Sonetos de Anthero

By Antero de Quental

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Title: Sonetos de Anthero

Author: Antero de Quental

Release Date: August 16, 2008 [EBook #26326]

Language: Portuguese


*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK SONETOS DE ANTHERO ***









SONETOS

DE

ANTHERO


EDITOR--STÉNIO.


COIMBRA

Dezembro 1861.

IMPRENSA LITERARIA.




DO EDITOR

_Pela mão vos trago um vate:_


                         Amigo Anthero,
    Aproxima-te á machina: o retrato
    Quero fique a primor. Eia! Arrepela-me
    Essas bastas gadelhas côr das messes
    Lá quando ao largo foge em tarde estuosa
    O grande _Moribundo_! Ergue essa fronte!
    Fita-me com esse olhar tão sobranceiro
    De vivo lume cheio e puro aféto!
    Inclina mais ao lado o teu sombrêro,
    E assenta no quadril a mão segura
    Do braço firme e leal. Estende a perna...
    Deixa ficar-te assim, que estás famoso.

    Dezembro 1861                      STÉNIO




A João de Deus


Como ha para cada latitude uma estrela, para cada estrela uma luz sua;
ha para cada evolução da Arte uma forma propria, unica, perfeita.

A forma compteta do lirismo puro é o Soneto.

A _Ode_, como a flor esplendida do cátus, abre aos quatro ventos do
entusiasmo as suas petalas brilhantes, fortes, ardentes como os voos
altivos, mas seguros, do genio que julga o espaço seu e tenta avassalar
o mundo.

Aquela pompa deslumbra: mas quando o vento da tarde passar, talvez vá
achal-a pendida sobre os espinhos da áste, semimorta, sem que do
esplendor da manhã lhe reste mais que a túnica de purpura ja desbotada,
em que se envolve como uma rainha decaída no manto da sua antiga
realeza.

Imaginação luxuriante, profusão de ideas, babel confusa de mil elementos
encontrados--como reduzir tudo isto á unidade, ao simples?

Impossivel. Aquela forma veste uma substancia: é manifestação verdadeira
e exáta d'uma evolução da Arte: mas reduzil-a á simplicidade, ninguem o
pode fazer, por que a substancia d'aquela forma é complexa, como o mundo
que a gerou. Não é o lirismo _puro_.

Entre o Mosteiro da Batalha e essa selva gigantesca de colunas, ogivas,
abobadas, portáes, chamada Catedral de Strasburgo, ha toda a diferença
que vai do simples ao complexo, do belo ao grandioso.

Ora o lirismo--o lirismo puro e estreme--vive do belo e não do grande,
de simplicidade e não de profusão: o sentimento é _um_--simples--por que
é a parte eterna, imutavel, divina do homem: o olho com que vemos a
Deus, a mão com que lhe palpamos o seio. A inteligencia, a fantatasia,
são complexas, profusas, multiplas, por que são o mutavel, o
progressivo, a porta por onde nos entra o mundo, o pulmão com que
aspiramos e respiramos o universo, o imenso.

A Catedral de Strasburgo é a grande obra da arte humana, o trabalho de
mil inteligencias, o pensamento da humanidade n'uma época da sua vida;
um Faust d'estrofes de marmore. O Mosteiro da Batalha é a tocante
tradução do sentimento eterno da alma, da aspiração imutavel a Deus, ao
Amor-unico, um Evangelho escrito a escopro e buril: uma é ainda a terra;
o outro é ja o ceu.

Pois bem: a _ode_, o lirismo de cabeça, aonde se espelha o universo,
será a Catedral da Meia-Idade: mas o _soneto_, o lirismo puro da alma, a
idea que traduz o eterno sentimento, é o Mosteiro da Batalha.

      *      *      *      *      *

Por que?

Por que ha uma forma para cada idea; por que o vestido deve ajustar-se
ao corpo, por que cada estatua tem o seu molde diferente.

Qual será a forma do simples? A unidade. O que corresponde ao
sentimento? O simples.

Atiremos com uma peça de pano aos hombros d'este _nú_ e vejamos o que
sáe...

O Sentimento não se define: é indefinido; vago; misterioso; aspira, e
não sabe o que quer; sonha, e não vê as visões do sonho; chóra, e mal
sabe o que são lagrimas; corre, e não conhece a terra que pisa; ora, e
não sabe que Deus lhe escuta a prece; exulta, ri, entristece, sisma, e
não conhece quem lhe dêo tristeza ou alegria.

