O Marquez de Pombal á luz da Philosophia

By Angelina Vidal

The Project Gutenberg EBook of O Marquez de Pombal á luz da Philosophia, by 
Angelina Vidal

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org


Title: O Marquez de Pombal á luz da Philosophia

Author: Angelina Vidal

Release Date: November 14, 2008 [EBook #27255]

Language: Portuguese


*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O MARQUEZ DE POMBAL ***




Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)






O MARQUEZ DE POMBAL

Á LUZ DA PHILOSOPHIA




ANGELINA VIDAL

O MARQUEZ DE POMBAL

Á LUZ DA PHILOSOPHIA




LISBOA
IMPRENSA DA VIUVA SOUSA NEVES
65, Rua da Atalaia, 67
1882




A

CAMILLO CASTELLO BRANCO




ESCRIPTOR ILLUSTRE


Estamos em pleno jubileo.

Cada época traz o seu cunho caracteristico de exagero, e tristes dos que
se affoutam a soltar qualquer nota discordante no concerto da lisonja
publica.

No meio d'este anemico paiz vibra ainda uma corda vocal, a ultima--é a
maledicencia. Este facto pathologico é porém de modo tal inoffensivo,
que minuciosamente estudada a sua etiologia, conclue-se que por unica
therapeutica deve applicar-se-lhe o despreso.

Insultar é uma necessidade tão inherente ao organismo patrio, que se o
indigena não houvera a quem fazel-o, insultar-se-hia a si mesmo.

Não se combatem principios; oppõem-se abusos a abusos; á communhão da
Liberdade não se admittem cerebros livres; tem de annullar-se a
consciencia, em honra do opportunismo.

Para ser-se _immortal_ pedem-se as credenciaes aos monarchas da opinião,
e inscreve-se o pretendente nos clubs do elogio mutuo; não é economico,
porque importa a dignidade dos candidatos; mas custa menos do que
fazer-se eleger deputado de qualquer partido.

Eu porém affasto-me dos microscopicos fetiches, para venerar tão só os
privilegiados do talento, e tenho bastante valor para arrostar com os
desdens do enfatuamento ignaro. Democrata convicta, e evangelisadora do
livre exame--em ethica, sciencia, e politica, manifesto amplamente as
opiniões do meu espirito, com a altiva independencia de quem se habituou
a superar os diques verminosos da sórdida mesquinhez.

Por isso estendo fraternamente a mão ao glorioso mestre da patria
lingua, e saudando o fecundo engenho do athleta da litteratura
portugueza, offereço-lhe despretenciosamente estes humildes versos.

Lisboa 30 de abril de 1882.

                                                      _Angelina Vidal._




I

    Um côro de ovações se eleva norte a sul;
    No seio do paiz, palpita a festa ingente,
    Mil eccos de alegria ondulam pelo azul,
    E a vaga popular circula vivamente.

    Que enorme vibração aos tristes galvanisa?
    Que fado deslumbrante a Patria considera?
    Una rasgo de valor que um mundo synthetisa?
    Um estro que irradia a Gloria pela esphera?

    Um Genio que assombrasse o coração do mundo?
    Talvez Dante ou Camões, talvez um Diderot,
    Ou Bacon, ou Voltaire o destructor profundo,
    Feurbach ou Galileo, Danton, Goethe, Rousseau?

    Oh não! A Patria canta o athleta da Realesa,
    O Hercules pujante, o pulso sem rival
    Que punha até por terra as leis da Naturesa,
    Mas que tambem erguia a fama Nacional.

    Thuribulisem pois o nome do gigante,
    Incensem sem descanço o esteio da corôa,
    O facho da instrucção, o genio penetrante,
    Que de um montão de cinza ergueu nova Lisboa!

    Cantae, Democracia; o espirito do bravo,
    Que o nivel fez rolar por sobre a Sociedade,
    Prostrando o jesuitismo, ou libertando o escravo,
    Quebrando á inquisição as garras da maldade.

    Lisonja, ergue a Pombal um hymno de louvores!
    Realça o que é brilhante, esconde o que é medonho!
    Cerrae a porta á Historia, ó novos pensadores!
    O mal não existiu; é falsidade, é sonho!


II

    Nove horas; a cidade acorda sob um ceu
    De christalino azul, de transparente veu;
    Movimenta-se a pouco a gente nas viellas,
    Adornam-se com arte as donas e donzellas,
    E os sinos vão chamando os fervidos catholicos
    Aos festejos do templo, e aos canticos symbolicos.

    Entoa o padre a missa, e os crentes, com respeito
    Se curvam brandamente; habita em cada peito
    A prece fervorosa, os orgãos gemem notas
    Que fazem palpitar as candidas devotas.
    Ha como que um sereno e doce mysticismo
    Que leva os corações, em nuvens de idealismo,
    Aos páramos do ignoto, aos vagos paradisicos,
    Onde a crença cultiva os lirios metaphisicos.

