a mover.

    Da tona grossa e dura
    Com talos tão bem creados
    Que só possam ser partidos
    Com alviões ou machados.

    Cada videira do Douro
    Tantos cachos ha de dar
    Que de vinho e bagaço
    Possa encher um lagar.

    A cinco reis o almude
    Quem quizer beberá vinho
    Do melhor do Alto Douro
    N'esta provincia do Minho.

    No tempo que o vinho fôr
    A cinco reis o almude
    Muito ha de haver quem diga:
    «Cá vae á sua saude.»

    Velhos e velhas vereis
    Dar saltinhos de contentes
    Porque até terceira vez
    Lhe hão de nascer novos dentes.

    Até os brancos cabellos
    Vereis tomar novas côres,
    Iguaes ás d'aquelle tempo
    Em que tinham seus amores.

    Os que forem corcovados
    A corcova hão de perder,
    Até cegos vereis com vista,
    Que já não esperavam vêr.

    Tudo quanto tenho dito
    Afianço e asseguro,
    Que se nada fôr verdade
    Ha de ser mentira tudo.

    D'esta forma terminou
    Esta real prophecia,
    Só a todos desejo
    Vida, paz e alegria.




HORAS PLANETARIAS


Nomes dos Planetas Saturno, Jupiter, Marte, Sol, Venus, Mercurio e Lua.

_Domingo_

A 1.ª hora é quando nasce o Sol, e é hora Solar.

2.ª--de Venus.

3.ª--de Mercurio.

4.ª--de Lua.

5.ª--de Saturno.

6.ª--de Jupiter.

7.ª--de Marte.

8.ª--do Sol.

9.ª--de Venus.

10.ª--de Mercurio.

11.ª--de Lua.

12.ª--de Saturno.

E assim continuará, segundo os nomes dos Planetas; isto é, conforme o
que se segue pelos nomes acima indicados.

_Segunda-feira_

1.ª--esta primeira hora como se tem dito, é da Lua.

2.ª--de Saturno.

3.ª--de Jupiter.

4.ª--de Marte.

5.ª--do Sol.

6.ª--de Venus.

7.ª--de Mercurio.

8.ª--da Lua.

E assim se vai proseguindo até pôr-se o Sol.

_Terça-feira_

1.ª--de Marte.

2.ª--do Sol.

3.ª--de Venus.

4.ª--de Mercurio.

5.ª--da Lua.

6.ª--de Saturno.

7.ª--de Jupiter.

8.ª--de Marte.

_Quarta-feira_

1.ª--de Mercurio.

2.ª--da Lua.

3.ª--de Saturno.

4.ª--de Jupiter.

5.ª--de Marte.

6.ª--do Sol.

7.ª--de Venus.

8.ª--de Mercurio.

_Quinta-feira_

1.ª--de Jupiter.

2.ª--de Marte.

3.ª--do Sol.

4.ª--de Venus.

5.ª--de Mercurio.

6.ª--da Lua.

7.ª--de Saturno.

8.ª--de Jupiter.

_Sexta-feira_

1.ª--de Venus.

2.ª--de Mercurio.

3.ª--da Lua.

4.ª--de Saturno.

5.ª--de Jupiter.

6.ª--de Marte.

7.ª--do Sol.

8.ª--de Venus.

_Sabbado_

1.ª--de Saturno.

2.ª--de Jupiter.

3.ª--de Marte.

4.ª--do Sol.

5.ª--de Venus.

6.ª--de Mercurio.

7.ª--da Lua.

8.ª--de Saturno.

E assim vae proseguindo, dando á hora do nascer do Sol de cada dia o
Planeta d'aquelle dia, assim como a oitava depois de ter nascido.




CONHECIMENTOS UTEIS


No Crescente da Lua é que se devem fazer as sementeiras e enxertias, pôr
bacellos, transplantar arvores, e crestar colmeias, tudo em dias de bom
tempo, antes que rebentem as arvores, e o que mais se deve escolher é a
occasião da maré cheia. As sementeiras não só devem ser feitas no
Crescente de Lua, mas é bom que sejam feitas nos dias em que a Lua anda
ou faça conjunção nos signos de Tauro, Cancer, Virgo, Libra ou
Capricornio e maré cheia.

No Minguante da Lua devem cortar-se as madeiras na força do Sol, colher
fructas para guardar, cavar e podar as vinhas; o melhor corte de
madeiras é quando está a maré cheia.

Os melhores dias de caça são um dia antes e outro depois de qualquer
aspecto de Lua. Para caçar aves, lebres ou coelhos são bons os dias em
que a Lua ande ou faça conjunção nos signos d'Aries, Tauro, Geminis,
Leo, Virgo, Libra, Sagitario, Capricornio e Aquario. Para pescar é bom o
quarto de Lua em Piscis, Cancer e Escorpio.


_Nevoeiro._--São nuvens terrestes que se levantam de lugares humidos, e
ficam espalhadas na atmosphera cuja transparencia toldam.


_Nuvens._--São aggregados de vapores mais ou menos espessos e encamados
na atmosphera aonde se condensam formando as nuvens e as chuvas.


_Chuva._--As chuvas são nuvens grossas que se evaporam dos rios e do
mar, as quaes são elevadas pelos ventos a uma distancia immensa,
derramando sobre nossos campos a felicidade e a abundancia, quando os
regam e alimentam as fontes.