Eil-o aí o _nú_, vergonhoso e timorato, fugindo a luz e o ruido,
ocultando-se no fundo da alma, como em abrigo profundo o desconhecido.

D'aqui, até que apareça á luz do dia, vestido e um pouco proprio para a
sociadade, ainda timido e saudoso de retiro, sim, mas, finalmente, ja um
tanto desafrontado e senhor de si; desde que o tirem do seu abrigo, até
o trazerem para a assemblea dos homens, por quantas transformações, por
quantas fases, por quantas mãos não passará ele?!..

Vejamos como se veste o _nú_, para conhecermos que vestido lhe vai
melhor.

Assim:

O Sentimento é o que há em nós de mais irrefletido, mais fatal (ainda
que, por outro lado, mais livre) na alma do homem, é--o instinto da
alma--Quando o poeta sentiu, na primeira noute em que ergueu ao céu os
olhos do espirito, agitar-se-lhe dentro o hospede estranho, ficou como
que alheio ao mundo e a si, e mal soube da visita do desconhecido.

Mas, quando uma e outra vez e muitas vezes, sentiu tomarem-lhe a mão e
levarem-no pelos espaços ideaes a novos e estranhos mundos, olhou em
roda, por ver a face ao guia misterioso. Não o vio; mas, no silencio da
noute ouvio dentro de si um sussurro brando e sumido como o da agua
entre os arbustos, como confidencia d'amores dita baixinho e em segredo.

E então prestou o ouvido e escutou.

      *      *      *      *      *

O que significa isto? o que é este inclinar-se do poeta sobre o fundo da
sua alma, interrogando-lhe os écos, escutando-lhe as vozes que lá dentro
murmuram mal-distintas?

É o homem que começa a ter consciencia do sentimento:

É a inteligencia querendo penetrar n'alma:

É o dedo que se põe sobre o coração, para lhe sentir o pulsar:

É o poeta que se interroga.

E o _nú_ oculta-se, disfarça-se, foge, não se deixa apanhar; mas o olhar
prescrutador segue-o por toda a parte, vai-lhe em cima a cada retirada,
fita-o nos cantos mais obscuros, e não podendo segural-o, ao menos
_estuda-lhe_ as feições, _toma-lhe_ os modos, aprende-lhe os geitos,
escuta-lhe as falas e, juntando tudo isto, forma um todo, mais ou menos
semelhante, mais ou menos disforme, mas, em todo o caso, retrato que vai
pendurar na camara mais bela, mais escolhida da casa, como no melhor
lugar do oratorio se guarda a reliquia mais sagrada.

Primeira transformação, pois, do sentimento. O poéta toma conhecimento
do que lhe vae n'alma: estuda-se no intimo: tem consciencia dos fátos
instintivos do espirito: e a inteligencia retrata, como póde, esse
estranho que lhe entrou em casa, a quem quer por força conhecer.

A inteligencia forma _idea do sentimento_.

      *      *      *      *      *

Eis aí o nosso _nú_ trazido á praça.

Desde que se apossou d'ele a inteligencia, não parece o mesmo:
assaltam-no estranhas veleidades, caprixos desconhecidos. Ele o
_sismador_, o _solitario_, recorda-se do _vae soli_ e lembra-se de
comunicar com o mundo, de se mostrar um pouco á luz do dia.

Caro lhe custa o: caprixo! Quanto não perdeu ele ja com passar de
sentimento ao estado d'idea! Quanto não perderá agora passando d'idea a
fáto!

O seu belo _todo_ ja o vimos desfigurado no retrato que inabil
fotógrapho lhe tirou: d'esse pouco, que lhe resta, lá vai ainda perder o
melhor, la se vai envolver na _forma_, la vai cobrir-se com vestido...
ele... o _nú_..

Por que é preciso vestil-o; e toda a questão está n'isto. Vestil-o! pois
o que tinha ele de melhor senão a sua nudez, a liberdade de movimentos,
tão indefinidos, tão vagos, tão belos?!..

Tudo isto lhe vai cobrir o detestavel vestido.

O sentimento é o misterioso, o escuro, o vago:

A inteligencia, o claro, o preciso, o definido.