    Nas praças, os peões, laboram tristemente,
    E n'uma gelosia um vulto sorridente
    Espreita cuidadoso ao longo dos caminhos.
    Passa ás vezes um nobre envolto em bons arminhos,
    E alinham-se na rua, á porta dos conventos,
    Os novos com preguiça, e os velhos sem proventos.

    De repente porém, um intimo ruido
    Se escuta assustador na entranha da cidade!
    Depressa lhe succede horrivel alarido,
    E um turbido baquear, em toda a extensidade.

    Oscilla cada predio, e cahem pelo sólo
    Desfeitos como em pó os rijos edificios;
    E a misera Lisboa, afflicta, pólo a pólo
    Vomita o seu terror, por igneos orificios.

    Fogem as mães tremendo, os filhos junto ao seio,
    E correm a acolher-se aos templos do Senhor;
    Mas eis que ao grande affan do seu materno anceio
    Ahi se expõe um quadro escuro e aterrador.

    Abobadas cahindo em cima dos altares,
    E o padre surpreendido em meio dos cantares,
    Sem voz, sem movimento, a par de uma madona
    Que ha muito se ostentava em seu painel de lona.
    Creanças a chorar, columnas em pedaços,
    Soluços do estertor, e aqui e além uns braços
    Sob as pedras surgindo e estrebuchando a custo!...

    Nas ruas e jardins não é menor o susto.
    Rodou rapidamente o nivel da desgraça!
    Só resta enorme entulho onde era alegre praça,
    E os tectos ao cahir nos crepitantes lumes,
    Erguem linguas de fogo, em cálidos queixumes.

    Estala o velho tronco ao cedro gigantesco,
    E paira em tudo o horror mortifero e dantesco.
    E para cumular o quadro de afflicções,
    O Tejo, saccudindo os pardos turbilhões,
    Devora febrilmente as ruinas rescaldantes,
    E lambe o morto, e o vivo, em saltos delirantes,
    E abrindo o coração, sedento de vingança,
    Abysma o forte, o fraco, o velho, a mãe, a creança!

    E como se o terror gerasse a crueldade,
    Para opprobrio veraz da crúa humanidade,
    No cahos tumulento anda essa immunda plebe
    Que rouba, que assassina, e apenas se apercebe,
    Sob as nuvens de fumo e pulsações do fogo.

    E o rei e o seu ministro?
                             Accaso n'esse jogo
    Da horrifica tormenta, o ceu de azul purissimo
    Ousaria esquecer um rei que é _fidelissimo_?
    Quem sabe se terão cahido do vaivem?

    Salvou-o Jehovah--el-rei estava em Belem?
    ...........................................

    Depressa chega ali a nova deploravel;
    Aterra-se a nobresa; o facto lamentavel
    Envolve em lucto e pranto innumeros varões.
    Entreolham-se a tremer, e logo as orações
    Se elevam para o ceu como espiraes de dôr.
    El-rei branco de susto, os filhos com pavor
    Percorrem os salões, idiotas e perplexos.

    Mas fulgem n'um olhar uns vividos reflexos,
    E um vulto erecto e firme encara D. José;
    «Marquez, murmura el-rei, castigo de Deus é
    «O horrivel cataclysmo! E agora, que afflicção!
    «Que havemos de fazer em tal destruição?
    «Arde toda a cidade, e estão vasios os portos»
    --Salvemos quem viver, demos á terra os mortos.--
    Responde friamente o imigo da utopia.

    E longe de invocar a Deus ou a Maria,
    Expede ordens de cunho e toma arduas medidas,
    Alenta sem delonga as perigadas vidas,
    Corta os braços á chamma, e tolhe o passo á fome;
    Liberta o infeliz da angustia que o consome,
    E ahi onde o devasso um roubo perpetrava,
    Ahi a forca bruta á morte o condemnava.
    .........................................
    Annos depois surgia a nova capital
    N'um throno que assentava em bases de christal.


III

    Que borburinho é esse? O Porto anda revolto?
            Que foi que se passou?
    Como é que invade a praça o povo irado e solto,
            Se tanto laborou
    El-rei, por tel-o em bens e liberdade envolto?

    Se ha tanto beneficio, exforços tão visiveis
            Em prol da causa publica,
    Como podem brotar reprovações sensiveis,
            Como é que a ideia nublica
    Não acha na Rasão um dique d'impossiveis?

    «O povo é desgraçado,» affirma a humana Historia,
            «Mataram-lhe o Direito,
    «E forçara-n'o a seguir a negra sorte ingloria,
            «Calado, contrafeito,
    «Pagando sem gosar, tecendo a alheia gloria!»

    Um dia, de repente, ergueu-se a reclamar;
            A ignara populaça.
    O monopolio rouba-a, era mister luctar!
            E logo, a plebea raça
    Reclama valorosa, em vez de supplicar.

    Mas o ministro excelso havia já disposto
            Das cousas do alto-Douro;
    Vivesse embora a Patria em noute de desgosto.
            Os cofres tinham ouro...
    Que importa se a Rasão traz lagrimas no rosto?