_Neve._--A neve forma-se quando os vapores que cahem das nuvens se
congelam pelo frio que os surprehendem, e cahem então em flocos mui alvos.


_Saraiva._--Se os vapores que cahem das nuvens teem tempo de formar
pingas que o frio condensa, cahem então em granisos, ou pedras d'agua
com a mesma configuração e grossura, que haviam de ter as pingas d'agua
como chuva na sua queda.


_Orvalhos._--É um vapor subtil que se observa durante as noites e manhãs
da Primavera, Verão e Outomno, e não é mais do que um resfriamento que a
terra experimenta quando cessa de estar exposta aos raios do Sol.


_Relampagos._--Dá-se este nome ao clarão que precede o estampido dos
trovões, e tem lugar todas as vezes que o fluido electrico passa d'um
lugar para outro, ou que duas nuvens carregadas d'electricidade chegam a
encontrar-se.


_Trovão._--É o estrondo produzido pelo abalo que o ar recente no momento
em que o fluido electrico se descarrega sobre uma nuvem ou sobre a
terra. Pode ajuizar-se da distancia d'uma trovoada pelo espaço que ha
entre o relampago, e o trovão ou por uma pulsação regular; porque se o
pulso bate quatro vezes entre o relampago e o som do trovão, é signal de
que a trovoada está a quatro mil pés de distancia, e se bate cinco
vezes, está a cinco mil pés etc.


_Raio._--É o fluido electrico espalhado na atmosphera, que sahe com o
estrondo da trovoada sobre a forma de fogo da parte da atmosphera em que
estava accumulado, e derruba, mata e polvorisa aquillo em que toca ou
acha com resistencia. Recommenda-se para seu defensivo a pelle do lobo
marinho, o loureiro, e o _agnus dei_.


_Terra._--A Terra é um globo achatado nos dous polos, prova-se que é
redonda por que navegando-se de E. para O. volta-se ao mesmo ponto. Tem
a Terra 7200 leguas de circumferencia, e é 1,330,000 vezes mais pequena
do que o Sol, e tem não obstante uma superficie de terras habitadas ou
habitaveis, e aguas, que comprehende 24 milhões de leguas quadradas,
julga-se que as aguas cobrem mais das duas terças partes da superficie
da terra. Divide-se o globo em cinco partes, a saber: Europa, Asia,
Africa, America e Oceania.

Mr. Letrome, segundo um calculo assás exacto, pretende que em 700
milhões d'homens, pouco mais ou menos, que povoam a terra, ha perto de
230 milhões de christãos, 115 milhões de mahometanos, 5 milhões de
judeus, e 350 milhões de politheistas, povos que admittem mais d'um
Deus, e grande numero d'absurdos.


_Atmosphera._--Dá-se este nome á massa d'ar que cerca a terra até á
altura de 20 leguas pouco mais ou menos, e é aonde se formam varios
phenomenos e se reunem os gazes e exalações seccas ou humidas, e aonde
se condensam e precipitam, e é finalmente aonde se formam as chuvas,
ventos, saraivas, trovões etc.


_Anno Solar._--É o tempo que decorre desde um Equinocio até outro
Equinocio, isto é, 365 dias, 5 horas e 49 minutos.


_Anno Civil._--É aquelle de que usam quasi todas as nações, para
contarem o tempo e as idades, é de 365 dias, e os bissextos de 366 dias.


_Mez Lunar._--É o espaço de tempo que decorre d'uma Lua Nova até outra
Lua Nova, e consta termo medio de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 2
segundos.


_Cometas._--O numero de Cometas que se teem observado é de algumas
centenas e consistem em uma massa luminosa em fórma de cabeça,
acompanhada de um rasto luminoso, chamado cauda; o seu movimento é
irregular e tudo o que a respeito d'elles se tem calculado é puramente
hypothetico, ha comtudo cometas cuja apparição á nossa vista se acha
calculada. Os antigos consideravam os cometas como presagio de alguma
grande desgraça, hoje, porém, só algum ignorante poderá de tal
presuadir-se.


_Marés._--Ha dous fluxos e dous refluxos do mar no intervalo de cada 24
horas e 49 minutos, estes 49 minutos é o que as marés tardam em subir,
isto é, 24 minutos cada maré, juntando pois 24 minutos á hora de cada
maré teremos a hora da maré.


_Velocidade da luz do Sol._--Gasta a luz do Sol 8', para chegar á
terra, isto é, para percorrer os 34 milhões de leguas que nos separam
d'aquelle astro.


_Norte._--Para se achar a estrella do Norte, prolonga-se em linha recta
as duas estrellas a que chamam o leme e o prolongamento d'estas irá
mostrar a estrella do Norte.


_Methodo facil para observar os Eclipses do Sol._--Defuma-se em cima
d'uma luz um pedaço de vidro de vidraça, até que se não veja nada por
elle, faça-se-lhe depois um pequeno buraco no meio, descubrindo-lhe o
fumo com a ponta do dedo pelo qual se pode observar o Eclipse sem que
faça mal á vista.


Sommar:--

Signos,         gráos       e minutos
    9             24            38
   11             32            47
    9             27            25


FIM DA SETIMA E ULTIMA PARTE





End of the Project Gutenberg EBook of O Oraculo do Passado, do presente e do
Futuro (7/7), by Bento Serrano

*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O ORACULO DO PASSADO (7/7) ***

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Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
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To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
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The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
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Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
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809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
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page at https://pglaf.org

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     Chief Executive and Director
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