Para combinar estes dous termos, quanta dificuldade e, o que é piór,
quanto perdido!

Mas ao menos a idea, sendo ja tão má, pode, ainda assim, existir
denudada: mas a forma! a forma! não só é clara, precisa, mas, mais que
tudo, é _vestido_.

Procuremos pois ao sentimento, pelo menos, vestidura que o não tolha,
que lhe não encubra as belezas, que o deixe senhor de si; finalmente,
vestido que lhe vá bem, e esse só pode ser _um_--Escolhamos:

      *      *      *      *      *

Aí temos pois o sentimento reduzido a idea, á procura de forma.

Vejamos as transformações por que passou para, em vista d'elas, lhe
escolhermos uma propria.

A inteligencia, tomando conhecimento do sentimento, caminhou
gradualmente; primeiro um lado, depois outro; agora esta face e logo
aquela: assim se foi a idea desenhando até que juntas essas partes se
formou um todo, a _unidade_.

Comtudo essas partes são homogeneas, como homogeneos são os ramos que se
ajuntam n'um tronco commum: é como se um pintor estudasse uma
cabeça--ora de perfil, depois de face, o olhar, o rir, o labio, a
fronte, tudo por sua vez, e ultimamente então fizesse o retrato.

Assim, pois, a forma deve ser tãobem uma só; talhada de uma unica peça;
da mesma natureza; mas que comece por cobrir bem cada parte, e depois
cubrao todo e o envolva.

      *      *      *      *      *

E que ha no soneto? Uma unidade perfeita: desenha-se cada idea parcial
de per si, mas não tão independente das outras que não haja entre elas
relação, até que a final, juntando tudo n'um só se apresenta por todos
os lados simultaneamente, como em resumo, o fecho--_chave d'ouro!_--

Daí, unidade. E simplicidade? Toda: as partes conservão estreito laço
entre si: é só um sentimento, só uma a idea; não são varias, mas varios
lados: a unidade final funde-os n'um todo.

Resumindo;

O sentimento desenha-se de perfil, aos poucos, gradualmente;

A forma acompanha essa evolução: segue-o em cada manifestação parcial.

Desenha-se, por fim, todo e forma-se d'ele idea percisa ou, pelo menos,
completa;

A forma amolda-se a esta reconstrução, e resume-o igualmente, como que
fundindo as partes no todo.

O sentimento é _um_;

Á forma, pela precisão, a que apresenta maior unidade.

É _simples_;

Ainda a estreiteza d'ela não permite abraçar mais que o preciso: tudo o
que for estranho, regeita-o por que o não póde conter.

      *      *      *      *      *

Esta é pois, a forma lirica por excelencia: o manto alvo e casto com que
tem de se envolver, para ver o dia, aquelas partes mais pudicas, mais
melindrosas, mais puras da alma.

Fazer do soneto o molde aonde o cérebro _só_ despeje o que concebe
independente da alma; as visões da fantasia, apenas; é desconhecer-lhe a
natureza, é dar á boémia das praças publicas o vestido, a cintura da
virgem.

Esta é a forma superior do lirismo do coração.

N'ela tem vindo todos os grandes poetas vasar o que tinham de mais puro
na alma, quando, muita vez, cançados, talvez exautos d'imaginação e de
idea, sentiam, todavia, transbordar-lhe o coração, como se tivesse,
semelhante ao lago que recebe e nunca vasa, muito e muito ainda para
dar, mas que, á falta de quem lh'o receba, guardasse secreto em si.

Recebeu-lhes, então, o balsamo mais puro de suas almas esta forma
generosa e profunda. Dante, Miguel Angelo, Shakspeare, Camões,
admiram-se nas grandes, nas imensas manifestações de suas inteligencias,
o Inferno, S. Pedro, Othelo, Lusiadas: mas conhecel-os, amal-os, só
aonde esta forma bela e pura lhes prestou molde aonde vasassem os
sentimentos mais intimos de suas almas. Ali, admira-se o Artista, mas
aqui ama-se o Poeta: ali arrebata-nos o entusiasmo, mas aqui
rebentam-nos as lagrimas.

Os Lusiadas são a epopea d'um povo; ser-lhe-hão tambem epitafio quando
com a sua mão Deus lhe apagar o nome d'entre as nações. Mas qual ha
poema de sofrimento que iguale este final do soneto CLXXVII.