    Por isso se indignou o esteio da Realesa,
            E os raios da vingança
    Fabrica muito á pressa, e envia com prestesa
            Á popular esp'rança
    Fundada na intuição das leis da Naturesa.

    E após, hórrido insulto á crença humanitaria!
            Por um delicto falso
    Estende-se no Porto a rede sanguinaria,
            E o torpe cadafalso
    Arranca friamente a vida ao triste paria!

    Creanças sem vigor, rojadas sobre a rua,
            Forçaram-se a seguir
    O sacrificio immano, onde o valor recua,
            E a ver a mãe subir
    A via da amargura, e escarnecida e nua!

    E um homem venerando, um martyr impolluto
            Que a Consciencia chora,
    O bom Juiz do Povo, um bravo resoluto,
            Sereno como a aurora,
    Lá foi tambem lançado á morte, ao chão do lucto!

    O que ha que justifique o horror de taes supplicios?
            Que espirito medonho,
    Não treme ao ver a morte, açoutes, e os exicios?
            Não julga quasi um sonho
    Que um homem só, profunde infindos precipicios?

    Quem ha que não palpite em plena indignação
            Olhando um nobre velho
    Manchado pela affronta, exposto á impia acção.
            Pondo um lastro vermelho,
    Na terra onde semeia a intima afflicção.

    Quem ha que não suspire, ao ver a mulher casta,
            Violada em seu pudor,
    Pendida n'uma forca, e desnudada, e gasta
            Nas ancias do terror,
    Maldita pelo algoz, que á sepultura a arrasta?

    Se o Homem fôra um monstro, um tigre em sangue absorto,
            Comquanto fôra filho,
    Havia de exprobar ao potentado morto
            O mortuario trilho
    Que abriu com turvo affan no coração de Porto!

    Se a Mãe fosse mais fera ainda que a leôa,
            Comquanto fosse Mãe,
    Havia de olvidar o astro de Lisboa,
            Para escutar além,
    O brado perennal que pólo a pólo sôa!

    Ahi tens, ó Povo Luso, o heroe que agora incensas;
            Proclama-o democrata!
    Mas pesa-lhe a injustiça, os odios, e as sentenças
            E dize se arrebata
    Um nome que traduz as mais crueis offensas!
    ............................................

    E o titan que esmagava assim, rude e febril,
    Os braços da nação, os braços productores,
    Os ferros destruia ao escravo no Brasil,
    E baixava ao commercio os olhos protectores!

    Infando laborar! Contradicção tamanha,
    Que põe n'um ser vidente um tumultuoso abysmo,
    E nos traz á memoria a flórida montanha
    Que engendra no seu flanco o igneo paroxismo!

    Homem! Dizes-te o ser Supremo do Universo
    Quando és synthese só das leis da creação!
    És tu quem dás a luz, e estás na sombra immerso,
    Proclamas o Progresso, e dás a Destruição!

    Exhaures toda a força em busca da Verdade,
    Penetras com valor nos seculos remotos,
    E quando julgas ver a eterna claridade
    Surge-te frente a frente um turbilhão d'ignotos!

    Que vezes a inconsciencia ao Genio se avantaja!
    Que infrene marulhar na logica dos factos!
    E quando a Aspiração em nuvens de ouro viaja,
    Ha de chegar emfim aos desenganos latos.

    Buscae por toda a esphera a perfeição preclara;
    O Sol vigora a planta, o Sol requeima o fructo;
    A chuva banha o solo, a chuva innunda a ceara,
    A Gloria cria a Fama, a Gloria tece o lucto!

    A Ideia rasga a entranha á mãe commum, á Terra,
    E tira-lhe do ser, minerio, luz, sustento;
    Mas rola sobre o campo o carro eril da Guerra,
    E põe um muro espesso em face ao Pensamento.

    Os cyclos do passado, erguendo o reposteiro,
    Mostram em toda a linha o Bem e a Crueldade;
    E o Homem preso á rocha, é destructor e obreiro
    Que agora incensa á treva, e logo á Liberdade!

    Nos dramas do Universo ha sempre imitações
    O fado é perennal, a fórma é transitoria;
    Cada época produz idoneas mutações
    E ha pontos de contacto a escurecer a Historia.

    Se um dia a raça humana attinge os lisos portos
    De seus nobres ideaes, então, forte e sublime,
    Escalpellando á luz, heroes, fetiches mortos,
    Ver-lhe-ha nos corações crescer a flor do crime.

    E então, em vez de honrar ministros, generaes,
    Em vez de pôr n'um templo os grandes assassinos,
    Dará seu preito eterno ás leis universaes,
    E á Sciencia e Liberdade os mais sonoros hymnos!


IV

    Vem rompendo a manhã, dizem as aves
    Seus canticos tranquillos e suaves.
    As perolas da aurora, sobre as flôres,
    Parecem lamentar ignotas dôres;
    E a voz do pegureiro, nas collinas,
    De envolta com as phrases purpurinas
    Com que o espaço saúda a Humanidade,
    Tem um cunho supremo de saudade,
    Tem um ecco de angustia tão sentida,
    Como a corda de uma harpa, que, partida
    Expande pelo ether seus lamentos.