    Triste o que espera! triste o que confia!

Aonde ha epitafio, que melhor narre ás gerações a vida pelo amor
d'aquela alma nobre, do que este (XIX):

    Alma minha gentil que te partiste...

Os Lusiadas são a epopea do povo: mas a epopea do Poeta é aquele
livrinho apenas lembrado dos Sonetos.

Um é o monumento da nação; outro o do homem: os Lusiadas escreveu-os o
Soldado; mas foi o poeta quem chorou os Sonetos.

Quem fala ai em colunas e estatuas? Camões não se vê, não se funde, não
se palpa: sente-se! Que melhor retrato, que maior estatua quereis de que
estes versos (CX):

    E vou de dia em dia, d'ano em ano,
    Após um não sei que, após um nada,
    Que, quanto mais me chego, menos vejo.

Depois d'esta, que ele por suas mãos fundiu, ninguem lhe vá tirar as
feições!

      *      *      *      *      *

Esta grande forma estava perdida: sumio-a um dia Bocage, em meio do
delirio d'alguma orgía _poetica_, e, tão longe a arrojou, que bem
custoso foi achal-a depois. Lembrou-se ainda d'ela, ja quando as
_grandes sombras_ lhe vinham do ceu descendo sobre a alma, a envolvel-a,
para que no caminho não podesse olhar a terra e perdesse de todo a
lembrança d'este desterro.

Foi sublime aquela reminiscencia! mas a troco de quantos esquecimentos
não veio ela?!

Achou-a, depois, um homem--um poeta--digo _poeta_, por que o
esquecimento do seu nome é, n'esta terra, a sua melhor coroa: a gloria
aqui é ser esquecido, por que poetas--_poetas_ não ha ca quem os
entenda...

João de Deus restituiu-nos o _Soneto_ como ele é, como deve ser:
a--forma superior do lirismo--Sem este laço atravez dos tempos, quem
poderia achar aquela forma, para nola restituir em toda a sua pureza?
Certo que não seriam os Castilhos, nem os Lemos, nem...

De Camões até hoje é grande o salto: só alma gémea da do amante de
Natercia, poderia assim transpor o abismo de tres séculos. É-o. Á terra
fecundada por Camões custou-lhe a conceber tamanho _monstro_! Gemeu nas
dores e na fronte do poeta bem se divisam angustias que a mãe deu em
legado ao filho, e as maiores ainda que lhe deixou seu _Pae_... mas,
João de Deus! quem renegará seu Pae?!

Dezembro 1861.




AD AMIGOS.

    Ó voi, ch'avete gl'intelleti sani,
    Mirate la dottrina che s'asconde
    Sotto in velame degli versi strani.

                      DANTE. _Inferno_.




I.

Ignoto Deo.


Que beleza mortal se te assemelha,
Ó sonhada visão d'esta alma ardente!
Que refletes em mim teu brilho ingente,
Lá como em mar d'anil o sol se espelha?

O mundo é grande! e esta ancia me aconcelha
A buscarte na terra: e eu, pobre crente,
Vou pelo mundo a ver o _Deus clemente_...
Mas a ára só lhe encontro... núa e velha.

Não é mortal o que eu em ti adoro.
Que és tu aqui? olhar de piadade,
Gota de mel em taça de venenos.

_Ah lagrima das lagrimas que choro!_
Ah sonho dos meus sonhos! Se és verdade,
Descobre-te, visão, no ceu ao menos!




II.

A M. C.


Não busco n'esta vida gloria ou fama:
Das turbas que me imporia o vão ruido?
Hoje deus, e amanhã já esquecido,
Como esquece o clarão de extinta chama!

Fóco, que a luz em torno não derrama,
Tal é essa ventura; éco perdido,
Quanto mais se chamou, mais escondido
Fugiu e se esqueceu de quem o chama.

Cada flor d'essa croa é um engano,
Como a nuvem das tardes ilusoria,
Como o misterio vão d'um vão arcano.

Mas croe-me tua mão a fronte ingloria,
Cinge-me tu o louro soberano...
Verás, verás então se amo essa gloria!




III.

Ignoto Deo.


Meus dias vão correndo vagarosos
Sem prazer e sem dor, e mais parece
Que este fóco intrior antes fenece
Do que brilha com raios luminosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Outra alembra de mais perfeitos gosos.

Minha alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Prende-a um instante mundanal beleza,
Mas outra a patria é por que suspira.

Porem do pressentir dá-me a certeza,
Dá-ma! e contrito--embora a dor me fira--
Eu sempre bemdirei essa tristeza!




IV.

A M. E.


Terra do exilo! Aqui tambem as flores
Tem perfume e matiz; tambem vicejam
Rosas no prado e pelo prado adejam
Zéfiros brandos suspirando amores:

Tambem ca tem a terra seus primores;
Pelos vales as fontes rumorejam;
Tem a noute seus sopros, que a bafejam,
E o ceu tem sua luz e seus ardores.

Em toda a natureza ha amor e cantos,
Em toda a natureza Deus se encerra...
E comtudo esta é a causa de meus prantos!

Eu sou bem como a flor que não descerra
Em clima alheio. Que importam teus encantos?
Não és, terra do exilio, a minha terra!




V.

A Alberto Telles.


Só!--Ao ermita sosinho na montanha
Visita-o Deus e dá-lhe confiança:
O nauta, que o tufão aos polos lança,
Ainda espera um sopro que o ceu tenha!

Só!--Mas quem se assenta em riba estranha,
Longe dos seus, lá tem inda a lembrança:
E inda no peito deixa Deus a esprança
A quem á noute chora em erma penha.

Só!--Não o é quem possue na terra um laço
--Um que seja--que o prenda a este fadario,
Uma crença, uma esprança... e inda um cuidado.

Mas cruzar--indifrente--inertes braços,
Mas passar--entre turbas--solitario,
Isto é ser só, é ser abandonado.




VI.

A Santos Valente.


Estreita é do prazer na vida a taça:
Largo, como o oceano é largo e fundo,
E, como ele, em venturas infecundo,
O calis amargoso da desgraça.

E comtudo nossa alma, quando passa
No pregrinar da vida pelo mundo,
Prazer só pede á vida, amor fecundo,
Com esta unica esprança só se abraça.

É lei de Deus este aspirar imenso...
E comtudo a ilusão impoz á vida,
E manda buscar luz, e dá-nos treva!

Ah! se Deus acendeu um fóco intenso
D'amor e dor em nós, na ardente lida,
Por que a miragem cria... ou por que a leva?




VII.

A Florido Telles.


Quando comparo gloria ou ouro ou fama
--Venturas que em si tem oculto o dano--
Com aquele outro afeto soberano,
Que amor se diz e é luz de pura chama,

Vejo que são bem como arteira dama
Que sob o honesto riso, esconde o engano,
E quem as segue como esse que ufano,
Por ir traz do prazer, deixa quem o ama.

Do orgulho vem aquele estranho goso
E a gloria d'ele só nos vem do orgulho,
Por que só na vaidade tem a palma:

Tem na paixão seu brilho mais formoso
E das paixões, tambem, some-o o marulho...
Mas a gloria d'amor... essa vem d'alma!




VIII.

A M. C.


Poz-te Deus sobre a fronte a mão podrosa!
O que fada o poeta e o soldado
Pousou em ti o olhar d'amor veládo
E disse-te! «_mulher, vai! sê formosa._»

E tú, descendo na onda armoniosa,
Pousaste n'este solo angustiado
--Estrela envolta n'um clarão sagrado,
Do teu olhar d'amor na luz radiosa--

Ah!... quem sou eu, para poder mercer-te?
Deu-te o Senhor, mulher! o que é vedado,
Anjo! deu-te o Senhor um mundo á parte.

E a mim, a quem deu olhos para ver-te,
Sem poder mais... ca mim o que me ha dado?
Voz pra cantar, uma alma para amar-te!




IX.

Ignoto Deo.


Um diluvio de luz cáe da montanha:
Eis o dia! eis o sol! o esposo amado!
Onde ha, por toda a terra, um só cuidado
Que não dissipe a luz que o mundo banha?

Flor, viração, e prado, e erma penha,
Revolto mar ou golfo socegado,
Onde ha hi ser de Deus tam olvidado
Pra que alivio do ceu o ceu não tenha?

--Deus é Pae! Pae de toda a creatura:
E a todo o ser o seu amor assiste:
De seus filhos o mal sempre é lembrado--

--Ah! se Deus a seus filhos dá ventura.
N'esta hora santa... e eu--só--posso ser triste...
Serei filho, mas filho abandonado!