    Vem rompendo a manhã, nos movimentos
    Dos multiplos anceios luminosos
    Que agitam sem cessar a humana arteria,
    E transformam as lides da Materia,
    Parecem destacar-se uns sons dolosos,
    Que a Naturesa arranca das entranhas,
    E que vibram no valle e nas montanhas.

    E comtudo nos floridos caminhos
    Balouçam brandamente os doces ninhos,
    E reflectem nas limpidas correntes
    As nuvens azuladas, transparentes,
    Como um espelho brilhante da Consciencia,
    E as varzeas em virente florescencia
    Espalham pelo ambiente seus perfumes.

    Mas escutam-se ao longe alguns queixumes,
    Mas um grande alvoroto se aproxima,
    E parece que a aurora desanima,
    Que os doces rouxinoes tremem de susto,
    E pende a Naturesa o roseo busto!

    Quem é que vem então por essa estrada,
    Quando apenas desperta a madrugada?
    Que significa pois tanto tropel,
    Que quer dizer a angustia tão cruel
    Que pulsa ahi no seio universal?

    É talvez um factor do negro mal,
    Algum gigante audaz, filho da noute,
    Algum Attila ou Nero, rijo açoute
    Das coleras divinas, e illusorias,
    Que vem correndo as turvas trajectorias
    Do vicio, do rancor, do odio insano,
    Até rasgar o peito ao ser humano!
    .................................
    É um cortejo que segue... quem será!?
            Já passam muito perto...
    Que numerosos são! Que vejo!... Ah!
            Com passo frouxo e incerto
    Caminha uma mulher, em desalinho,
            Mais pallida que arminho.

    De um lado traz o padre, e de outro o algoz
            De ventas dilatadas
    E a estupida expressão de um ser feroz.
            As brancas mãos ligadas,
    Veem roxas das auras matutinas,
            E das correntes finas.

    Cinge-lhe o corpo esvelto a alva infamante
            Dos tristes condemnados,
    E ás vezes solta um ai tão lancinante,
            Que tremem magoados
    Os proprios corações mais rancorosos,
            E os monstros mais odiosos.

    Vem seguida dos filhos e do esposo,
            Santissima cohorte
    Que vae cahir tambem no seio iroso
            Da vingativa morte,
    Que o ministro do rei, fero e iracundo,
            Arroja sobre o mundo.

    Chegam junto do poste; ahi pára tudo.
            O algoz, sem mais respeito
    Bate no hombro á martyr; fica mudo
            O feminino peito,
    Varado pela intima agonia
            Da infrene tyrannia.

    «Levanta essa cabeça, infiel traidora!
            Ordena-lhe o carrasco;
    «Tu serás a primeira, que és senhora!
            E com medonho chasco
    Procura, um por um, os instrumentos
            Que servem aos tormentos.

    «Vê marqueza de Tavora--era a triste!
            «Que esplendidas tenazes!
    «Sabes quanta virtude aqui persiste?
            «São para os teus rapazes.
    «Applico-lh'as na cara, mesmo em braza,
            «E faço--taboa raza!

    «E as torquezes? São rijas de uma vez!
            «Agarram como o brêo!
    «Hão de arrancar os olhos ao marquez,
            «_Meu amo e senhor meu;_
    «E emquanto lhe correr o pranto amargo
            Protesto que o não largo!

    «Fidalga sem vergonha, olha os cutellos
            «Com que eu lhe parto as pernas.
    «Agarro-lhes depois pelos cabellos,
            «E, lanço-os nas cisternas.
    «Porém seu coração traidor, e infausto,
            «Dos corvos será pasto.

    «Vá! Morre descançada, morre em paz,
            «Que eu mato os teus tambem!
    «Vão todos para o monstro Satanaz!
            «E tu, que és boa mãe,
    «Deves nutrir os jubilos eternos
            «Por vel-os nos infernos!

    «Mas ouve, ouve mais; teu corpo amado,
            «Sou eu que o amortalho
    «Nos farrapos do opprobrio e do peccado,
            «E em cinzas o retalho.
    «E para mór despreso demonstrar
            «Atiro-as logo ao mar.

    «Recae-a em tua fronte todo mal,
            «Infamia e maldição!
    «Sepulte-se n'um torpe lodaçal
            «Teu limpido brazão,
    «E fique para sempre o nome teu
            «Mais vil que o de um judeu!»

    A martyr, com a vista erguida ao espaço
            Soffria silenciosa.
    Rodeia-lhe o pescoço o frio laço
            E a victima formosa
    E ao ver fugir da vida os aureos brilhos
            Só diz «Filhos, meus filhos!...»

    Ó mães! Que dôr suprema isto traduz!
            Que turbida epopeia!
    Ó povo soffredor, fóco de luz
            De onde irradia a Ideia,
    Medita; o que ha de mais cruento e féro
            No coração de um Nero?!