X.

Ad amicos.


PROPTER SOLATIUM.


Renasço, amigos, vivo! Ha pouco ainda
Disse ao viver «_afunde-te no nada!_»
E já, bem vedes, surjo á luz dourada
--No labio o rir, no peito esprança infinda--

Ah, flor da vida! flor viçosa e linda!
Envolto na mortalha regelada
Do _só_ pensar--perdão!--foste olvida...
Flor do sentir e crer e amar... bem vinda!

A vida! como a sinto, ardente, imensa!
Não unica! tomando a imensidade!
Livre! perante Deus surgindo forte!

Que amor! que luz! que pira, vasta, intensa!
Plenitude! armonia! realidade!
Mas melhor que tudo isto é sempre a morte.




XI.

A M.C.


No ceu! se ha ceu pra os olhos de quem chora,
Ceu, para o peito de quem sofre tanto...
Se ha _voz d'amor_, e amor ha puro e santo
--Chama que brilha, mas que não devora...

No ceu! se uma alma n'esse espaço mora,
Que a prece escuta e enchuga o nosso pranto;
Se ha Pae, que estenda sobre nós o manto
Do amor piadoso... que eu não sinto agora:

No ceu, ó virgem! findarão meus males;
Heide ter vida (por que mais pareço
Sofrer a vida, que lograr favores)

Ali, ó lirio dos celestes vales!
--Tendo seu fim--terão o seu começo,
Para não mais findar, nossos amores.




XII.

A José Felix dos Santos.


Sempre o futuro! sempre! e o presente
Nunca! Que seja esta hora em que se existe
D'incerteza e de dor sempre a mais triste,
E só nos farte a esprança um bem ausente!

O futuro! Que importa? se inclemente
Essa hora em que a esprança nos consiste,
Chega... é presente... e só á dor assiste?!
Assim, onde é a esprança que não mente?

Desventura ou delirio? O que procuro,
--Se me foge--é miragem enganosa,
--Se me espera--peór, espetro impuro.

Assim a vida passa vagarosa:
O presente a aspirar sempre ao futuro,
O futuro uma sombra mentirosa.




XIII.

A H. C.


OB MAESTITIAM.


Por que descrês, mulher, do amor, da vida?
Por que esse Hermon tranformas em Calvario?
Por que deixas que, aos poucos, do sudario
Te aperte o seio a dobra úmedecida?

Que visão te fugio, que assim perdida
Buscas em vão n'este ermo solitario?
Que fatal maldição, destino vário,
Te faz trazer a fronte ao chão pendida?

Nenhuma! Todo o bem em ti assiste;
Deus, em penhor, te deu a formosura,
Uma benção do ceu traz-te cada hora;

E descrês do viver?! E eu, pobre e triste,
Que só no teu olhar leio a ventura,
Se tu descrês, em que hei-de eu crer agora?...




XIV.

A Alberto Sampaio.


Não me fales de gloria: é outro o altar
Onde queimo piadoso o meu incenso,
E, amimado de fogo mais intenso,
De fé mais viva, vou sacrificar.

Que vai a gloria, diz! pra se adorar
--Fumo, que sobre o abismo anda suspenso--
Que vislumbre nos dá do amor imenso?
Esse amor que venturas faz gosar?

Ha outro, mais celeste, mais eterno,
Que, se o busco com fé, não quer fugir-me,
Nem dá, em vez de goso, negro inferno.

Só esse hei-de buscar, e confundir-me
Na essencia do _amor_, puro, sempiterno...
Quero só n'esse fogo consumir-me!




XV.

Ignoto Deo.


Vai-te, na aza negra da desgraça,
Pensamento _d'Amor_, sombra d'uma hora,
Que estreitei tantos _seclos_, vai-te--embora!--
Como nuvem que o vento impele... e passa.

Que arrojemos de nós quem mais se abraça,
Com mais ancia, á nossa alma! e quem devora
D'essa alma o sangue, com que mais vigora,
Como amigo comungue á mesma taça!

Que se torne impossivel a esprança,
E nunca a dor (que sempre o mal assiste)
E seja unica esprança a desventura!...

Se em silencio sofrer fôra vingança!...
Envolve-te em ti mesmo, ó alma triste,
Talvez que sem esprança haja ventura!...