    Como é que desce tanto a raça humana?
            Como é que um Povo culto
    Supporta resignado a mão tyranna
            Que lhe arremessa o insulto,
    E deixa ir esmagando sob as lousas
            As filhas, mães, e esposas?
    ....................................

    Horas depois os martyres morriam
            Ás mãos do indigno algoz;
    Boatos na cidade percorriam
            Porém a plebea voz
    Produz-se eternamente no vazio...
            Por isso... não se ouviu!

    El-rei dava audiencia; ao seu ministro
            Fel-o marquez e conde;
    O premio era brilhante mas sinistro,
            E a Historia ainda esconde
    Os prantos que verteu, porque o terror
            Suffoca os ais á Dôr!

    Comtudo alguma cousa se levanta
            A protestar com ancia;
    Alguma aspiração sublime e santa,
            Em firme reluctancia
    Descobre ás gerações os negros rastros
            Dos portentosos astros.

    E chama-se Consciencia á eterna força,
            Que os seculos correndo,
    Sem que a linha traçada alguem contorça,
            Pharoes vae accendendo
    Nos angulos do turvo precipicio,
            Onde faz ninho o vicio.

    Em nome d'essa força que defende
            O fraco, o pobre, a creança,
    Gigante luminoso que se estende
            Da morte á loura esp'rança,
    É que eu reprovo a impia atrocidade
            Da velha sociedade.

    Sou democrata e mãe; procuro um norte
            De Liberdade e Gloria;
    Acceito essa revolta ardente e forte
            Que faz tremer a Historia,
    Porém condemno o immano desvario
            Que mata a sangue frio!
    ...........................................

    Que a lei arvóre o facho augusto do Direito,
    E vá depois cravar nos intimos do peito
            As garras da Inclemencia,
    Que a Lei fulmine a infamia e seja mais infame
    Que avilte e prostitua, e contra a ignavia clame,
            Revolta a sã Consciencia!

    Se o misero infeliz que pelas praças dorme
    Calcado pela dôr, medita o _crime enorme_
            De procurar viver;
    Se presa da afflicção divaga pelas ruas,
    Sem casa nem familia, ao frio, as costas nuas,
            E os prantos a correr;

    Se a esposa que implorou á sociedade honesta
    Um meio de vencer a fome, e a sorte infesta,
            Se encontra repellida;
    E para alimentar um filho, irmão ou pae,
    Arranca o seu diadema, e sobre as lamas vae
            Manchar-se, prostituida.

    Se o orphão que vegeta a par do vicio ignobil,
    Mais tarde é para o vicio o nauseabundo mobil,
            Se rouba e prostitue,
    Como ousa revoltar-se a sociedade vil,
    Se é ella quem provoca, e desbragada e hostil,
            Perverte e não instrue?

    Que pensamento assiste aos monstruosos codigos?
    Se os papas, deuses, reis, no crime hão de ser prodigos,
            Como é que a lei castiga
    Um ser vidente e bom, que aclara a escuridão
    Com o facho viril da leal Revolução?
            Como é que a Lei intriga?

    Como é que ella protege o roubador agiota,
    E arrasta na enxovia o desgraçado illota
            Que a fome fez baquear
    Nos pelagos do mal? Ó sociedade absurda!
    Á voz da Naturesa, a lei ha de ser surda
            E o odio ha de julgar!

    .........................................

    Matar uma mulher que é mãe, que é democrata,
    Assassinar sem dó a esposa aristocrata,
            Junto dos filhos seus,
    É por egual cruel, é por egual maldito!
    E havia de fazer chorar todo o infinito,
            Se acaso houvera um Deus!

    Por mim, que offerto o culto ao que é sereno e puro,
    Que adoro o Bem sublime, e odeio quanto é duro,
            Que não conheço a fé,
    Protesto contra a morte infausta de Antonietta,
    De Sophia, Leonor, Rolland, gentil athleta,
            De Tavora e Corday!

    A mão que referenda o crime da injustiça,
    Quando podia erguer da deleteria liça
            Um sol ou um jasmim,
    Assigna, sem pensar, o perennal deslustre
    De um seculo, de um nome, ou de um paiz illustre,
            Da Humanidade emfim!


V

    Como ha de pois a Historia olhar esse Gigante,
    Que tinha em si a morte, o Bem, a luz e o crime?
    Que ora se eleva a um mundo altivo e coruscante
    E logo gera um mal que a Gloria não redime?
    Elle era um diplomata, um patriota, um merito,
    Podia ser tambem um nobre benemerito
    Levando o Povo Luso ás concepções do Justo,
    Se em vez de ser feroz, de ter um genio adusto
    Voltasse ao sentimento um coração suave.

    Julgou que ser tyranno era o mister mais grave
            Do ministro de um rei!
    Fez um docel de sangue ao tribunal da Lei,
    Poz um manto de lucto aos hombros da Justiça,
    Pisou raivoso o clero, e foi ouvir-lhe a missa,
    E como affirmação da ideia monarchista
    Dos nobres ao plebeu traçou a rubra lista.

    Como ha de pois a Historia olhar o athleta ousado?