XVI.

A Q. M. Q.


Fica-te em paz! não póde a mão do homem
Partir o seio á arveloa queixosa,
Quando o canto soltou, e a voz chorosa
Ergueu la contra as magoas que a consomem.

Respeito o teu sacrario: embora tomem
Por orgulho o respeito; eu colho a rosa
Mas não a flor modesta e melindrosa,
Que se oculta entre as mais... e que as mais somem.

Mais que amor tenho crença: essa existencia
Pede-me um culto por que dera a vida,
Por que dou esta dor, que aqui se encerra.

Mulher! mulher! de que valêra a essencia,
A essencia pura, a uma alma que é descrida?...
Fica-te em paz: fique eu com minha guerra!




XVII.

Ignoto Deo.


Corre aos braços da mãe o filho amado;
--Por olvidar, volvendo a sua historia--
Corre á mente do infliz doce memoria;
Corre á luz d'um olhar o olhar buscado:

Vem o alivio animar peito magoado;
Corre o forte a buscar na morte a gloria;
Desfeita do viver sombra ilusoria,
Foge o espirito livre ao ceu anciado;

Tudo busca quem o ama: a luz dourada
Busca do seu viver, como no escuro
Quem avista uma luz lhe vai ao encontro.

Só tu, ventura! uma vez sonhada;
Só tu, sombra _d'amor_! que em vão procuro,
Só tu, foges de mim, só não te encontro!




XVIII.

Ignoto Deo.


Espremos no Senhor! Ele ha tornado
Em suas mãos a massa inerte e fria
Da materia impotente e n'um só dia,
Luz, movimento, ação, tudo lhe ha dado.

Ele ao que é pobre d'alma ha tributado
Carinho e amor; Ele conduz á via
Segura quem lhe foge e se extravia,
Quem um momento só não o ha lembrado.

E a mim, que aspiro a Ele, a mim que o amo,
Que tenho vida em mim, que anceio o brilho,
Hade negar-me o termo d'este anceio?

Buscou quem o não quiz; é a mim, que o chamo,
Hade fugir-me, como a ingrato filho?
Oh Deus! Senhor! meu Pae! espero! eu creio!




XIX.

A João de Deus.


Se é lei que rege o escuro pensamento
Lutar--em vão--á cata da verdade,
Em vez da luz achar a escuridade,
Ser uma queda nova cada invento;

É lei tambem, (embora grão tormento)
Buscar, sempre buscar a claridade,
E só ter como certa realidade
O que nos mostra claro o entendimento.

Em tanta confuzão, em tanto engano,
O que ha-de a alma escolher? se crê, duvida;
Se procura, só acha... o desatino.

Só Deus póde acudir em tanto dano:
Alimente-se a esprança d'outra vida,
Seja a terra degredo, o ceu destino.




XX.

Ignoto Deo.


Senhor! eu sou teu filho! eu sou aquele
Que tanta vez pecou, porem, contrito,
Tanta vez tem erguido a ti o grito
Da aguia que o tufão no alto compele.

E a aguia sofre tambem, como ave imbele,
E mais que ela (que pôe mais alto o fito)
Mas da aguia, que lutou, o brado aflito.
Senhor! o teu ouvido não repele.

Eu não cáio, meu Deus, sem ter lutado;
Fraco sou, por que sou de barro e limo,
Porem na tua _Lei_ medito e sismo.

E eu sou teu filho! A um filho desgraçado
Que ha-de um páe recusar? Oh, dá-me arrimo,
Estende-me tua mão por sobre o abismo.




XXI.

A Germano Meyrelles.


Só males são reáes, só dor existe;
Prazeres só os gera a fantasia;
Em nada--um imaginar--o bem consiste;
Anda o mal em cada hora, e instante, e dia.

Se buscamos o que é, o que devia
Por natureza ser não nos assiste;
Se fiamos n'um bem, que a mente cria,
Que outro remedio ha hi senão ser triste?

Quem comsigo podesse que não vira,
Que esta vida nos sonhos lhe passasse...
Mas, no que se não vê, labor perdido!

Quem fôra tão ditoso que olvidasse...
Mas nem seu mal com ele ali dormira,
Que sempre o mal pior é ter nascido!






End of the Project Gutenberg EBook of Sonetos de Anthero, by Antero de Quental

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