    Pesando com criterio os factos do passado,
    Seguindo passo a passo o luminoso accesso
            Da Sciencia e do Progresso.
    ........................................

    Ha muito que na Europa o sopro percorria
    Da clara discussão da sã philosophia.
    Desde o seculo doze, a duvida christã,
    Buscava escalpellar o craneo de Satan.
    Pierre d'Abelard examinara a crença,
    E via já na fé uma utopia immensa.
    Breve, Thomaz d'Aquino, imigo da Rasão,
    Antepunha ao Progresso a fera inquisição.
    Mas Bacon, um titan, repelle a fé-cahotica,
            E dando luz á Optica
    Recebe uma intuição da Sciencia positiva.
    Então larga a rotina, e só na lide activa
    Depoz a base firme á ideia demonstravel.
    Foi elle um ser vidente, e concebeu provavel,
    Toda a gloria vindoura; em seu nobre labor
    Meditava o progresso enorme do vapor;
    Mas como em sua frente a infamia não assoma,
    Foi um martyr da Sciencia, e victima de Roma,
    A eterna desbragada, a eterna prostituta
            Que as gerações enlucta.

    Mas o germen vingou; surgiu em breve a imprensa,
    Excelso meteoro, a realidade immensa
    Que faz de Guttemberg um centro luminoso!
    Ia baquear em terra um deus medonho e iroso;
    Ia a Ideia pulsar na mente e força do Homem!
            E como as trevas somem
    Os raios de um bom sol, assim o novo invento
    Abria par em par a estrada ao Pensamento!

    O Genio eternisava em breve a Pomponace,
    E o forte Rabelais batia face a face
    A escolastica, e a lei theocratica e politica,
    Bem como o abuso annexo á concepção juridica.

    A Patria lusitana, a joia do Occidente
    Á Europa mostra então o poeta Gil Vicente,
    Que açouta o clero hostil com látegos de risos,
    E nem sequer poupando os _santos paraisos_.
    Na praça era o judeu sujeito a atrocidades;
    Na côrte, D. Manuel escarnecia os frades.

    Havia pois de um lado a força da rotina
    E do outro a Ideia incuba a preparar a ruina.

    Mas n'isto um sobresalto os cerebros sacode,
    Roma chega raivosa, e vê que nada póde.
    Copernico affirmava a terrea rotação,
    Perdia o seu prestigio a _santa_ religião!
    Forçoso era impedir a affronta d'essa Idéa!
    O sabio ponderou, que outr'ora na Chaldéa
    Se havia já mostrado o movimento á Terra;
    Porém a Curia segue em furibunda guerra,
            E condemnou-lhe a obra.

    Mas eis um luctador que a força audaz redobra,
            E com coragem fria
    Procura no infinito as leis da astronomia.
    Inventa o telescopio e applica-o logo ao ceu.

    E o mundo olha assombrado o insigne Galileu,
            Que segue passo a passo
    O trajecto eternal dos mundos pelo espaço.

    Se ha nome que de Gloria esplenda no universo,
            É o d'esse velho nobre
    Que o clero punge e arrasta, em dôr, e pranto immerso,
            Mas que ao Genio descobre
    A esteira do futuro, a via dos heroes
    Que põem no Progresso os rubidos pharoes!

    A quéda do Oriente, estremecer convulso
    Havia dado á Ideia um vigoroso impulso,
    Civilisando a mente e pondo em toda a parte
    O gosto da Poesia, e pelos brilhos da arte.
    Então o aureo paiz dos inclitos varões
    Produz um sol gigante o esplendido CAMÕES,
    A synthese do Genio, um estro democrata
    Assombro dos Ideaes, talento que arrebata!

    Que bella actividade! Um cyclo era uma escola
            De sublimado intento!...
    Porém vê-se descer o manto de Loyola
            Por cima d'esse advento,
    E logo a aurora cae nas garras do terror,
    E logo a humana gloria exprime no estertor
            Que a prostra um assassino!

    Comtudo avança o Bem! Luthero, Huss e Calvino
            Feriram mortalmente
    O abuso, a tyrannia e o repugnante agente
            Das penas infernaes,
    Geradas no rancor das hyenas clericaes.

    A lucta assim travada é turbulenta e audaz!
    De um lado impera altivo o monstro Satanaz.
    E do outro a aspiração das comprovadas cousas.
    A aurora veste lucto, a terra veste lousas,
    E o sangue corre a flux no precipicio escuro...

    Mas elle fecundou os germens do Futuro!
    .......................................

    Keppler, Newton, Brahé, tinham desfeito o mytho
    Da creação divina; os livros do infinito
    Já tinham revelado, em phrases de planetas
    Da grande lei sidérea as deslumbrantes metas.

    Descartes ampliára as lucidas conquistas
    E profundára o abysmo ás vãs ficções deistas;
    E como o jesuitismo erguesse um throno ao mal,
    Surgiu-lhe o valoroso e hostil Blaise Pascal,
    Com satyra cortante e lucido criterio,
    Traçando-lhe no Tempo o eterno cemiterio.

    Desfibrava-se a pouco a lenda theologica,
    E punha-se a attenção na historia geologica,
    Gognel, Jussieu, Buffon, tinham rasgado a entranha
            No valle, e na montanha,
    Á esphera onde se agita o Genio e o desatino.
    Seguiram-lhe o trajecto um Pallas e Arduino,
            E todos, sem sentir,
    Fizeram o passado esmorecer, ruir.

    A antiga historia china oppunha-se á utopia
    Da lenda de Moysés; a sciencia cada dia
    Os cerebros levava á nova experiencia,
    Que em breve provaria á forte intelligencia
            A historia da Materia
    No mar, na vida, e morte, e sons, e luz etherea.
    ................................................
    Brotava na Consciencia a aspiração politica;
    Deixara a Inglaterra a fórmula mephitica,
            E em todos os sentidos
    Se pressentiam já os turbidos ruidos.
    Voltaire e Diderot entravam no futuro.
            Desmoronando o muro
    Que ainda protegia a treva e o fanatismo.
    Ficou pois fulminada a crença e o mysticismo!
    Nenhum abrigo havia aos golpes do alvião
    Vibrados pela firme e rija Evolução.
    Os reis, mesmo a sorrir abriam o jazigo,
    Onde ia sepultar-se o clero, o seu amigo,
    Sem verem que aluida a base do edificio
    Que tem por cima o odio, e em baixo o precipicio,
    Desaba fatalmente em multiplas bastilhas.

    Tinham sulcado o oceano as portuguezas quilhas,
    E o genio dos heroes deixara esteiras certas
    Á bella exploração das ricas descobertas.
    No clima luxuriante, e terras do Equador
    Eram a flóra e fauna os ninhos do esplendor,
    E o Homem que estudava, o Homem já sabia
    Que Deus era ignorante, e muito, em Geographia.
    ..............................................
    N'este mar revoltoso é que se eleva o homem
    Que uns coroam de luz, outros na campa somem!


VI

    O marquez de Pombal, producto do seu meio,
    Trazia na Consciencia o salutar anceio
            Das santas cousas bellas.
    Mas um facto mental, o facto do attavismo,
    Acorrentava-o sempre ao velho despotismo
            Dos thronos e das cellas.

    A corrente soprada além, da heroica França,
    Fazia-lhe pulsar a magestosa esp'rança
            Das creações mais caras;
    Porém n'esse combate imigo do Direito,
    Cedia tristemente á voz do Preconceito,
            E ás perversões ignaras.

    Demonstra-o fartamente o proceder confuso
    Com que arrojava ao Povo um turbilhão diffuso
            De mortes e afflicção,
    Curando juntamente, e com visivel gloria,
    De lhe aplainar a rude e fria trajectoria,
            Por meio da instrucção.

    Affirma-o sem rodeio o manifesto empenho
    Com que guerreou Bocage, o sublimado engenho
            Do seculo passado,
    Por seus bellos ideaes, modernos e atheistas,
    Expostos com vigor, e com profundas vistas
            De um espirito avançado.

    Comprova-o a friesa usada com Fylinto
    Que longe do seu ninho, o doce riso extincto,
            Chorava, em lyra de ouro,
    As ruinas da ventura, o azul do patrio lar,
    As aguas do Mondego, e as vibrações do luar
            Entre os jasmins e o louro.

    A ethopéa social dos seculos transactos,
    Reflecte-se e vigora em seus funestos actos.
    Fluctua sem cessar seu espirito viril,
    Que ora se eleva ao bello, ora se entrega ao vil.
    Mas n'elle transparece uma tendencia rude
            Que punge a leal Virtude!

    A statica mental aperta-a pelos pulsos;
    E a dynamica então imprime-lhe os impulsos
            Da progressiva lida;
    E assim n'este vaivém lhe corre toda a vida.

    Porém quando abordou á estancia derradeira
    Deixava atraz de si a sanguinosa esteira,
    Onde o espectro do pobre, e justo, e velho, e creança
    Reclamam com vigor criterio e segurança
    Ao tribunal da Historia, onde serão julgados
    Os sabios, os heroes, os reis e os scelerados.
    ..............................................
    Tenho attacado o clero, aspiro á excelsa luz,
    Detesto o ignobil lenho, e sinto por Jesus
    O affecto que daria a irmão, se irmão tivera,
    Venero o positivo, e nunca a van chimera.

    Meus filhos, castos soes, o meu thesouro immenso,
    Por quem me sinto grande, a quem adoro e incenso,
    As heras infantis que enleio na Consciencia,
    A força que me impelle á lucta da inclemencia
    Que aqui, n'este paiz de cousas pequeninas
    Odeia a quem cultiva as rosas christalinas
    No coração do Bem, Progresso e Liberdade,
    Seguem a religião do Justo e da Verdade,
            É a sua crença ideal,
    Resume-se no amor do seu sentir filial.

    Mas tendo a mente forte e despresando os idolos,
    E combatendo firme os monumentos frivolos,
            Politico-sociaes,
    Revoltam-me a Consciencia os actos tão brutaes
            Da vida do marquez,
    E vejo com tristesa o nome portuguez
            Coberto pelo horror,
    Quando podia ser um foco de explendor.

    A queda do jesuita é justa, é rasoavel;
    Expulsa essa barreira imiga insuperavel,
    Podia a sociedade erguer-se da ignorancia,
    Dormir em paz a Mãe, sorrir a loura infancia
    Ao Pensamento novo, a santa aspiração!

    É digno de louvor quebrar á inquisição
    Os braços da vingança a ira da torpesa.

    Mas cobrem-se de lucto as leis da Naturesa,
    Mas ouve-se um protesto, a palpitar fremente,
    Ao ver, cheio de affronta, um martyr impotente,
    Rojado pelo chão, manchado pela lama!
            E pelas nações clama
    A Ideia humanitaria, amena, e justiceira,
    Vendo arrojar um ente á estupida fogueira!

    E embora fosse um padre, embora um jesuita,
    Embora fosse irmão da raça atroz, precita,
            A minha voz sentida
    Protesta contra a morte imposta a Malagrida!
            Protesto! E emquanto houver
    Um coração de luz em peito de mulher,
    Meu brado ha de correr nos angulos do mundo,
            E em todo o mar fecundo!


VII

    Que se ha de então fazer aos grandes luctadores,
    Que lançam sobre a Historia as olorosas flores,
    E regam com seu sangue os fructos do porvir?
    Que fontes de esplendor iremos nós abrir
    Ao vidente Danton, a Lincoln, a Blanqui,
            O martyr que sorri
    Por entre a cerração da noute do tormento?
    Que havemos de offertar aos soes do Pensamento?

    Nunca apoiei Thiers, nem o chacal da Russia!
    Detesto a immanidade, e a vingativa astucia...
    O sangue da Communa, as lagrimas de Jessa,
    Formaram no silencio a fulgida cabeça
            Da indomavel revolta!

    O monstro que commanda, em meio de uma escolta
    As manobras crueis que geram a orphandade,
    É mais feroz que um tigre, e avilta a Humanidade,
            E deve ter na mente
    A infamia de Javheh, e os odios da serpente.

    Como hei de eu incensar a monarchista treva?
    Como hei de então louvar um ser de fronte seva?
    Pombal beijou a patria, e espedaçou-lhe o seio;
    Fez guerra ao Preconceito, e prostergou o anceio
            Dos crentes do porvir!
    Levou seu nome á Gloria, e fel-o após cahir.

            No sangue inda escorrega
    Quem segue a lusa historia. A sã Justiça nega
    Um preito, a quem desdenha a humanitaria via,
    E lança a Liberdade ás palhas da enxovia.

    Fique acima de tudo o limpido criterio;
    Formar uma cidade onde era um cemiterio
    Seria expôr a vida aos morbidos prejuizos.
    Vasar em molde infiel historicos juizos
    Será viciar tambem o pensamento ao Povo.

    Justiça! Ha de o vindouro escalpellar de novo
    A nossa actividade; e então... tremendo encargo!
    Ou ha de ter no peito um sentimento amargo
    Ou ha de achar mesquinha a obra dos avós!

    Salvemos o Futuro, e que elle creia em nós!


FIM






End of the Project Gutenberg EBook of O Marquez de Pombal á luz da
Philosophia, by Angelina Vidal

*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O MARQUEZ DE POMBAL ***

***** This file should be named 27255-8.txt or 27255-8.zip *****
This and all associated files of various formats will be found in:
        https://www.gutenberg.org/2/7/2/5/27255/

Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)


Updated editions will replace the previous one--the old editions
will be renamed.

Creating the works from public domain print editions means that no
one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
(and you!) can copy and distribute it in the United States without
permission and without paying copyright royalties.  Special rules,
set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark.  Project
Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
charge for the eBooks, unless you receive specific permission.  If you
do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
rules is very easy.  You may use this eBook for nearly any purpose
such as creation of derivative works, reports, performances and
research.  They may be modified and printed and given away--you may do
practically ANYTHING with public domain eBooks.  Redistribution is
subject to the trademark license, especially commercial
redistribution.



*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License (available with this file or online at
https://gutenberg.org/license).


Section 1.  General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works

1.A.  By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement.  If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.

1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder.  Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.

1.E.4.  Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

1.E.5.  Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form.  However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form.  Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8.  You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that

- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
     address specified in Section 4, "Information about donations to
     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
     you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
     does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
     License.  You must require such a user to return or
     destroy all copies of the works possessed in a physical medium
     and discontinue all use of and all access to other copies of
     Project Gutenberg-tm works.

- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH F3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund.  If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Its 501(c)(3) letter is posted at
https://pglaf.org/fundraising.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
[email protected].  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at https://pglaf.org

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     [email protected]


Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit https://pglaf.org

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including including checks, online payments and credit card
donations.  To donate, please visit: https://pglaf.org/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.


Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.


Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

     https://www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.